Cada vez mais interdisciplinar, Fuvest desafia candidatos

Sabine Righetti

Professores, coordenadores pedagógicos e diretores de escola com quem conversei ontem foram unânimes: a prova da segunda fase Fuvest foi interdisciplinar “mesmo”.

O que significa isso?

Basicamente, significa que a prova tinha o objetivo de misturar várias áreas do conhecimento em uma mesma questão –e misturou mesmo.

A prova de ontem, por exemplo, trazia uma questão de matemática sobre análise combinatória (dos senadores do país) e, de quebra, exigia conhecimentos de geografia.

Sem forçar a barra, a questão conseguiu exigir duas disciplinas que costumam ser tratadas em caixinhas separadas na escola –a matemática e a geografia — em um assunto só.

Como disse Luís Ricardo Arruda, coordenador do curso pré-vestibular Anglo, não foi uma interdisciplinaridade forçada. “Foi uma interdisciplinaridade real, que exigia conhecimento em pelo menos duas áreas.” (leia mais sobre a prova aqui).

QUESTÕES MISTAS

Ao que parece, a Fuvest, que seleciona alunos para a principal universidade do país, a USP, está se aprimorando na interdisciplinariedade.

Questões “mistas” já aparecem em cerca de 10% da primeira fase do vestibular e, agora, dominam a segunda fase.

Essa moda começou com o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que se propôs a avaliar  “competências” e não conhecimentos específicos no seu exame nacional.

Por exemplo, a competência de comparar diferentes períodos históricos (leia sobre isso aqui).

O exame traz cada vez mais questões que misturam áreas do conhecimento.

“Tudo mudou. O Enem acaba com a lógica de disciplinas rígidas como biologia, química e física”, disse-me uma vez Silvio Freire, diretor de ensino médio do colégio Santa Maria, que fica na zona sul de São Paulo (leia matéria aqui).

A prática foi elogiada, reproduzida nos vestibulares e chegou à Fuvest.

EM CAIXINHAS

O problema é que a maioria das escolas ainda dá aulas “em caixinhas”.

Os alunos têm professores de biologia e de matemática, separadamente. Esses professores, inclusive, são formados em graduações diferentes.

Será que estamos mesmo prontos para fazer exames interdisciplinares como da Fuvest e do Enem?

 

Comentários

  1. esta cada vez mais exigente!!!!!!!!!!!!!!!! e isso ai ;mas tambem me pergunto sera que estamos prontos?

  2. A formação deve ser específica, é essencial para a disciplinaridade, condição para que exista a integração. Como aprender a integrar é a questão da formação do professor e da atuação pedagógica.

  3. Precisam complicar menos, de que adianta testar candidatos, dificultar tanto a entrada na faculdade para depois não usar nem metade do que estão vendo. É ridiculo

  4. Acho que a interdisciplinaridade em questões de vestibulares foi introduzida muitos anos antes do Enem pelo vestibular da Unicamp.

    1. Eduardo, bem lembrado! Mas ainda assim na Unicamp era possível identificar quais eram as questões de física ou de matemática. O Enem misturou as áreas um pouco mais. Abraços e obrigada pelo comentário, Sabine

  5. Acho que por acreditar que o futuro desse país está na EDUCAÇÃO, sempre acabo lendo o ABECEDARIO que provoca muito a reflexão da sociedade e vejo eu como pai que a necessidade de participação nas licoes de casa dos filhos aumentou muito mesmo e pesquisei em diversas escolas fundamentais , é a mesma coisa. São problemas que não acreditamos que são para os pequenos devido a necessidade de raciocínio e não decoreba e muitos pais até protestam por ser totalmente diferente de “nossa época”, mas hoje penso que é o certo, pois formamos jovens com capacidade de critica, analise e inovação maiores do que no sistema tradicional. Vejo muita questão de matemática, ciências, etc que é pura interpretação de texto e não aqueles cálculos prontos que avaliavam tão somente se vc aprendeu o algoritmo ensinado. Só desejaria que as novas gerações Y e Z, a medida que desenvolvem essas qualidades não perdessem outras como disciplina, respeito e paciência. Toda inovação é saudável desde que não percamos o que já era bom, vide exemplo do ensino publico fundamental que era excelente há 40 ou 50 anos atrás e foram “incrementando” modernidades conforme a educação europeia, etc e o que temos hoje? Por favor poupem as universidades publicas.

  6. Se depender da cultura na escola pública, continuaremos com “caixinha” de aulas por muitos anos. A escola pública brasileira é muito resistente à renovações e os professores e diretores são onipotentes nas suas decisões, não há trabalho em equipe e as atividades, além de independentes sobrecarregam os alunos nos exames bimestrais. No meu estágio em licenciatura (USP) cumprido integralmente nas escolas paulistas, fui muito mal recebido pelos diretores. Os professores não queriam minha presença na sala de aula, bem como ouvir minhas sugestões de aula. Estagiar em educação no Brasil não é como estagiar noutras carreiras. O aspirante a professor é visto como um intruso na escola, infelizmente.

  7. Está corretíssima a mudança de estilos do vestibular da Fuvest. Decorebas nunca e jamais será próspero na vida de um bom profissional. Quem aprende dessa maneira não apreende o conteúdo.

    Está acabando o cartel dos cursinhos mestres em dogmatizar alunos a decorar conteúdos, e já estão entrando em desespero, querendo acabar com o Enem que não conseguem abordar corretamente nos cursinhos.

    Qualquer tentativa de acabar com a interdisciplinaridade é uma maneira de sufocar o jovem brasileiro de baixa renda, que não possui condições de pagar um cursinho de ponta, restando então, estudar as poucas horas que resta, em casa na internet.

    Se o mesmo for espero e interessado, muitos deles conseguem notas razoáveis graças a essa técnica, e estão galgando cada vez mais passos mais largos em direção à universidade de qualidade.

    Cotas sim para alunos de escolas públicas e interdisciplinaridade já.

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