Entenda por que países com melhor educação são menos corruptos

Sabine Righetti

O dilema é o mesmo do ovo e da galinha: países com melhores níveis de educação atingem tais patamares porque são menos corruptos ou são menos corruptos porque têm melhores níveis de educação?

De acordo com um especialista com quem conversei para escrever uma matéria sobre esse assunto, Rafael Alcadipani, da FGV, são as duas coisas. Trata-se de um sistema que se retroalimenta.

Com menos desvio de dinheiro, sobra mais dinheiro para educação. E como uma sociedade mais bem educada acompanha, participa e cobra mais do governo, a corrupção tende a diminuir.

Foi o que chamamos de “círculo virtuoso positivo”.  E, nesse círculo, tudo tende a funcionar bem.

Na Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, Suécia e Noruega, os governos são mais honestos e as escolas são boas. Mas não é só isso: o transporte público é bom, os hospitais são bons, as universidades são boas.

“Nesses países, a educação funciona porque tudo funciona. E tudo funciona também porque há menos corrupção”, diz Alcadipani, da FGV.

MÃO DUPLA

Essa correlação entre corrupção e educação me foi cantada pelo promotor de Justiça em São Paulo Roberto Livianu, doutor em direito pela USP com uma tese sobre combate à corrupção e criador da campanha “Não Aceito Corrupção”.

Depois de uma conversa com ele, resolvi cruzar os dados do Pisa, um exame feito pela OCDE  a cada três anos em 65 países, com  o Índice de Percepção de Corrupção Mundial feito  anualmente pela ONG Transparência Internacional em 177 países.

Os dados mostram que países que estão no topo da avaliação do Pisa também estão entre os menos corruptos.

O Brasil está na segunda metade para baixo nas duas classificações: 58º lugar avaliação do Pisa (de matemática) e em 72º lugar na lista dos países corruptos.

Como desvia muito dinheiro, os governos acabam investindo menos em escolas. E com educação muito ruim para a maioria da população, a sociedade cobra menos do governo.

Por isso o Brasil precisa melhorar nos dois quesitos urgentemente.

 

Aproveito o primeiro post do ano para agradecer o carinho dos leitores em 2013. Vamos continuar juntos discutindo educação neste ano! 🙂

Comentários

  1. Adorei o seu artigo,Sabine.Concordo com trocadilho “só há menos corrupção por que se investe mais em educação e só há educação porque há menos corrupção”em certos países.Bem que esse trocadilho poderia se aplicar aqui no Brasi.Quem sabe há muito já teríamos atingido aos patamares dos países do primeiro mundo em todos os aspectos positivos em todos os setores.Espero que,depois das prisões dos mensaleiros,as coisas tomem um novo rumo nesse sentido no Brasil.Espero que os movimentos sociais que sacudiram o país em 2013 tenham semeado a boa semente que germinará nas mentes dos cidadãos e que eles a façam valer na hora de votarem e também na cobrança das promessas de campanha,dentre outras coisas.Assim,você bem como todos os que aqui escrevem,poderão colaborar e muito no sentido de iluminar a abrilhantar as nossas mentes com suas ideias e palavras maravilhosas.Obrigado.Abração,saúde e paz e feliz 2014!

  2. a efetividade do artigo foi notória, com isso, seria interessante se os nossos políticos alinhassem governança e governabilidade em prol de uma sociedade mais digna e fraterna.

  3. Sim, existe uma relação baixa educação-corrupção. Mas a conclusão do artigo não resolve a equação. Corrupção se combate com Justiça. Criminosos devem ir para a cadeia, sejam porque atropelaram e mataram no trânsito quando estavam embriagados, sejam porque carregavam 450kg de cocaína em seus helicópteros e sejam porque são corruptos. Desvio de dinheiro público é provocar genocídio. Reduz verbas para educação, saúde e transporte. E essa raça que provoca genocídio não devia ter perdão. É só encarcerar o corrupto, e fazê-lo cumprir penas rigorosas, sem direito a semi-aberto, prisão domiciliar e frescuras afins que, então, o ‘risco do negócio’ aumenta e a corrupção diminui. O corte do problema começa na Justiça. E a Justiça no Brasil é doente. Logo, temos uma sociedade doente.

    1. Geraldo, concordo. Mas talvez a justiça seria mais eficiente se a sociedade cobrasse, não? Abraços e obrigada pelo comentário, Sabine

  4. Sem dúvida que somos pouco “cobradores”, sobretudo por conta “da pouca educação” do nosso povo, mas em relação a “corrupção”, acredito que falte um melhor funcionamento do “sistema de segurança pública no país”, e na ponta uma maior celeridade do “nosso Judiciário”, setor do qual pouco se cobra, inclusive a própria imprensa. Qual o diagnóstico, estrutura física e de pessoal, por que não temos uma “estatística da produtividade do Judiciário por Comarcas. O cidadão precisa ter medo de cometer o ilícito, isso transforma a vida das pessoas em sociedade, e preserva de forma efetiva o direito de ir, vir e pensar. Finalmente, mais importante que as leis, é a expectativa de punição. Um ano com menos violência, inclusive corrupção.
    Ildson Moreira

  5. Um povo mais educado tende a não acreditar em conversas fiadas, promessas vazias e mentiras disfarçadas de grandes verdades. Curiosamente os países citados são os mais ateus.

    1. São, também, os países com as maiores taxas de suicidio do mundo! O pensamento de pessoas vazias, ativistas do nada, que complicam as coisas. Querem mover o mundo sem sair do sofá!

      1. Porque tanta irritação, Luizinho? O ano mal começou e você já está irritado e atacando. Tire a frase “Curiosamente…” do meu comentário se isto te faz se sentir melhor.

        1. Em nenhum momento me senti irritado (smile!). Ao contrário do que vc diz, tenha um ótimo 2014, assim como o meu está sendo. Eu me esqueci de utilizar o termo “curiosamente” no comentário, desculpa.

  6. O problema é que a corrupção para os brasileiro é tratado como um mal menor. É
    só verificar na imprensa, principalmente na internet, as várias intervenções a favor dos mensaleiros. Gostam do lema: rouba mas faz.

  7. O tema foi tratado de maneira bastante sucinta e clara, parabéns.
    Nosso país encontra-se mais para o final da lista entre os mais corruptos, em duas pesquisas diferentes, algo que nós sabemos, mas geralmente não conhecemos os parâmetros para comparar.
    É a primeira vez que acesso esse blog e achei bastante interessante o tema e o texto, acompanharei daqui em diante.
    Parabéns novamente pelo trabalho e bom 2014.

  8. Tôdo efeito possuem uma causa, a análise da corrupção em nosso pais ,foca nos efeitos da corrupção , a educação é um destaque importante, mas a cultura,e a formação civica do nosso povo é crucial,do Brasil côlonia,Brasil republica, Brasil Democratico, o nivel da formação psicologica no que abrange civismo,patria , nação, é estarrecedor ,nunca tivemos um projeto de nação, sociedade divida por interesses,massa de miseravéis,este é o caldeirão social que foi temperado pelo roubo,corrupção,peculato,vantagens, salve quem puder , isto é nossa realidade que começa a mudar! porque o Brasil velho pertence ão passado!

    1. Seu comentário é o mais próximo a realidade. Educação por educação, não resolve o problema. Um país deve formar em primeira instância um cidadão e não um ” bando ” de tecnicos apenas para trabalhar para os grandes grupos . Acredito que nos próximos cinquenta anos , esta situação deve melhorar. Ainda me choca , quando observo pessoas com saudades do regime militar. As pessoas não tem noção que a mudança em uma estrutura educacional demora decadas. O processo atual, foi iniciado no anos setenta, no sentido de formar apenas tecnicos e não cabeças pensantes . Na verdade, necessitamos de ambos . A massificção implementada pelos militares foi a semente que destruiu o processo educacional brasileiro . Aliás , de grande interesse da nossa elite ” suja ” . A mesma que torce o nariz, quando observa pessoas de classe pobre com possibilidade de realizar viagens de avião. Enfim, há um longo caminho a seguir . Este problema , ainda passa pelo rompimento das captanias heriditárias do Nordeste Brasileiro .

  9. Sabrine alem do fato do maior investimento em edução gerar qualidade, quando temos menos corrupção, há também a própria possibilidade de vivência e convivência mais humana, da construção de valores e perspectivas que se dão também no campo da educacao formal e informal e que contribuem para uma convivência mais sadia e menos corrupta. Fato que reforça a tese do ovo e da galinha citada por você.

  10. Excelente texto. Infelizmente, não é uma equação simples de ser resolvida, mas é sem dúvida essencial para que possamos evoluir enquanto nação. Passam-se os anos, mas o “pão e circo” ainda persiste, não por acaso. Mas cabe a nós darmos o primeiro passo e cobrar e muito, do governo. Parabéns e muito sucesso em 2014.

  11. Eu li este artigo com grande prazer, não apenas por se tratar de um assunto que dependa de discussão imediata e resoluções efetivas, mas pelo fato de ter discutido sobre isso a menos de 2 dias e nesta discussão surgiu uma dúvida: devemos cobrar aulas de ética no ensino público? Você que é craque, Sabine, me ajude.

    1. Moisés, eu defende que devemos ter, sim, ética, cidadania e outras disciplinas relacionadas no ensino público e no privado. Sempre exemplifico dizendo que nunca aprendi a fazer imposto de renda na escola. Aliás, nunca ouvi falar em imposto de renda. Desconhecemos o nosso sistema de impostos, o nosso papel nesse sistema, não aprendemos a participar. Não temos sequer educação política – o que ficou claro com as manifestações de junho. Espero ter ajudado um pouco. Abraços e obrigada pelo comentário, Sabine

  12. Como já dizia Allan Kardec (que foi educador): “A educação, se bem entendida, é CHAVE DO PROGRESSO MORAL. E sem progresso moral não há progresso social. A miséria social é reflexo da miséria moral. Portanto, a educação é a chave para que o Brasil se torne uma grande nação, sem corrupção e onde possamos viver a verdadeira Justiça Social.

  13. Diversos órgãos públicos e empresas da iniciativa privada também se engajaram na luta contra a corrupção, entretanto enfrentamos forte obstáculo nesse país que é a questão da punibilidade. O poder executivo e o judiciário aplicam as leis atuais que são antigas, brandas, demoradas, contraditórias, etc. Então o problema está em termos leis simples, eficazes e realistas conforme anseios da sociedade atual. Quem tem essa incumbência? Poder Legislativo !! Se eles se preocupassem menos em formar CPIs e mais sentarem a mesa para reformulação de leis penais, comerciais, tributários, civis, etc talvez possamos ver uma luz no fim do túnel. Corrupção sem punição efetiva é continuidade.

  14. Artigo simples e esclarecedor, gostei bastante!!!Sob outro ponto de vista, dá para crer que somos uma sociedade “condenada”, pois melhorar os dois quesitos parece ser algo impossível! Esse país passou a acreditar em sua própria Grande Mentira! Se você, como cidadão, idealizar algo que ajude nessa melhora, traça um pacto doloroso com a Má Vontade. Super desanimador…

  15. Estranho artigo! No Brasil os que mais roubam são os que tem as melhores educação e normamente conseguidas no exterior…

  16. Melhorando a educação, melhora tudo. Mas no Brasil há um problema cultural de tolerância a desvios de conduta que vão desde a uma furada de fila até a corrupção. Sobre isso já foi dito que 10 % praticam, 10 % se indignam e 80 % fazem vista grossa.
    Mas concordo com a tese veiculada no post. Mais educação vai arrastar, aos poucos, estes 80 % para o lado da indignação (hoje diria que estão mais tendentes a engrossar a fileira dos infratores).
    Concordo tanto que sugiro que seja deletado! Não se pode correr o risco de algum corrupto desavisado ser alertado!

  17. Eu surfo on-line mais de 3 horas nos dias de hoje, mas de modo algum tenho encontrado qualquer textos que chama a atencao como o seu. Pessoalmente, se todos os proprietarios de site e blogueiros fizessem um excelente artigo como o que voce fez, a internet seria demasiadamente mais util do que hoje.

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