Universidades mais conhecidas se saem melhor em pesquisas de opinião?
Muita gente reclama que pesquisas de opinião tendem a destacar as instituições mais conhecidas e, com isso, elas ficam ainda mais conhecidas. Sim, isso é verdade.
Vamos analisar, por exemplo, o caso da USP. A instituição foi amplamente mencionada pelos avaliadores do MEC e por empregadores nas duas pesquisas de opinião conduzidas pelo Datafolha para o RUF (Ranking Universitário Folha). Com isso, a USP será ainda mais lembrada e ainda mais citada nas pesquisas seguintes.
No mundo científico, isso tem um nome: “efeito Mateus”. A referência é a Mateus que, na Bíblia, diz: “a quem tudo tem tudo será dado”.
Trocando em miúdos: quanto mais uma instituição for reconhecida pelo seu mérito, mais recursos e benefícios ela tende a receber.
Esse termo foi criado pelo sociólogo da ciência Robert Merton, em 1958. (Quem quiser saber mais sobre isso pode ler o artigo original dele, em inglês).
Rankings universitários internacionais incluem pesquisas de opinião em uma tentativa de fazer com que as análises não fiquem apenas quantitativas. Ou seja, a resposta dos entrevistados é uma informação qualitativa que acrescenta a análise de dados como quantidade de artigos científicos publicados pelos docentes.
Resta saber se a percepção que se tem de uma instituição corresponde à realidade.
Eu acho que sim. O perigo dessa “tradição” é uma instituição não perceber um possível processo de obsolescência e ter um posicionamento favorável, mas junto aos seus “clientes” que hoje podem ser as empresas que contratam seus alunos, não ter tanta participação no mercado quanto deveria. Talvez isso leve a instituição a perder vantagem competitiva.
Talvez a solução seja fazer um ranking que separa as instituições consagradas das “revelações”.
Em relação à USP, a questão é se a qualidade dos diversos cursos é uniforme. Existe este estudo?
Denys, obrigada pelo comentário. A USP está em boas posições em 29 dos 30 cursos analisados. Só não aparece em serviço social, curso que não possui!
Únicas universidades públicas de respeito no Brasil são USP e Unicamp. As federais depois do REUNI do governo federal só ampliam cadeiras e a infraestutura cada vez mais precária nas antigas e inexistêntes nas recém criadas. Por isso são conhecidas hoje como federais sucateadas. Só não estão pior no ranking por conta da nota do enade (que usp não participa e perdeu pontos). Aliás, considerar uma prova ridícula como a do enade é também ridículo.
Tendo a achar que percepção reflete imagem. Imagem reflete algo que houve no mundo real, ou extrapola a respeito.
O “que houve no mundo real” pode refletir uma performance passada. Assim como um curso que foi muito ruim pode demorar muito a ter sua melhora percebida, um curso que foi muito bom pode demorar a ter sua piora percebida.
O “extrapola a respeito” me parece mais complicado. Se uma grande universidade tem cursos de engenharia prestigiados, a boa imagem da universidade se estende também a cursos, digamos, de comunicação – que geralmente costumam não estar no mesmo nível de excelência.
Outro problema é a extrapolação anedótica. Universidades mais tradicionais, com processos de seleção mais rigorosos, selecionam alunos que já vêm melhor preparados. Aí, mesmo quando o curso específico que eles fazem não faz jus à reputação da universidade, o aluno sai com alguma vantagem em relação ao aluno de universidades menos rigorosas na seleção. Quando ele chega ao mercado de trabalho, pode gerar uma boa percepção imerecida de onde estudou.
(Nas humanidades essa distorção parece mais fácil do que em carreiras onde não dá pra enrolar sem matar alguém – nelas, a curiosidade do aluno pode compensar a fraqueza do curso.)
Marcelo, há casos curiosos.Um pesquisador dos EUA descobrir que especialistas tendiam a avaliar bem universidades boas, avaliar mal universidades ruins e avaliar como medíocres universidades… que não existiam. Vale a pena prestar atenção nisso!
Sim, mas uma universidade é uma abstração. A excelência em medicina não implica excelência em ciências sociais, por exemplo.
Sim, por isso é interessante avaliar isoladamente os cursos! abraços, Sabine
“Tendo a acreditar que se uma instituição é mencionada como boa por entrevistados diferentes é porque ela (além de ter uma boa imagem) deve ser realmente boa.”
Sério? Céus.
Gabriel, de acordo com especialistas em percepção, esse tipo de pesquisa tende a refletir dados objetivos de qualidade. Nem sempre, claro. Teremos em breve uma reportagem na Folha sobre isso. abs.