Entre as melhores do mundo em agricultura, USP some em engenharias
As universidades brasileiras vão mal em rankings universitários.
Mas, se a análise fizer um recorte por áreas do conhecimento como filosofia, farmácia ou ciências agrícolas, o Brasil ganha casas.
Há três universidades brasileiras, por exemplo, entre as 50 melhores do mundo em agricultura e floresta: Unicamp (22º lugar), USP (27º) e Unesp (50º). A área é liderada pela Universidade da Califórnia em Davis (EUA).
O Brasil também aparece entre as melhores do mundo em áreas como farmácia, matemática e comunicação.
O que preocupa é que não há universidades brasileiras entre as “top 50” no mundo em áreas consideradas essenciais como medicina, direito e engenharia.
Domínio anglo-saxão?
Não. Nessas disciplinas, há escolas de destaque em países dos BRICs, como Índia e da China.
Mesma coisa acontece em áreas em que o Brasil não aparece, como física e engenharia civil. Também há universidades entre as melhores do mundo da Índia e até da Rússia –que não costuma figurar muito em rankings.
POR ÁREA
A análise foi feita pela consultoria QS por meio de um novo ranking de universidades por áreas do conhecimento.
Em oito das 30 disciplinas analisadas agora pelo QS há universidades brasileiras entre as 50 melhores do mundo.
Em sete delas, o Brasil lidera nos países da América Latina.
A exceção é história: Unicamp e UFRJ estão respectivamente em 34ª e 42ª posição na área, mas Unam, do México, está em 25º lugar. A líder é Cambridge (Reino Unido).
Para se ter uma ideia do que os números significam, a USP está em 127º lugar e a Unicamp em 215º no ranking geral de universidade do QS. A Unesp nem aparece na lista geral de universidades.
Ou seja: estar entre as 50 melhores do mundo em uma ou outra área significa muito.
Mas, mesmo sendo líderes na América Latina, as escolas do Brasil ficam atrás de universidades chinesas e sul africanas em algumas áreas –caso de geografia e estatística.
Trocando em miúdos, não temos assim tantos motivos para comemorar.
A análise por áreas do conhecimento mostra sobretudo que quem vai bem nos rankings internacionais, vai bem nas análises por área.
EUA e Reino Unidos dominam o topo das classificações internacionais de universidades e também figuram em primeiro lugar em todas as 30 áreas analisadas pelo QS.
Difícil nominar uma ou duas causas para esse triste fenômeno.
De qualquer forma, o meu palpite passa pela atual situação da indústria brasileira.
A decadência de alguns cursos citados acompanha de perto a decadência da própria indústria brasileira.
A despeito do discurso estatal, a grande verdade é que, de 2003 pra cá, a indústria brasileira só fez encolher, perder postos de trabalho, competitividade, eficiência e relevância internacional.
Num país em que a indústria tende a zero, é natural que cursos como Física e Engenharia também tendam à nulidade.
Para que ter engenheiros ou físicos num país sem indústrias pujantes? Não faz sentido.
Vivo e trabalho há alguns anos no Sudeste Asiático.
Certa vez fui conhecer a linha de produção da Hyundai Motors. Quase caí de costas.
Com apenas 1 operário apertando 1 botão, a fábrica produz 1 automóvel a cada 57 segundos, em média.
Pouquíssimos operários no chão da fábrica, mas um departamento de P&D com DEZ MIL engenheiros.
Conseguem imaginar o que é uma indústria automobilística com 10.000 engenheiros?
Para um país nas condições do Brasil (ou mesmo dos EUA), é impossível disputar com gente assim.
O Sr. Nagib já identificou uma das razões deste fenômeno: a desindustrialização. Eu complemento: falta de visão estratégica nas áreas tecnológicas. Na década de 80 eu ficava impressionado com a quantidade de engenheiros chineses, coreanos, taiwaneses, etc. em várias universidades e industrias alemãs. Todos se aperfeiçoando nas áreas onde hoje são dominantes: máquinas operatrizes de baixa e média complexidade, linhas de produção, etc. Enquanto isso, no “país do futuro”, legislávamos sobre informática… O que temos hoje é só um reflexo da nossa falta de visão, ainda reinante, diga-se de passagem.
Tambem cabe contextualizar a menção positiva à agricultura: num país como o nosso, isso é bastante lógico.
Já sobre os outros cursos: engenharias e medicina são cursos caros de se estruturar e manter. Dia desses li em algum lugar uma comparação entre os orçamentos da USP leste e o da Poli. Achei a matéria muito rasa. Sem querer desmerecer mas os cursos que podem ser dados com “giz, livros e cuspe” não necessitam das mesmas verbas de um curso de engenharia. Quem afirmar o contrário não deve conhecer nenhum instituto ou laboratório da Poli (só para ficar na USP).
Sendo professor de um curso da área de tecnologia o que vejo como motivos para nosso “atraso” nos rankings dois aspectos importantes.
Primeiro é a falta de dinheiro para pesquisa nas universidades. Mesmo com a Fapesp no estado de SP, fica difícil ter dinheiro suficiente para pesquisas que causem impacto internacional. Ficar produzindo resultados apenas com simulações é complicado. Além disso, a falta de indústrias de fronteira tecnológica também dificulta a produção de resultados de fronteira, afinal, quem pode interagir com Intel, Apple e Microsoft ainda na elaboração de produtos pode produzir resultados mais significativos de pesquisa.
Isso leva ao segunto aspecto importante que é nossa falta de indústrias de fronteira tecnológica. Nesse aspecto a falha deve ser repartida entre governo e empresários. O governo por falta de políticas claras de alavancar desenvolvimento (apesar dos fundos setoriais servirem exatamente para isso) e os empresários falham por preferirem contratar mão-de-obra barata a investir em tecnologia. Nossas empresas não possuem centros de desenvolvimento. Apenas copiam o que vem de lá de fora, e isso não é por falta de engenheiros capacitados e sim por preferências de rumo da indústria.
Tudo isso faz com que nossas engenharias tenham pouco reconhecimento, apesar de termos muitos engenheiros contratados em centros de P&D nos EUA e Europa.
Concordo com todos os comentarios postados. Havia uma epoca em que se perguntava qual a vocacao do Brasil e a opcao foi pelo setor primario, deixando a sua industria minguar e os poucos casos de sucesso serem adquiridos por grandes grupos internacionais. O engenheiro brasileiro, regra geral, irá trabalhar na area comercial, administrativa, aplicacao de tecnologia existente, integração de sistemas e assistencia tecnica (sem tirar o merito dessas atividades). Excecoes existem na area de software, construcao civil, petroleo e gas, etc porém insuficiente para um país que almeja ser de 1º mundo. Ele certamente terá que buscar centros de pesquisas pelo mundo, onde efetivamente se cria tecnologia, pois existe investimento e visão de longo prazo.
Bom, tendo formado engenheiros como Maluf e Covas, realmente podemos ter um parâmetro de que nossas engenharias são ruins mesmo…
Renato, mas Maluf e Covas não trabalhavam como engenheiros, e sim como políticos! abraços, Sabine
Sabine, dizem as más línguas que Cálculo Diferencial nunca foi o forte desses dois senhores… rsrsrs
Isso reforça o que eu disse. Se os “grandes nomes” da Engenharia USP foram políticos, é porque tem alguma coisa errada já há muito tempo, além do que, mesmo entre os políticos, a Engenharia só nos deu tranqueiras…
Prezada Sabine,
uma análise rasa de uma “listagem” como estes rankings que se apresentam a todo o momento, como a feita aqui, leva a equívocos muito grandes.
Dizer que “estar” entre as 50 melhores representa muito carece de explicações. Por quê?
Porque estar na frente da Universidade Pierre et Marie Currie (UPMC) – a mais importante das universidades parisienses na área de tecnologia e ciências exatas – não é relevante? A UPMC, berço de nada mais nada menos que 18 (!) prêmios Nobel, está atrás da USP em Física-Astronomia.
O ponto é que, a despeito da “posição” específica no ranking, a produção científica (quantidade, qualidade) e formação de recursos humanos da USP é equivalente às outras… inclusive as Top50. Como pode ser visto no site da QS, o “score” da USP na área é >70 em todos os quesitos. Equivalente às TOP 50. Assim, qual a diferença real entre as TOP 50 e as TOP 100, ou TOP 200? Praticamente nenhuma. Todas são de altíssima qualidade.