Proibidos na indústria de cosméticos, animais são usados nas universidades

Sabine Righetti

Cientistas e ativistas não falam sobre outra coisa: a utilização de animais na produção de cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes no Estado de São Paulo acaba de ser proibida por uma lei sancionada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

No ato de sanção da nova lei, o governador disse que há metodologias alternativas aos animais como testes in vitro (ou seja, em laboratório, usando lâminas de vidro) e sistemas computacionais. (leia mais aqui).

Por enquanto, o uso de animais como camundongos e os famosos beagles continua liberado para testes com outras finalidades — produção de medicamentos, por exemplo.

Durante o debate sobre a nova lei, algumas pessoas entraram em contato comigo com diversas opiniões.

Uma das observações mais interessantes foi de uma estudante de biologia que disse que dificilmente usa modelos computacionais em aula.

Ou seja: não adianta mudar a lei para a indústria se quem irá trabalhar nela está sendo formado usando modelo animal.

TRINTA RATOS

Vale destacar ainda que o uso dos animais em cursos de graduação como biologia, farmácia e biomedicina está sendo questionado pelos próprios alunos.

Uma outra estudante de biologia me falou sobre o descaso com animais em sala de aula.

“Já tive cursos em que o professor pediu para matar 30 ratos que ele supostamente usaria em aula, mas acabou nem usando. Na aula seguinte, teve de matar tudo de novo”, conta.

Se a indústria não pode usar animais, temos de incentivar modelos alternativos nas universidades. as agências de fomento à pesquisa devem priorizar o financiamento de pesquisas com modelos computacionais. E assim por diante.

Nesse tipo de situação, indústria, ciência e educação devem tomar decisões juntos. Certo?

Comentários

  2. Infelizmente não foi indústria, ciência e educação, e sim a demagogia e a desinformação . Os tais métodos alternativos de alternativos não tem nada. Pois não substituem os testes com animais. Se um dia um cosmético produzir um efeito similar ao da talidomida os testes in vitro e sistemas computacionais, não vão detectar o problema e mulheres poderão ter filhos com defeitos. Um novo batom poderia provocar câncer de próstata nos homens que elas beijarem. Uma tragédia anunciada esta se formando no futuro com a decisão de não fazer testes em animais .

  3. Me parece que uma questão importante nessa discussão é a qualidade dos estudos, ou seja, a relevância da informação que será gerada. Na minha opinião, a pesquisa com animais é fundamental em qualquer área. É claro que deve haver um conjunto de regras para o emprego adequado de animais em aulas práticas e nas pesquisas, por exemplo. Basta abrir os periódicos científicos internacionais para constatar o grande número de experimentos realizados com animais, mesmo em países com forte tradição científica e onde essa discussão já iniciou a mais tempo. Sou favorável ao controle rigoroso da utilização de animais em pesquisas e aulas práticas, mas banir a utilização não me parece o mais correto.

  4. Alhos e bugalhos: não é possível comparar pesquisas de fármacos com pesquisas de cosméticos.
    Quem acha que é possível simular em computadores os efeitos de drogas em organismos vivos, ou não entende de informática ou de biologia. Ou de ambos.

    1. Eu me pergunto se os ativistas alguma vez estudaram a complexidade dinâmica da cadeia de reações químicas que ocorrem numa única célula.

  5. Não pode matar ratos que são considerados pragas, mas pode matar bois, porcos, galinhas e outros animais em série?? E outra, faz produtos e não testa, os cobaias serão quem??? Quanta demagogia barata….

  6. Não entendo essa seleção de qual animal pode e qual não pode. Não existe lei que aplique seleções. São preferências pessoais, só isso. Podemos comer carne bovina, suína e aves mas de cães ou e cavalo, não. Muitos países não discriminam, consumem de tudo e o mundo não acabou ou algum consumidor morreu por isso. Se alguém gosta de cavalos ou cães, que se limite ele a não consumir. Isso vale pra tudo: pesquisas, trabalhos, etc. Esse mesmo “protetor” de animais tem hoje vacinas que ele tomou de criança produzidas por essas pesquisas e poderia não estar vivo hoje pra reclamar. Absurda cegueira!

  7. Eu sou estudante de Biologia e sou A FAVOR DO USO RACIONAL DOS ANIMAIS. No meu curso de Vertebrados foram utilizados 4 animais (um peixe, um pombo, um rato de laboratório e um sapo, todos provenientes de biotério ou de criação comercial para abate) por grupo de 4 pessoas, para o curso inteiro. Estudamos TODOS os sistemas biológicos nos mesmos animais, tomando cuidado na dissecação para manter os componentes dos sistemas a serem estudados nas aulas seguintes intactos. As aulas práticas SÃO IMPORTANTES SIM, especialmente porque a faculdade de Biologia não existe apenas para formar professores de 2o. Grau, e sim PESQUISADORES, em Fisiologia, Anatomia, Sistemática e Filogenética, e TODAS essas especialidades necessitam que o aluno saiba identificar as particularidades evolutivas de cada grupo de animais, em espécimes vivos ou mortos. Tirando os casos óbvios de desperdício de materiais, o estudo anatômico é importante sim e não há motivo para substituí-lo nas Universidades.

    1. para se realizar pesquisas, é necessário uma “população” controlada. Taxa de crescimento, alimentação, nutrição, temperatura, histórico de doenças,etc. Politicos não são considerados uma “população” controlada, visto que uns fumam, outros bebem, outros tem as doenças mais diversas… não há um padrão em grande amostragem para servir de base em experimentos. E no fundo sua ideia de uso de pessoas em testes mostra o quanto de nazismo existe na causa do bem dos animais.

  9. Nesta decisão do governador deveriam ter tomado a decisão a indústria, ciência e educação . Mas nenhum deles foi ouvido. E sim o preconceito e a desinformação destes pretextos defensores do animais. Estes testes alternativos de alternativos não tem nada, pois não substituem os testes com animais. Nada impede que um novo cosmético tenha efeitos similares ao da talidomida.Pois nem testes in vitro e nem sistemas computacionais achariam os problemas da talidomida. Essa decisão é uma tragédia que se arma para acontecer no futuro .

  10. Olha Sabine,
    muito frustante ler essa matéria pela forma que vc identifica o uso de animais para fins de ensino na universidade com a prática da indústria, especificamente relacionada ao teste de cosméticos. Concordo que a questão da experimentação animal (e seus diversos fins) é séria e merece amplo debate, mas nunca será beneficiada com essa forma de abordagem que vc, infelizmente, escolheu. Concordo com o comentário da “Sandra” e só consigo mesmo ver que a ciência terá dias difícis (como se alguma vez tivesse sido fácil) pela frente… uma pena
    ana claudia

    1. Ana Claudia, eu não escolhi caminho nenhum. Sequer me posicionei contra ou a favor ao uso de animais. Apenas trago para a discussão que a lei foi sancionada sem que a universidade também tenha abolido o uso de animais. Minha pergunta é: “Nesse tipo de situação, indústria, ciência e educação devem tomar decisões juntos. Certo?” Abraços e obrigada pelo comentário, Sabine

  11. Sistemas computacionais ? Sério ?

    Se ainda não temos condições de prever com 100% de certeza a previsão do tempo. E isso usando super computadores milionários e centenas de pessoas trabalhando em cima …

    O que dizer de uma célula animal/vegetal/bactéria que a cada dia descobrimos novos mecanismos e moléculas ?

    Os resultados desta lei serão imprevisíveis

    É muita pretensão imaginar que podemos simular um organismos vivo em computador.

    Nas devidas proporções esta lei seria análogo a proibição do uso da medicina alopata para tratamentos de doenças e somente permitido tratamentos alternativos, tais os quais como homeopatia e acupuntura.

    Agora te pergunto, voce se trataria apenas com essas “metodologias alternativas” ?

    O mesmo seria aplicado aos futuros cosméticos testado in-silico. Vai ser uma roleta russa até aparecer algo potencialmente devastador para as pessoas…

  12. O mais interessante é que essas leis saem sempre da cabeça de Leigos no assunto! Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sabe que a utilização de animais é indispensável em testes com medicamentos, novas drogas, procedimentos cirúrgicos, entre muitos. Procedimentos que salvam vidas no futuro.

  13. Sancionar lei desse calibre em ano eleitoral é uma coisa, fiscalização para cumprimento da mesma é outra!

    Como biomédico formado em 2010 tive oportunidade de participar de um programa de iniciação cientifica na faculdade, não o fiz por se tratar de algo que envolvia ratos wistar (aqueles branquinho).

    O que defensores dos animais não entendem é que para se trabalhar com animais, pelo menos em faculdade, é necessário que antes de tudo se passe por um comitê de ética rigorosíssimo onde se explica tudo o que será feito com os animais durante todo o período de experimentação.

    Saliento aqui, que participei de perto de iniciações científicas de colegas e os animais eram tratados com muito respeito, de forma menos traumática e estressante possível, e em casos de sacrifício, o mesmo era feito de maneira mais rápida e indolor possível.

    Há muitas outras formas de se testar fármacos e cosméticos? Sim, há! Mas há muita hipocrisia nesse meio com direitos dos animais e afins, não nos esqueçamos que a expectativa de vida hoje em dia é alta devido a fármacos poderosos como: antibióticos e drogas oncológicas que antes de serem usadas em humanos foram testadas em animais.

    Quanta gente não defende o fim dos testes em animais e vai à churrascaria no fim de semana?? Irônico, mas verdadeiro, não é mesmo?

    A citação acima é válida para defensores de mal tratos a animais.

    Que fique claro que sou contra qualquer tipo de violência a animais, mas, sancionar leis desse tipo, em um país como o Brasil, só tende a prejudicar a nossa própria ciência.

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