Quantas universidades você visitou antes de escolher a sua?

Sabine Righetti

Já me fizeram essa pergunta algumas vezes: quantas universidades você visitou antes de escolher a instituição na qual estudou? No meu caso, assim como acontece com a maioria dos brasileiros, a resposta não tem rodeios: nenhuma.

Fui estudar em uma universidade pública do interior de São Paulo sem saber o que o curso oferecia, como era o campus, quais eram as perspectivas de trabalho após formada e como a universidade estava colocada em relação às demais do país. Foi uma decisão completamente às escuras, com altíssima chance de dar errado. Por sorte, deu certo.

Aqui nos Estados Unidos, onde estou nesse momento, um estudante de uma universidade de grande porte visita, em média, estima-se, de dez a 20 universidades antes de escolher onde estudar. Avalia tudo: o campus, a moradia estudantil, formas de financiamento (aqui todas as instituições são pagas) e até o perfil do egresso.

Isso é importante porque cursos iguais podem ter focos completamente diferentes dependendo da instituição.

Quer um exemplo? Os cursos de engenharia de Yale (Connecticut), Carnegie Mellon (Pitttsburgh) e Santa Clara (Califórnia), por exemplo, são completamente diferentes. O primeiro tem um foco mais executivo –saem de Yale grandes líderes de empresas  (e, de vez em quando, algum presidente dos EUA, como George W. Bush). Carnegie Mellon tende a formar aqueles que vão encabeçar pesquisa e desenvolvimento no setor privado. Já Santa Clara, sob o slogan “engenharia com uma missão”, tem um foco mais social e passagem obrigatória pelo Frugal Lab, que desenvolve projetos inovadores de baixo custo em países em desenvolvimento.

São perfis de cursos completamente diferentes. Quem visita essas universidades acaba descobrindo isso.

Durante a pesquisa que estou fazendo aqui nos EUA, encontrei alguns estudantes de ensino médio de passagem pelas universidades por onde andei para avaliar onde deveriam estudar. A maioria estava com os pais. Alguns tinham reuniões marcadas com professores e até com diretores de departamento das universidades. Faz parte da rotina desses profissionais conversar com os alunos em fase de tomada de decisão.

CALIFÓRNIA

Mas, claro, nem tudo é assim tão racional. Entre os critérios de escolha desses estudantes entram na conta fatores que não lá muito a ver com qualidade da escola –mas que podem impactar a produção acadêmica dos alunos. Muita gente pode escolher Santa Clara no lugar de Carnegie Mellon simplesmente porque a Califórnia é uma região mais agradável que a gélida e (na maioria das vezes) nublada Pittsburgh. Besteira? Não. O clima tem um impacto importante na produção acadêmica dos estudantes. Tem gente que simplesmente não consegue se adaptar em locais de muito frio e longas temporadas de neve.

E há outros critérios. Alguns estudantes preferem as escolas menores, com um ou dois cursos, por exemplo. Nessas instituições, a relação aluno-professor costuma ser mais próxima e os estudantes acabam formando uma espécie de “família”. Outros querem os campus universitários do tamanho de cidades, com prédios enormes afastados por áreas arborizadas.

Curiosamente, a pesquisa pregressa feita pelos estudantes de ensino médio dos EUA não resulta em menores taxas de evasão. Estima-se que 40% dos estudantes não terminem seus respectivos cursos nas universidades norte-americanas. O principal problema é financeiro –aqui nos EUA todas as instituições são pagas e, recentemente, as taxas estão subindo mais rápido do que a inflação do país.

Já no Brasil, conhecer os cursos e as instituições de ensino pode ser importante para reduzir as taxas de evasão locais, que giram em torno de 25% de evasão no ensino superior público –e chegam a 40% em cursos noturnos ou licenciaturas. Nas universidades brasileiras há pouca ou nenhuma mobilidade entre cursos da mesma instituição ou entre instituições. Um aluno que entra em engenharia na USP dificilmente consegue mudar para economia, por exemplo. Quem desiste da universidade no Brasil alega, em geral, que errou na escolha do curso ou da instituição.

Pois bem. Estamos entrando em época dos processos seletivos para as universidades do Brasil, como vestibular e Enem. Se você estiver pensando em fazer alguma universidade, já fez sua pesquisa para decidir onde estudar? Conte para o blog!

 

Esse post foi escrito de São Francisco, nos Estados Unidos, onde estou conduzindo uma pesquisa sobre educação, inovação e empreendedorismo com apoio da Fundação Eisenhower.