Por que as meninas desistem da matemática?
Nesta semana, em conversa com os dirigentes e pesquisadores do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), descobri uma informação interessante: as meninas desistem da matemática.
Explico.
Dados das olimpíadas de matemática realizadas pelo Impa com alunos de escolas públicas de todo o país mostram que as meninas são maioria entre os inscritos e entre os medalhistas nos primeiros anos do ensino fundamental.
A quantidade de meninas vai caindo ao longo dos anos até que, no ensino médio, despenca.
Nos últimos anos da educação básica há três meninos inscritos nas olimpíadas de matemática para cada menina.
E aí, claro, as medalhistas do sexo feminino também ficam restritas a um pequeno grupo.
Leia mais: Famílias ainda priorizam a educação dos filhos homens
A tendência de queda na quantidade de mulheres que lidam com números fica ainda mais acentuada no nível superior de ensino.
No Impa, por exemplo, há apenas uma mulher entre os 50 pesquisadores (que têm graduação, mestrado e doutorado).
Em que momento as meninas desistem da matemática? Ou por que elas desistem?
Há algumas tentativas de explicação para o fenômeno, mas nenhuma convence plenamente.
Dentre as respostas, há argumentos culturais e biológicos.
Uma das teorias defende que os próprios professores contribuem para o cenário, aceitando melhor os erros de cálculos das meninas e desafiando mais os meninos para os números.
É possível até colocar a “culpa” nos brinquedos. Alguém aí se lembra daquela boneca barbie que “falava” e uma das frases era justamente “detesto matemática”? Pois é.
Seja como for, a diferença entre os sexos existe. É preciso entendê-la.
Uma dica ao Impa é ir atrás das meninas que se perderam no caminho para entender os motivos. Pode render um bom estudo ou, pelo menos, algumas pistas.
Agradeço ao Impa pelo convite e pelo agradável dia que passei visitando o o instituto!
bem, eu sempre odiei matemática, mas não mais do que odiava física. e não tenho ideia dos motivos. mas lembro que tinha um professor de geometria, bravo, que me achava muito inteligente, ainda que eu fosse muito mal na matéria dele. ele dizia que eu era ótima em história, e isso bastava.
Livia, bacana. Eu gostava de matemática, mas apesar disso sempre fui incentivada às artes – coisa que nunca gostei, mas que é tida como “feminina”! Abraços, Sabine
Existem, sim, fatores de ordem sócio-cultural, mas não se pode negar um fortíssimo fator biológico operando nestas escolhas (talvez a tal boneca que falava não era nada além de um reflexo de algo que existe). Infelizmente, cientistas sociais costumam arrancar os cabelos quando questões biológicas entram em campo, e não tardaria para que surgisse um lançando mão de abstrações como “machismo” ou “patriarcado” para justificar completamente uma tendência de ordem biológica. O documentário norueguês “Brainwash”, de Harald Eia, é bastante interessante para tentar entender como estas diferenças entre gêneros surgem a partir da própria biologia e podem, aí sim, ser intensificadas ou diminuídas pelo ambiente sócio-cultural. É preciso tomar cuidado para não se cair em certo autoritarismo sob a desculpa de boas intenções. Talvez muitas destas meninas tenham simplesmente perdido o interesse, optando por outras coisas que as farão mais felizes.
Pois é, em matemática/lógica, não para todo f(x) é equivalente a existe não f(x). Se existe um mulher boa em matemática, é o suficiente para provar que se é mulher é ruim em matemática. Mas esse tipo de raciocínio, de que provavelmente a habilidade matemática é inata e determinística pelo seu gênero (e em outros países, como os EUA, isso também ocorre sobre a etnia, onde consideram os negros com QI médio menor, coisa que não vemos muito aqui) acaba por intimidar muitas meninas. Eu, pessoalmente, sempre fui uma alienada social na escola, de tal forma que muitos preconceitos da sociedade me eram desconhecidos até depois de entrar na universidade. Resultado: faço o que eu amo, engenharia de computação. Mas também amo física e música. Qualquer um dos três me faria feliz.
Gosto de falar pras pessoas sobre o primeiro ser humano a programar no mundo: Ada Lovelace, uma matemática e escritora inglesa.
Em uma pesquisa que li na revista Scientific American, falava que as minorias consideradas menos capazes em áreas científicas, no caso nos EUA eram as mulheres e os negros, iam pior em testes que pediam para marcar seu gênero/etnia no cabeçalho, do que em testes sem essa opção. Os psicólogos e médicos envolvidos na pesquisa disseram que o medo de ser avaliado e de poder errar, desmoralisando sua minoria, fazia com que parte da memória operacional, conceito neurológico que representa parte do cérebro onde são realizados os pensamentos conscientes, fica ocupado com o medo. Isso diminui a concentração de quem faz o teste e deteriora sua avaliação.
Eu mesma, certa época, após descobrir que muita gente achava que mulheres são piores em matemática e afins, comecei a ficar com mais medo de errar. Precisei de muita reflexão para começar a eliminar isso e ir tão bem na universidade quanto ia na escola (modéstia à parte, bem mais de uma vez na escola, fui a única a gabaritar provas de matemática). O medo de falhar acaba se tornando crucial para que aconteça uma falha.
Por fim, além de mim mesma, queria dar um exemplo de uma colega de curso, que tem três irmãs e todas foram pra área de exatas. E uma delas está fazendo mestrado, após se formar em engenharia aeronáutica no ITA.
Vamos crescer e incentivar as pessoas ao nosso redor para crescerem também!
escrevi errado na linha dois: “é o suficiente para provar que se é mulher é ruim em matemática” => é o suficiente para provar que nem toda mulher é ruim em matemática.
A parte maior do problema já citou: a família, quanto menos sociedade, acredita e investe nessas e depois, matemática precisa de dedicação, eis que os afazeres domésticos ocupam muito essas.
Fora que o ensino como todo é um desastre e mais propenso mesmo até assustar, quando aas meninas são as maiores vítimas. Imagine saber que uma equipe vai visitar sua escola e escolher alguns com nota baixa em matemática para pesquisa que pode até tirar sangue.
Deixo um pequeno informe no tema e quem quiser conhecer mais de matemática, principalmente para aprender e acompanhar sua criança, assim como quem ensine em qualquer nível, é só entrar em contato.
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ALGUMAS MULHERES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA (versão sem correção técnica), Nascimento, J.B., http://ciencianofeminino.blogspot.com.br/2012/04/algumas-mulheres-da-historia-da.html#links,
Essa chamada pública é de alta relevância, embora seja para amenizar e não para atacar suas causas.
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Chamadas públicas
Chamada Nº 18/2013 MCTI/CNPq/SPM-PR/Petrobras – Meninas e Jovens Fazendo Ciências Exatas, Engenharias e Computação
Selecionar propostas para apoio financeiro a projetos que visem estimular a formação de mulheres para as carreiras de ciências exatas, engenharias e computação no Brasil, combatendo a evasão que ocorre principalmente nos primeiros anos destes cursos e despertando o interesse vocacional de estudantes do sexo feminino do Ensino Médio e da Graduação por estas profissões e para a pesquisa cientifica e tecnológica. Os cursos de graduação a serem estimulados, na presente chamada, estão relacionados no ANEXO I.
http://www.cnpq.br/web/guest/chamadas-publicas?p_p_id=resultadosportlet_WAR_resultadoscnpqportlet_INSTANCE_0ZaM&p_p_lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-4&p_p_col_pos=1&p_p_col_count=4&filtro=abertas&detalha=chamadaDivulgada&desc=chamadas&idDivulgacao=4341
Isso vai se refletindo ao longo das etapas da educação. Dados evidenciam que nos cursos de física e matemática a grande maioria é homem. Defendi dissertação sobre a escolha da carreira docente e verifiquei que nos cursos de licenciatura em física e matemática da USP, embora a quantidade de mulheres seja bem menor que a dos homens, a probabilidade de elas serem professoras era muito maior que o dos homens. Parece que não é papel da mulher na sociedade ser pesquisadora, lidar com ciências naturais. Por isso, queriam a docência, algo visto como da área das humanas. A separação dos brinquedos é clara e mostra sim os papéis culturais dados a homens e mulheres. Soma-se isso ao fato de os empregos para homens serem mais bem pagos, atraindo os “provedores dos lares”, tal como a sociedade atribui o papel aos homens. Que bom que estamos enxergando essa questão. Assim, começamos a mudar esse quadro e termos, quiçá, uma sociedade com oportunidades e saídas mais justas para homens e mulheres.
Luciana, que bacana! Quando você defendeu a sua dissertação? Tenho interesse em lê-la! Abraços, Sabine
Defendi em 2012. Você pode obtê-la na página da USP: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-03092012-151346/pt-br.php. Os resultados que comento aqui estão no meio da dissertação, na parte de resultados. Espero ainda conseguir explorá-los melhor. Ainda há muito pouco trabalho brasileiro sobre essa temática.
Parece-me interessante investigar isso, mas o texto me pareceu algo muito básico, sem nenhum fundamento teórico. Como queremos fundamento teórico das pesquisas em matemática e no momento de estudar questões que extrapolam a matemática, ficamos só em hipóteses? Parece-me razoável pensar nas questões teóricas sobre o gênero e suas influencias no processo de ensino da matemática (e na aprendizagem tb).
Sugiro a leitura do livro: Relações de gênero, Educação Matemática e discurso – Enunciados sobre mulheres, homens e matemática (http://grupoautentica.com.br/autentica/livros/relacoes-de-genero-educacao-matematica-e-discurso-enunciados-sobre-mulheres-homens-e-matematica/591)
¨Recentemente, uma colega, aluna do doutorado em Matemática ¨pura¨ , em tom de lamento, contou-me que seu professor disse a ela e às suas colegas, todas professoras universitárias : ¨se vocês não entendem nem isto, então vão vender Avon¨
A CRÍTICA AO ENSINO DA MATEMÁTICA, Marisa Rosâni Abreu da Silveira, AMZÔNIA – Revista de Educação em Ciências e Matemática, V.2-n3-jul.2005/dez.2005,V.2-n.4 2006/jun.2006,
http://www.ppgecm.ufpa.br/revistaamazonia/vol_02/v02_p01.pdf, acesso maio/13
Professor João, obrigada pelo seu comentário. Que triste isso 🙁 Abraços, Sabine.
Olha, eu gostava bastante de matemática até o meu primeiro colegial, só que aí tive um PÉSSIMO professor a partir do segundo, fiquei de recuperação, não consegui mais entender e então desisti dessa área. Talvez se eu tivesse tido um melhor professor eu gostasse mais e escolhesse uma graduação de exatas.
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