As universidades da China podem ser as melhores do mundo?

Sabine Righetti

A China comemorou com alarde quando a Universidade de Pequim ficou em 45º lugar na última lista das melhores universidades do mundo do THE (Times Higher Education), o principal ranking de universidades da atualidade.

Ao que se sabe, a China tem uma política clara e agressiva para colocar algumas de suas instituições entre as top 50 da classificação, ao lado de universidades britânicas e norte-americanas.

Estar no topo da lista das melhores instituições de ensino superior demonstra status intelectual, prestígio e poder.

Para se ter uma ideia, o Brasil não tem nenhuma instituição entre as 200 melhores do mundo no THE (a USP estava em 158º, mas caiu no ano passado).

Mas as universidades chinesas podem mesmo estar entre as melhores do mundo?

Alguns especialistas dizem que não porque não há liberdade de pensamento na China. E, sem isso, não se faz uma boa universidade.

Ou melhor, sem liberdade de pensamento não se faz nenhuma universidade.

Esse debate voltou à tona recentemente quando o economista e ativista de direitos humanos Xia Yeliang foi demitido da mesma Universidade de Pequim, diz ele, por causa de perseguição política.

A universidade rebateu dizendo que não, ele era um mau professor mesmo.

Seja como for, o fato reacendeu o debate sobre a “qualidade” nas instituições chinesas.

QUALIDADE?

Há quem diga que as universidades chinesas são ruins, mas se saem bem em rankings universitários porque são focadas nisso.

Ou seja, elas conseguem pontos naquilo que os rankings levam em conta: produção científica em quantidade e qualidade.

Esse é o argumento, por exemplo, de Philip Altbach, diretor do Centro para Ensino Superior Internacional no Boston College (EUA).

Ele é um dos principais nomes da atualidade a defender a universidade para produção livre do conhecimento –coisa que as universidades chinesas estão longe de ter.

Para ele, os rankings universitários são avaliações tortuosas capazes de colocar um país sem liberdade de pensamento no top 50 na lista de universidades. E ele não deixa de ter razão.

E você? O que acha desse debate?

 

Comentários

  1. Torço para esta revisão acontecer. No Brasil mesmo as instituições estão impregnadas por viés ideológico de esquerda. Tive projetos recusados por não adotar algumas idéias.

    Espero que conhecimento seja sim sinônimo de liberdade, não de limitação.

  2. O argumento de Philip Altbach só é válido para certas áreas do conhecimento, em outras, há entendimentos que: muito brevemente os orientais, em geral (e particularmente os chineses), superarão os ocidentais. Na história do planeta (se é que se pode utilizar tal expressão) 80% do tempo os orientais estiveram à frente no conhecimento; os 20% do tempo em que a cultura ocidental (e também o conhecimento científico/filosófico) esteve à frente é(e foi) devido a certos fatores de vantagem competitiva (fatores estes que estão se “dissolvendo com o tempo”). Há quem esteja se dedicando em criar novos fatores de desequilíbrio (como eles estão se empenhando em buscar fatores que lhes deem a vanguarda), Mas a maioria da universidade ocidental ainda “dorme em berço esplêndido”.
    Américo Vieira
    D.Sc. COPPEUFRJ

  3. Pelo visto eles tem trabalhado para manter um alto nível, inclusive de aparência, coisa que rankings não server para medir… Pena que a liberdade não possa ser comparada a meros níveis internacionais

      1. Seria legal se você fizesse o mesmo, Marco. Cometer erros de gramática ao corrigir a gramática alheia é bem “deselegante”, digamos assim.

          1. Viu Marco? O Silvio percebeu o seu erro e César te corrigiu: “… aprenda A escrever antes de comentar.” “Herrar é u, mano! Kkkk

  4. Vcs viram recentemente as reportagens sobre as mães tigres chinesas e o sistema rígido de educação na China desde pequeninos. Isso explica em parte o “sucesso” notório de seus descendentes no Brasil mesmo. Há mais de 40 anos, eu tinha colegas descendentes de chineses que eram disparados os melhores. Por que? Por que treinam exaustivamente, horas de estudos, muito mais do que os 30 min que a grande maioria demora diariamente para fazer exatamente suas tarefas dadas pela escola. A Universidade é simples consequência de todo esse “processo educacional”. No Brasil temos excelentes talentos reconhecidos internacionalmente, porém fruto de esforços pessoais imersos num meio desfavorável para seu desenvolvimento. Acredito conforme já comentado de que a introdução da língua inglesa na universidade brasileira abrirá campos para mais estudantes e pesquisadores estrangeiros o que trará “benefícios” em nosso ranking, porém não nos iludamos, somos um país ainda com uma cultura heterogênea e frágil comparável a países subdesenvolvidos do ponto de vista de organização e valores. Mas a humildade em admitir isso já é um grande passo para continuar nossa luta de formar instituições e valores brasileiros dignos de orgulho.

  5. Acabei de voltar de um intercâmbio numa universidade chinesa e a experiência foi maravilhosa. Eles realmente estudam muito. Várias vezes pude notar que, ao sair à noite, os estudantes ainda estavam lendo pelo campus da universidade e quando eu voltava, por volta das 22h30, ainda encontrava outros lendo perto da luz. Lá, eles aprendem inglês junto com qualquer formação.

    1. É verdade, Daniela. Tive uma experiência parecida quando estudei nos Estados Unidos. Os chineses da universidade passavam a madrugada estudando. Abraços, Sabine

  6. Os asiáticos sempre foram um povo ou de muito trabalho , ou de muito estudo, não sei o que é certo, se é a pessoa se esforçar muito a vida toda e quando envelhecer perceber que poderia ter feito diferente, ou seja ter uma vida baseada em bens de consumo e dinheiro, o que é bom claro, mas não é tudo, ou ter uma vida com algum esforço e com conforto, não fazer do trabalho e do estudo um meio de vida, ate pq existem muitas outras coisas além de dinheiro , estudo e trabalho, a vida não pode ser vivida em função do poder de compra , podem reparar que tem sempre um chinês ou japonês feio com uma mulher bonita, isso é amor, ou seria puro interesse?

    1. quem estuda muito é falta de concentração no que faz, conheci um rapaz aqui no brasil que não gosta de estudar e tirou um um dos primeiros lugares na medicina da USP, só prestava atenção nas aulas, mas pegar um livro nunca. sera que os grandes pensadres de nossa antiguidade estudavam muito ou se dedicavam a logica da pesquisa. é um misterio não sei. eu por exemplo sou uma toupeira em tudo o que faço, é o que dizem. sou um zero a esquerda.

  7. O avanço científico e tecnológico decorre mais do método e da persistência, do que da genialidade. Os chineses poderão sim atingir a excelência em tecnologia, com uma liberdade relativa, com o incentivo maciço do estado. Mas o avanço no campo das ciências humanas, que permite fruir plenamente as regalias do avanço tecnológico e melhorar a qualidade de vida, infelizmente, não é possivel sem a liberdade política, sem o restabelecimento pleno dos direitos do homem. Uma Universidade é a soma de todas as áreas: exatas, tecnológia e a de “humanas”. Capenga em uma delas, não se consegue ir ao topo. É isso que eu acho, é isso que penso.

  8. No Brasil “liberdade de pensamento” é utilizada principalmente para não trabalhar o que em consequência determina
    a incapacidade de formar pessoas competentes para ensinar, portanto criticar os chineses pela procura de aperfeiçoamento é hipocrisia, independente do regime de governo deles. Nos falta espírito de grupo para ter status de cidadania que nos uniria para obter o melhor para o coletivo, mais justo,
    mais ético e aí mais humano. O povo não protesta contra a corrupção porque no íntimo gostaria mesmo é de obter as
    vantagens que ela traz praticando-a, e a falta de ensino compatível com o tamanho do nosso país e a sua importância estratégica no mundo, é o resultado disso.

  9. É interessante falar em “produção livre de conhecimento” quando se tem nas maiores universidades do mundo um total controle pelo saber. As pós são controladas pela ideologia dominante naquela pós, sem espaço para quem pensa diferente. É assim nos EUA, na Europa e no Brasil também. Tudo em nome de uma pretensa “qualidade”. Vão se formando as panelinhas e de lá saem as tão valiosas (re) produções acadêmicas, são as fábricas de ‘paper’, caminho este que o Brasil optou por seguir. Neste modelo não há espaço para a criação e para a diversidade. A não ser que sejam trabalhos acadêmicos patrocinados por grandes empresas com interesse nos resultados obtidos, onde é estratégico a criação de novas patentes. Daí vem os ‘Nobels’ da vida. Não sendo esta específica situação o novo não cabe na produção das ‘melhores’ universidades mundiais.

  10. Olha… sinceramente, me desculpe por aparecer aqui novamente para criticar outro artigo raso da articulista. Não sou do clube “não achou bom? Vai lá e faz melhor”, mas sim do antigo (e fora de moda) clube do “tenho vocação pra tal coisa; o que eu faço bem da tal coisa mostra por si minha vocação”. Aqui mesmo neste jornal vemos artigos que podemos até questionar o viés político do jornalista, mas raramente que o texto foi mal articulado. Clóvis Rossi e Jânio de Freitas escrevem por si só.

    Talvez a premissa do blog (“universidades, escolas e rankings”) é que seja rasa para uma área tão interessante, instigante e abrangente quanto a Educação, e a culpa seja minha mesmo por procurar profundidade nesse tema. Mas em todos os tópicos deste blog, até alguns que tem bons debates nos comentários, sempre se encontram as “palavras-chave”: USP – 158º do mundo (“uaaau!” como som de fundo); Universidades Americanas são (e serão sempre) insuperáveis; RUF/THE; “O que vale para os “Istêites” não vale para os chineses”. Entre essas palavras-chave tem sempre um bom tema explorado de forma bastante superficial, sempre dando a impressão de propaganda, seja da USP, do tal do RUF ou do “domínio do império” (pode parecer “exagero de esquerdista”, mas a forma como os americanos são expostos em todos textos em que aparecem se assemelham muito com propagandas imperiais).

    “Tá, sabichão! Então mostre onde o texto está sendo raso!”

    Vamos então resumir o texto:

    “As universidades da China podem ser as melhores do mundo?”

    Opinião contrária:
    – “Alguns especialistas (quem???) dizem que não porque não há liberdade de pensamento na China. E, sem isso, não se faz uma boa universidade.”;

    – “Seja como for, o fato reacendeu o debate sobre a “qualidade” nas instituições chinesas.” (as aspas já mostram, implicitamente, a opinião da articulista sobre as universidades chinesas)

    – “Há quem diga (de novo, quem???) que as universidades chinesas são ruins, mas se saem bem em rankings universitários porque são focadas nisso. Ou seja, elas conseguem pontos naquilo que os rankings levam em conta: produção científica em quantidade e qualidade. (ahnn… hein???). Esse é o argumento de Philip Altbach, diretor do Centro para Ensino Superior Internacional no Boston College (EUA) (aahhhh, enfim um nome!!! de um americano!!! Bom, com ele e a articulista, são dois contrários, apesar do “especialista” dizer que as universidades chinesas são ruins por terem boas notas nos quesitos avaliados pelo ranking. Bem simples, assim!).

    Agora vamos ver as opiniões favoráveis:

    – “A universidade de Pequim…” (pula; a opinião do instrumento avaliado não conta;)

    Mais alguém? Algum especialista? Algum articulista?

    Bom, manifestados todos, vamos aos fatos:

    – A economia chinesa é a segunda do mundo, crescendo em média 9% a.a.;
    – A tecnologia (de informação, automobilística, náutica e aeronáutica, espacial, etc.) chinesa é uma das mais dimâmicas e das que mais evoluem no mundo;
    – A engenharia civil chinesa é a melhor do mundo, atualmente;
    – A arquitetura chinesa é a mais premiada da atualidade;
    – Nos últimos anos, estudos premiados com o Nobel tiveram participação de pesquisadores chineses, além de um Nobel da Paz (para ativista político; mas era chinês) e um de Literatura;
    – É uma das únicas economias de mercado que valorizam mais o produto interno do que o importado dos “istêites”, inclusive na área da informação e redes sociais.

    Fontes: Google, BBC, Discovery Channel, Newsweek, New York Times, Science, etc.

    Bom, depois de tudo isso, creio que posso discordar dos especialistas no que diz respeito à qualidade das universidades chinesas e os formados por lá. Quanto à questão da “liberdade de pensamento”, convém desconsiderar esse pormenor enquanto ele estiver relacionado ao pensamento capitalista neoliberal, que é válido, como mostram todas as outras potências mundiais, mas não é o único caminho. O fato da falta de “liberdade de pensamento” incomodar apenas por ser o país do “comunismo capitalista”, e não de capitalismo puro como países africanos em regime de ditadura militar – e a Grécia, por que não? – não é uma questão, ao meu ver, que faça as universidades chinesas perderem valor na avaliação fria dos critérios de rankings universitários mundiais. Os fatos mostram motivos bem mais concretos.

  11. A excelência acadêmica que os chineses procuram é na área científica para servir de apoio ao crescimento econômico do país. Nada a ver com o academicismo-proselitista-ideológico – vulgo, Ciências Humanas – dos ativistas políticos/ideológicos.

  12. Professor que escreve para cumprir a meta de publicação de papers é como aluno que estuda para passar na prova: pode ter sucesso, mas raramente vai contribuir para o avanço da ciência. Enquanto existir critério quantitativo, vai haver professor que publica qualquer coisa só por publicar; mas sem critério, vai haver quem não faz nada. Da mesma forma que há aluno que só estuda para a prova, mas sem prova vai haver aluno que nem isso estuda.

    Na China a pressão para publicar é mais forte, mais centralizada, como é de esperar num regime de tendências comunísticas. No Brasil existe a pressão vindo das burocras, mas é mais avacalhada, como se espera no país do jeitinho.

    Então a probabilidade é a China subir nos rankings, mesmo com a maioria da produção científica sem muito valor. Mas pela quantidade a massa de pesquisadores juntos devem acabar produzindo algo de qualidade.

    No Brasil em comparação os grandes avanços vão depender do talento individual, do craque. Vamos esperar que aconteçam os Romários da ciência!

  13. Há todo um conceito relacionado a world class universities. Conhece-lo bem é fundamental para se discutir a capacidade ou nao das instituições chinesas figurarem com destaque neste tipo de medição abordado no artigo. Sugiro à articulista ler “The Challenge of Establishing World-Class Universities”, de Salmi, publicado por The World Bank.

    1. Oi, Juliana. Eu conheço o artigo, ele é parte da literatura da minha tese de doutorado, que é sobre o assunto. Abraços e obrigada pelo comentário, Sabine

  14. ESTATÍSTICAS CIENTÍFICAS ALARMANTES, ARTIGO DE NAGIB NASSAR
    Nagib Nassar é professor emérito da Universidade de Brasília. Artigo enviado ao JC Email pelo autor.

    [ Em sua última edição (Outubro de 2012), na página 37, a renomada revista Scientific American publicou um artigo com dados sobre os ‘Melhores Países na Ciência’. Nele, me chamou atenção que o Brasil está situado na sétima posição em número de doutores formados, na frente de países tradicionalmente reconhecidos nesta área como Canadá, Espanha, Austrália, Suécia, Suíça (12º lugar), Polônia, Holanda (14º lugar), Áustria, Bélgica, Finlândia e Dinamarca (24º lugar).]

    http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=84791

  15. “Alguns especialistas dizem que não porque não há liberdade de pensamento na China. E, sem isso, não se faz uma boa universidade.”
    Deve ser por isso que o Brasil nem aparece no placar das melhores.

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