Adolescente que engravida ainda é adolescente

Sabine Righetti

Uma vez uma professora me perguntou que tipo de trabalho ela deveria fazer na sua diante de um cenário em que uma estudante que engravidou precocemente voltaria às aulas após o parto.

Essa adolescente já não seria mais uma “simples” estudante de ensino médio. Agora ela seria mãe.

Eu disse para a professora que uma adolescente mãe continua sendo, antes de mais nada, uma adolescente. Recomendei que ela conversasse com a turma sobre isso e que incentivasse a jovem mãe a se manter na escola.

É claro que a maternidade traz uma série de amadurecimentos que provavelmente as outras garotas da mesma idade não terão.

Traz um monte de obrigações e de preocupações também.

Mas a adolescente mãe ou o adolescente pai são, antes de mais nada, adolescentes.

Terão questões sobre o futuro, dúvidas, incertezas. E devem ser incentivados a estudar.

Levanto essa questão porque não sou poucos os que engravidam cedo no Brasil.

NÚMEROS

Hoje, mais de 1 milhão de brasileirinhas engravidam todos os anos.

Um em cada quatro partos no Brasil é de uma mulher com menos de 20 anos, diz o Ministério da Saúde.

Especialmente as jovenzinhas que engravidam precisam de um apoio extra dos pais e da escola para não deixarem os estudos para trás.

No Brasil, quase 40% dos jovens de 18 a 20 ainda estão fazendo ensino médio (atrasados) ou abandonaram a escola.

Arrisco dizer que a gravidez precoce está entre os principais motivos desse cenário.

TRABALHO EXTRA

Os dados mostram que devemos levar para a sala de aula um trabalho extra com mamães e papais jovens para mantê-los estudando. Eles têm de se sentir acolhidos na escola.

E, obviamente, os esforços não param por aí.

As escolas também podem servir de palco para um trabalho de educação sexual, de prevenção e de diálogo.

Com mais educação e mais informação, certamente teremos menos jovens “grávidos” e menos abandono da escola.

 

 

 

Comentários

  1. Nao me venha dizer que e falta de educacao ou de informacao: e falta de responsabilidade, principalmente da mulher, que carrega o filho. Depois empurram a trolha para os vovos maternos, e depois aparecem os vovos paternos, como se tivessem fazendo um favor a mulher. A bem da verdade, existem muitas geracoes que sao criadas pelas avos. Enquanto isso mamae e papai estao na rua.

    1. Marcos, entendo que mãe e pai têm a mesma responsabilidade em relação ao filho. Não entendi a sua posição sobre a mulher ter mais “falta de responsabilidade”. Análises internacionais mostram que quanto melhor a educação, menor o número de gravidez precoce. Isso seria coincidência? Ou realmente precisamos melhorar nossa educação para mudar esse cenário no Brasil? abraços, Sabine

      1. Temos vários problemas em nosso país, falta de segurança, saúde precário, desemprego, mas sem tive a ampla percepção que o principal realmente é a eduacação. No dia que a população brasileira se conscientizar sobre isso nosso país vai para frente. Melhorando a educação os demais melhoram gradativamente, não é algo que se muda do dia para noite, mas com paciência chegaríamos à um Brasil menos desigual. Abs…

      2. No caso da responsabilidade, concordo com você. Os dois são igualmente responsáveis, o menino e a menina. Com relação à falta de informação, discordo. Hoje, fala-se mais do uso da camisinha, por exemplo, do que sobre os gols do Neymar. Tem alguns estudos sociológicos que mostram que, especialmente nas comunidades mais carentes, tornar-se mãe proporciona status e mais respeito às adolescentes. Elas, por exemplo, deixariam de ser consideradas meros objetos sexuais dos garotos, para adquirir a condição que, na visão daquelas pessoas, seria a mais respeitável e sagrada a que um ser humano pode alcançar: a condição de mãe. Isso afastaria delas os meninos que só querem passar o tempo com as meninas nos finais de semana (deixariam de ser apenas “as gostosinhas da rua”) e atrairia os “bons moços” que dão valor, por exemplo, à constituição de uma família. De quebra, passariam a ter acesso a políticas públicas que são destinadas às mães. Tendo a acreditar que o tema gravidez na adolescência precisa incorporar outras hipóteses de investigação, que vão além do acidente (ah, a camisinha furou!) ou da desinformação. A gravidez pode ter outros significados simbólicos, entre as meninas residentes em locais carentes (as mais atingidas pela gravidez precoce), que nossa vã filosofia de classe média não consegue supor.

        1. Parabéns pelo comentário, Ricardo.

          Só acrescentando que num país cristão como o nosso, ser mãe para justificar o sexo (pecado) também pode ser uma realidade.

        2. Ricardo, sim, concordo. Mas ainda nesse caso: “ser mãe” proporciona às adolescentes um status e uma perspectiva que ela não encontra na escola porque a educação é muito ruim. Abraços, Sabine

    2. Marcos, infelizmente na maioria dos casos o que falta é mesmo educação e informação. Nossa geração se acostumou com a disponibilidade de informações e passou a achar que apenas por estar disponível a informação será acessada e usada. Isso não corresponde a verdade.

      Falta ainda ao ser humano a sede de buscar informação e certificar-se de que ela é correta. Informação errada está fartamente disponível, basta buscar no Google e ver o quanto de besteira aparece para cada assunto. Pior ainda é quando por motivos variados a informação não aparece explícita. Apenas para ilustrar, no HC da Unicamp um casal que estva na fila para cirurgia de esterilização ficou “grávido”. Quando a assistente social perguntou se eles não estavam usando camisinha, a mulher explicou que sim, que toda vez que transavam ela colocava a camisinha no cabo da vassoura, do jeitinho que a assistente tinha mostrado.

      Logo, a única forma de corrigir isso é com a informação trazida por professor preparado para isso e dentro da escola.

    3. é tão idílica esta palavrinha “adolescente”; enquanto “adolescente”, nada mais somos do que perfeitos imbecis que tudo podemos fazer sem nenhuma responsabilidade; a culpa será do “sistema” da “sociedade”, da “má distribuição de renda”; enfim, o adolescente nada mais é do que a tenra e cordeirinha vítima; muito bom ser adolescente!!!!

      1. Edgard, não entendi seu raciocínio. Por que exatamente o adolescente não tem responsabilidade e a culpa é do sistema? abraços, Sabine

  2. Sério? Falta de informação na era da internet? Falta de acesso a métodos contraceptivos quando o governo dá T_U_D_O pra quem quiser pegar no postinho? Please.

  3. Trata-se de uma soma de fatores que desencadeia a gravidez indesejada em adolescentes: Permissividade, Falta de Educação, pais omissos…Outro dia conheci uma avó, de 29 anos, subempregada…Pode?…

  4. Não se deve jogar mais essa responsabilidade para a escola. Recebo vários questionamentos do MPs sobre o que estou fazendo em relação a este tema e, tenho certeza que faço o que me compete. Evidente que melhorando a educação outros aspectos serão melhorados, inclusive esse. Mas enquanto as verbas servirem para suprir anseios particulares, não venha cobrar só de mim.

  5. Concordo em muitos aspectos desta reportagem, só não concordo em dizer que é falta de educação, todos sabem como “nascem os bebes”, basta assistir dois ou três capítulos de qualquer novela, que você já está apto para a vida, infelizmente em muitos aspectos. Devemos entender que os tempos mudaram e os problemas são outros.

  6. O conceito de “adolescência” já não é mais o mesmo de 40 ou 50 anos atrás. Biologicamente continua tudo igual, mas a cabecinha das pestinhas tem mudado muito e muito. Isso precisa ser levado em consideração. A “maternidade” produz modificações profundas, físicas e psicológicas, que também devem ser levadas em conta…

  7. É claro q os adolescentes nesta situação merecem e devem ter todo o apoio da escola, pais, amigos, etc, mas aqui vai um desabafo: Sabine, vc gosta de comer fruta “verde” (não madura)? Vc acha legal sacrificar bebês animais para saborear carne tenra (baby beef)? Então por que raios não olhar o outro lado da moeda? A gravidez “judia” tremendamente de uma mulher. Um ato de poucos minutos gera aprisionamento para a vida inteira – raramente os filhos largam os pais com menos de 20 anos (e no fim não há respeito, somente brigas por disputa de herança, o legado que os pais lutaram a vida toda para conquistar)… São 2 minutos que valem 20 anos (no mínimo) de comprometimento. Se o sistema considera que, em certas circunstâncias, o adolescente não pode ser tratado como adulto, então que oriente-o a prevenir-se. Sexo não é somente fricção – é amor e respeito e pode gerar vida – e isto é uma grande responsabilidade.

    1. Nilton, obrigada pelo comentário, mas não entendi exatamente qual lado da moeda que eu não olhei. Eu justamente escrevo alertando para a falta de educação (orientação, prevenção). Abraços, Sabine

      1. Desculpe, desculpe, desculpe, eu não quis dizer q vc não olha o outro lado da moeda, pois eu sei que olha. Eu não tenho revisor de texto e de conteúdo então, por favor, aceite meu pedido de desculpa. Você é uma ótima jardineira q tenta plantar uma boa semente e espero q sua geração consiga produzir um belo jardim de “educação” e igualdade. Eu desejo à vc (e à todos de sua geração) o melhor e muita disposição. Isto não deve ser muito difícil para vocês pois a minha geração sabe que a sua geração é muito melhor (só não esqueça q foram os “velhotes” que entregaram em suas mãos os computadores, internet, etc e vcs fazem grande uso disto). Tenho orgulho de vc – continue em frente!

        P.S. Em respeito à vc e triste por tê-la magoado, continuarei lendo seu blog sem fazer comentários.

        1. Nilton, imagine, eu só quis entender o comentário. Fique à vontade para comentar! abraços, Sabine

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