Quem passou na Fuvest virou adulto?

Sabine Righetti

Conferindo a lista de aprovados na Fuvest que acabou de sair (veja aqui), lembrei-me de uma conversa com um aluno do 1º ano de engenharia na Poli-USP.

Ele dizia que pouco antes de entrar na USP, ninguém dava a menor pelota para ele. Antes da USP, o garoto era só mais um estudante de ensino médio considerado previamente irresponsável, incapaz e invisível.

“De repente, as pessoas começaram a prestar atenção no que eu dizia só porque eu passei a ser estudante da USP. Virei adulto.”

Isso acontece? Sim, sempre.

Em geral, nosso sistema de ensino nas escolas não dá voz aos alunos e nem lhes permite nenhuma forma de decisão.

Os alunos assistem as aulas passivamente seguindo uma cartilha que a escola determina.

Muito raramente podem optar por uma ou outra disciplina que preferem. Eles não podem fazer escolhas.

Aí, de repente, esse mesmo aluno se vê obrigado a escolher, atenção, aquilo que ele vai ser no resto da vida.

Aos 17 ou 18 anos, os brasileirinhos têm de decidir sua carreira. Muitos erram: não é à toa que a taxa de evasão nas universidades públicas gira em torno de 25%.

Isso significa que uma cada quatro pessoas aprovadas na lista da Fuvest de hoje provavelmente vai largar a USP nos próximos anos, antes de concluir o curso.

Quando esses mesmos jovens entram na universidade, eles passam a ser considerados adultos. Se ele entrar na USP, então, ele será “o” adulto. Simples assim.

“PASSEI”

A passagem pelo vestibular obviamente não é suficiente para amadurecer uma pessoa.

O treinamento para a vida adulta tem de começar na escola, com as pequenas decisões, com uma leve independência e com a possibilidade de o jovem ser ouvido.

E tem de seguir na universidade.

Quem não passou na Fuvest não é menos adulto do que quem conseguiu ser aprovado.

Talvez seja apenas menos preparado.

 

 

Comentários

  1. Essa falta de decisão dos/as estudantes não é somente nas escolas do ensino fundamental e médio, mas também nas Universidades. Basta ver, que geralmente não escolhemos o Reitor, não temos muita flexibilidade no currículo escolar, somos submetidos a métodos de avaliação que avalia em suma a repetição etc. Devemos reformular todo ensino brasileiro para fazer com que o/a estudante seja um verdadeiro protagonista e tenha liberdade de pensar, agir e criar!
    “A escola é uma comunidade com seus membros, seus interesses, seu governo. Se esse governo não for um modelo de governo democrático, esta claro que a escola não formará para a democracia.”

    1. Estudante não tem de escolher o reitor, ele está de passagem pela universidade. Funcionário técnico-administrativo menos ainda. Ele está lá pelas circunstâncias da vida, porque o currículo não foi selecionado pelo Bradesco ou porque não passou no concurso da Sabesp, por exemplo. Sua lógica é ganhar o máximo possível e trabalhar o mínimo possível, mesmo que suas reivindicações inviabilizem financeiramente a universidade. Quem tem de escolher reitor é o professor concursado, atuante em regime de dedicação exclusiva, por 40 horas semanais, o único com compromisso de longo prazo com a instituição. Sua relação com a universidade não é meramente empregatícia, mas sobretudo ali se dá a sua realização pessoal, garantida pela atividade docente e a produção de suas pesquisas. Nenhuma universidade de ponta do mundo permite que estudantes e funcionários técnico-administrativos escolham o reitor.

      1. Apesar desses mesmos professores tambem adorarem trabalhar pouco e darem pessimas aulas. Pouco dedicados e montam na maldita estabilidade, enfim sao iguais aos funcionarios que o sr criticou. Nao são os grandes herois da faculdade como vc pensa (deve ser professor universitario)

      2. Ricardo, me responda uma coisa: existe Universidade sem estudantes??
        Se o sentido da Universidade por que ele tem de ser apenas um ser passivo?? Ele tem sim junto com os professores e colaboradores que de fato gerirem as decisões da Universidade! Isso dá não só maturidade, mas também consciência política, de que o conhecimento também traz consequências políticas. E em relação a professores ruins, quem melhor que os estudantes para denuncia-los?? O estudante ter poder de fato muda toda lógica dentro da Universidade, um vez que todas as forças políticas na Uni. necessariamente tem de dialogar para conseguir uma governabilidade! Ah e a citação é do Anísio Teixeira

      3. Professor universitário gosta de lattes!!! De escola pública então, só pensa em publicar… Fazem o joguinho da pós-graduações e se vendem em projetos dos orientadores.
        Depois de serem estuprados em um sistema da Idade Média, viram algozes! Dão uma bosta de aula e arrotam serem os senhores do saber…
        A maior decepção da minha vida foi a Universidade Pública (graduação e mestrado)… Eca!!! 😛

  2. Com 18 passei no vestibular da UFPR (em1977), com 19 ( 1978) assumi a tesouraria de uma Casa de Estudantes -CELU com 88 moradores e 5 funcionários – uma pequena empresa . isso ajudou .

  3. Não, maturidade não tem nada a ver com comprometimento ao estudo, embora haja relacões entre as duas.
    Maturidade vem quando o ser atinge um outro patamar de morais, isso geralmente acontece quando o sujeito é exposto a negatividade, ou seja, o ser tem mais chance de se tornar mais maduro quando ele NÃO passa no vestibular. Afinal, quando você atinge uma marca, a chance de estagnação é bem maior, então, em suma, passar no vestibular não significa nada, o que realmente importa é a pessoa.

    1. Qualquer tentativa de resumir fenômenos de natureza ontológica como, por exemplo, a questão da maturidade adquirida por um jovem em determinado período de tempo, sempre cairá na vala dos argumentos basais e presunçosos, estes sustentados por situações subjetivas e específicas.

      É de extrema importância à reportagem ressaltar, antes de mais nada, o que seria essa tal “maturidade” em questão, para que então possamos TENTAR identificar a sua origem e motivação.

      Obs:

      Primeira vez que comento na folha de sp. Impressionante como grande parte dos comentários nada tem a ver com o tema; inúmeras manifestações jocosas, de prováveis militantes de internet, que apropriam-se de qualquer tema pra discutir ideais aos quais se referem sem sequer saber o significado. Consequências da democracia de um país dominado por vagabundos. Vagabundos que falam antes de pensar, sequer pensam, sem no mínimo estudar.

  4. Nossa situacao e preocupante. Um pais mergulhado no analfabetismo.Indice de emprego baixo.Centenas de adolescentes saem do ensino medio sem condicoes de ingressar na
    Universidade, seja pelo restrito numero que a escola publica oferece, seja pela falta de condicoes de se pagar escola privada.Nao ha democracia num pais ignorante.Vivemos uma pseudo democracia, garantida pela presenca militar, importante, salario minimo degradante, miseria em todas as regioes do pais, e ainda , para complicar, um parlamento enlameado por escandalos, frio, sem compromisso social.

    1. Realmente, Terezinha, não há democracia num país ignorante. O Brasil está formando ignorantes, manipuláveis, pessoas que não sabem que tem direitos….

  5. Perfeito: deve-se expor as crianças progressivamente às consequências de suas decisões para que amadureçam, o que significa respeitar o próximo, aceitar diferenças e até oposição de interesses, etc. Porém pretender que um sujeito absolutamente IGNORANTE além de suas matérias curriculares escolha o reitor é demais. Manipulação fascista de babacas travestida de esquerdismo. Os extremos sempre se tocam.

  6. Ele não vai virar adulto. Mas tem grande chance de virar um invasor de reitoria, depredador do patrimônio público, usuário de maconha e seguidor da cartilha socialista que há muito foi banida do mundo civilizado. Infelizmente, esse é o destino de muitos que entram na USP.

    1. Justo, obrigada pelo comentário. Só para lembrar: a USP tem 90 mil alunos e cerca de 500 participaram desse tipo de ação. Ou seja, isso representa 0,5% dos alunos. Os 99,5% restantes não participam. Abs, Sabine

      1. Sabine, grato pela atenção e pela resposta. Mas me permita colocar alguns pontos. Esses atos barbáricos, ocorrem no campus da capital que possui um número muito menor de pessoas circulando. Mas independentemente da quantidade de alunos que participa da “ação”, o fato dela ocorrer todos os anos e ser tolerada pelas autoridades que administram a USP é uma vergonha, um acinte, uma avacalhação do ambiente universitário. E o mais absurdo, o “movimento” é incentivado por alguns docentes e funcionários da própria Instituição que ainda recitam as palavras de ordem do velho Lenin diante das câmeras e se julgam proprietários eternos de um bem público. Isso é intolerável. Isso não é compatível com a vida da mais importante Universidade brasileira.

        1. Número menor de pessoas circulando? Obviamente, mas estamos falando aqui de 70mil pessoas diariamente. O número absoluto e relativo de pessoas que apoia as invasões e de fato participam é muito pequeno. Mas infelizmente é também uma galera que faz barulho e acaba sendo ouvida. Mas mesmo assim a mídia e quase que a totalidade da população tem uma visão muito superficial e enviesada do que acontece dentro do campus Butantã(principalmente).
          Há algumas bandeiras pelas quais se lutar que são de fato muito nobres. Porém a forma com que essas lutas são conduzidas e administradas são muito pobres e retrógradas, contribuindo para uma visão errada que não ajuda em nada no apoio por parte da opinião pública.
          Muitas vezes a luta é válida e tem fundamentação, mas eles se perdem na forma. Infelizmente eles mesmos não se ajudam.

  7. O aluno pode ter que escolher no vestibular que carreira quer seguir o resto da vida, mas uma vez dentro da Usp continua sendo tratado como um ser imaturo que não tem capacidade nem direito de fazer escolha nenhuma. Os currículos são inflexíveis, e uma vez que entrou num curso existe muito pouco que o estudante pode decidir.

  8. A USP só está com essa “bola toda” para os donos de cursinhos e escolas particulares, onde você é treinado para competir. Acho que vem desses lugares a impressão de estarmos entrando na vida adulta, por que vencemos uma batalha. Mas eles preparam os alunos mesmo é para a “decoreba”,e então você chega lá e encontra uma graduação estagnada, burocracia e a má vontade de sempre, o que não é novidade. A desistência, às vezes, é o único caminho, justamente pela falta de diálogo, as regras são impostas, nem sempre o professor cumpre a sua parte devido à “picuinhas”, obrigatórias (ridículas), como o nome já diz, devem ser cumpridas, bolsas má distribuídas, e por aí vai…

    1. Valéria, isso é a realidade de quase todo ensino superior brasileiro, pelo menos onde tenho conhecimento. Infelizmente!!

  9. O Br, país de semianalfabetos, rotula as pessoas pelo curso e escola que faz. Ainda somos o país dos cursos tradicionais (medicina, direito e engenharia) onde os demais sequer se lhes dá importância ou relevância ao seu estudante. Mais que isso, é onde ele estudou. Contrário a isso, é o número grande de formados de “baixas” instituições e cursos que viram presidentes de empresas, aprovados em concursos e nas melhores pós graduações-doutorados no exterior, ate nas melhores universidades do mundo. São raríssimos nesses grupos citados de se encontrar formados na USP, Unicamp, federais, etc. Ou seja, a elite do Br, em todos os campos, cursaram cursos e universidades discriminadas por quem se crêe algum gênio e se acha rotulado (ou o acham como acharam o aluno da reportagem). Esse é o verdadeiro analfabetismo do país.

    1. Vejam, caros leitores destes comentários, o mais belo exemplo da nossa democracia; do Severino da capital; do brasileiro militante, fornecido pelo nosso querido Eduardo (supostamente alfabetizado), capaz de falar tanta besteira, criticar “formandos que viram presidentes”, alunos da USP, que “raramente aparecem nesses grupos”, além da bom e velho rancor à elite do BR – da qual ele adoraria fazer parte, mas até lá que a inveja lhe domine.

    2. Você tem a referência de alguma pesquisa, ou trabalho, que comprove suas impressões pessoais? A minha impressão é diferente, os concursos mais acirrados, pós graduações gabaritadas, programas trainees são preenchidos por egressos das universidades brasileiras “de elite” como USP, Unicamp, Federais. Claro, muita gente do alto circulo empresarial brasileiro só tem acesso as particulares, e acabam em grandes cargos impulsionados pelos direitos hereditários…

  10. A maturidade depende da biologia e do contexto em que o individuo viveu e vive. Varios fatores influenciam para essa evolução do ser humano.

  11. Esse texto nos leva a uma conclusão deprimente: todos os anos temos um contingente de 10 mil jovens entre os melhores preparados – os calouros uspianos, os futuros adultos vitoriosos. Isto significa dizer que o “resto”, mais precisamente um contingente de 17 milhões de jovens, ou 9% da população brasileira (dados do IBGE), já larga na vida adulta com a marca do fracasso – se é que entram na condição de adultos. É isso, produção? Ou seja, para a maioria absoluta dos jovens brasileiros, o que lhes espera, pelo visto, é o fracasso, o ostracismo e a infantilidade. Então, parabéns uspianos, é tudo com vocês!

  12. Passei em um curso concorrido na Unicamp e mesmo assim sou tratado como um pedaço de nada.A grande maioria dos professores não tem vocação e nem vontade de ensinar.Essa repórter aí tem a menor noção de como é o ensino superior no Brasil,deve ser mais uma que acha que o nome da universidade por sí só já confere a alguém competência.

  13. Marcos, pelo jeito vc passou num curso onde a nota de português não contava muito. A reporter tem ou não tem a menor noção?

    Parte do problema é a atitude que vc aprende porque o professor “ensina bem”. Vc aprende quand vc estuda bem. Se necessário, apesar das dificuldades (incluindo professores desinteressados). Universidades de elite são bons porque sempre tem um professor estupidamente bom (não necessariamente dando o teu curso, mas no Departamento ou pelo menos no Instituto) e porque tem alunos inteligentes e dedicados. Com isso vc tem uma chance incrivel de aprender. Pena que vc não aproveitou.

  14. Eu não sei se as pessoas te ouvem quando você passa no vestibular por te considerarem adulto, ou por te considerarem inteligente. Quando eu passei no vestibular para a Poli-USP experimentei algo como “15 minutos de fama familiar”, todos me felicitavam entusiasmados pelo meu feito, eu recebia convites para jantar na casa de tios e tias e todos me ouviam com atenção como se eu fosse um intelectual cultíssimo, embora eu ainda não houvesse assistido a nenhuma aula na USP. Enfim, acho que as pessoas ainda acham que quem passa no vestibular é mais inteligente, ao invés de mais preparado, do que aquele que não passa. Quanto a considerarem os graduandos como adultos, a Poli não era modelo já que o antigo currículo, que começa a ser substituído para os ingressantes em 2014, quase não dava autonomia nenhuma aos alunos para a maioria dos cursos – a esmagadora maioria dos créditos era de disciplinas obrigatórias e, no meu curso, você só podia, em 10 semestres, escolher a uma única disciplina livremente, todas as demais eram escolhidas pela Poli.

  15. Com base nessa reportagem: “Isso acontece? Sim, sempre.
    Em geral, nosso sistema de ensino nas escolas não dá voz aos alunos e nem lhes permite nenhuma forma de decisão.
    Os alunos assistem as aulas passivamente seguindo uma cartilha que a escola determina. Muito raramente podem optar por uma ou outra disciplina que preferem. Eles não podem fazer escolhas.” Devo lembrar que na USP é assim, também. Conheci pouquíssimos professores que “vestiam a camisa” e davam um curso com total interação com os alunos. Os demais eram verdadeiros ditadores preocupados com seus salários, congressos, bolsas e pesquisas. É o que se pode esperar de servidores públicos estatuários que só deixam a USP aposentados aos 70 anos.

  16. Olá, tudo bom?

    Estava prestes a elogiar a blogueira pelos assuntos abordados nos últimos dias, afinal já a critiquei pesadamente quando comentei por aqui. Como já disse, o assunto Educação vai muito além de rankings e fama, e achei a abordagem dos últimos quatro assuntos muito interessantes e passíveis de uma boa discussão, apesar de concordar com algumas coisas e discordar de outras, tanto da blogueira quanto dos comentaristas.

    Infelizmente, “só pra variar”, ao ler esse artigo, nas últimas linhas do último artigos das “Últimas do Abecedário”, me deparo com a pérola típica deste blog, já quase virando bordão:

    “Quem não passou na Fuvest não é menos adulto do que quem conseguiu ser aprovado.

    Talvez seja apenas menos preparado.”

    Como disse acima o colega Marcelo Fernandes, o blog insiste na teoria de que só é preparado para a vida quem se forma numa universidade pública paulista, principalmente se esta for a USP, onde estão os “messias” da ciência brasileira. Esse papo, além de uma cantilena chata, é mentirosa e inútil (pra não dizer preconceituosa).

    É esse tipo de “mensagem” que faz chover comentários preconceituosos, por exemplo, ao seu colega de jornal Jairo Marques, o “malacabado”, em seu blog, pois, se ele escrevesse e se expressasse daquele jeito na USP, segundo um comentarista, “ele não passava nem da porta”. Outro dizia que “ele denegria a imagem da UFMS” – só não sei pra que público, e para qual Estado. Mais um dizia que sua cultura e seu jeito de se expressar são “típicos de uma universidade pública do MS”. E por aí vai.

    Vejo que a blogueira tem uma vasta experiência na área educacional, que já foi professora, é muito viajada, tem mestrado e doutorado e dá muitas palestras. Porém não consigo perceber essa magnitude toda ao abordar assuntos como esse. Numa oportunidade anterior já afirmei que a culpa pode ser minha, por me interessar mais em assuntos educacionais relacionados à formação do cidadão e formas para potencializar seu conhecimento do que rankings e “top 3 university gossips”, que pode ser a verdadeira linha de discussão desse blog. Mas confesso que, ao ler mensagens como essa do final deste post, sinto na verdade que se trata de um canal para um público seleto, da qual não faço parte: os egressos da top 3. Ou seja, fico completamente deslocado.

    Para não passar a impressão completa de “cara totalmente mala” (a qual sinto já ter passado, infelizmente), gostaria de voltar a elogiar os últimos quatro artigos deste blog. Foi um oásis de discussão interessante sobre Educação, Pedagogia e Formação Superior num blog que privilegia a psicologia e a “vida sofrida de um pobre estudante da USP”.

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