O dia em que um teto da USP caiu na minha cabeça

Sabine Righetti

Eu estava fazendo uma entrevista bacana no final da tarde da última sexta-feira, 10, quando ouvi um estalo bem forte e bem esquisito.

Parte do teto de vidro da lanchonete central do Instituto de Física da USP, onde eu estava, desabou em formato de lanças ao lado de um dos meus entrevistados.

Corremos para perto do balcão da lanchonete e o telhado continuou caindo. Meu entrevistado levou com ele alguns cacos presos no cabelo.

Aparentemente, a cobertura de vidro não aguentou a chuva forte, o peso da água, das folhas e dos galhos — há muitas árvores ao redor do espaço– e desabou.

A cobertura é formada por placas de vidro recheadas de arame — o que significa que elas jamais poderiam cair em formato de lanças. O arame deveria segurar. Mas o metal estranhamente estava enferrujado e não aguentou (arame enferrujado dentro de uma placa de vidro é novidade para mim).

Por sorte, a lanchonete estava vazia e ninguém se machucou. Eu acabei registrando o fato em uma reportagem sobre os prejuízos da chuva na cidade.

DESCULPAS

Durante o final de semana, recebi algumas mensagens de docentes e de pesquisadores do instituto pedindo desculpas pelo ocorrido.

Em uma das mensagens, um dos físicos me encaminhou uma série de solicitações que ele fez à universidade em relação ao teto da lanchonete, que está desabando em partes faz tempo.

“Alguém pode se machucar”, ele diz nas mensagens.

Bom, pelo que eu vi na última sexta-feira, o acidente poderia ser fatal.

A USP ainda não se pronunciou sobre o episódio. A atual gestão da universidade e do instituto está em transição.

O novo reitor assume em algumas semanas e o novo diretor da física assume em março — aí, sim, ele decidirá o que fará em relação ao teto que está caindo.

Fiquei pensando nos pesquisadores incríveis com quem eu conversava naquele momento e em todos outros que já entrevistei naquele instituto.

Lembrei das reportagens que já fiz sobre as descobertas feitas naqueles laboratórios da física.

Lembrei que a USP é a melhor universidade do Brasil de acordo com o RUF e está brigando para estar entre as melhores do mundo.

Por último, lembrei de uma frase de João Grandino Rodas, atual reitor da universidade, em uma entrevista recente que fiz com ele:

“Há alguma universidade muito bem classificada nos rankings mundiais em que aconteçam tomadas violentas de espaço? Obviamente que não.”

Complemento perguntando: há alguma universidade muito bem classificada nos rankings mundiais em que o teto da lanchonete de um instituto cai na cabeça das pessoas?

 

Comentários

  1. Alguns prédios da Cidade Universitária precisam de uma maior atenção em relação à infraestrutura. O Instituto de Biociências lembra uma casa mal assombrada (especialmente à noite) e a Faculdade de Educação tem corredores estreitos e é mal ventilada. Que o novo reitor dê mais atenção a esse aspecto!

  2. Bem, o vidro é ïndústria brasileira”, e o arame deve ser da Cosipa.
    Desde que ingressei na USP em 1980, e provavelmente muito antes disso, aquilo ali está sempre caindo aos pedaços.

  3. Ainda insistem em chamar a USP de universidade? Ocupações, depredações generalizadas, marchas dos seus alunos pela liberação de drogas, consumo de drogas, vandalismo e crimes dentro do seu campus, colocada em 178o. lugar entre 200 do mundo e isto é uma universidade? Só se for em algum canto perdido da África, se bem que o Brasil já virou uma África.

    1. Concordo com a sua colocação sobre a situação do campus.
      Agora, falar que a USP “não é uma universidade” é ser equivocado demais, as estatísticas e os dados falam por si, a USP é a melhor universidade do país.
      Consumo de drogas, vandalismo e crimes dentro do seu campus? Isso não é
      só na USP que ocorre, meu caro, isso acontece em todas as universidades, o que acontece é que como a USP tem o campus maior e consequentemente mais pessoas a proporção é maior. Marchas dos seus alunos pela liberação de drogas? Não sou usuária, mas sou a favor de marcha para qualquer assunto que se queira reivindicar, até porque somos “livres” e temos direito a liberdade de expressão para assuntos que cabem ou não, cada pessoa tem o direito de se expressar como achar melhor.

  4. A USP como um todo deveria se abrir à iniciativa privada. Isso não significa se vender ao sistema, como alguns pseudo comunistinhas de faculdade querem fazer parecer, mas sim aceitar ajuda e incentivo externo sem perder sua autonomia.

    Um exemplo é a FEA sendo amparada por suas instituições e tendo algumas de suas reformas de salas de aula bancadas por empresas, com Banco do Brasil, Itaú, etc. E a FEA não perdeu sua autonomia.
    Outro exemplo é o que acontece dentro da Poli, com investimentos da Petrobras, inclusive.

    1. Claro Guilherme, as unidades que você citou tem interesses específicos em pesquisas com o intuito de aprimorar performances e obter um melhor retorno de divisas. Em que universo elas colocariam dinheiro em unidades como a FFLCH, ECA, EEFE. “There´s no free lunch” meu amigo, não seja simplista.

  5. É realmente um absurdo o descaso com a manutenção dos prédios e áreas publicas no Brasil,,,somente os “gabinetes” são sempre os mais modernos e tem verba todo ano para serem reformados…

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