Quanto deve ganhar um professor da USP?
Já escrevi sobre os problemas nas contas da USP, a maior universidade do país, algumas vezes aqui no blog. Dessa vez trago uma abordagem diferente: quanto deve ganhar um professor da USP?
Hoje, a Constituição determina que um docente de qualquer universidade pública não pode ganhar mais do que o governador.
Em 2011, a universidade ignorou as regras e pagou acima do teto para 167 docentes (leia aqui). Eles representam cerca de 3% de quem dá aula na universidade.
O então reitor, João Grandino Rodas, chegou a receber R$ 23 mil mensais –R$ 5 mil a mais do que o governador.
Ninguém sabe o que acontece na USP, mas todos pagam a conta
Tribunal rejeita contas da USP
“Mas quanto ganharia um empresário com uma atividade semelhante a de gerir uma instituição do tamanho da USP?”, perguntou-me um leitor.
Por “tamanho da USP”, entenda-se um universo de cerca de 120 mil pessoas, entre alunos, funcionários e docentes. E um orçamento anual de R$ 5 bilhões.
Eu completo: quanto ganharia um profissional com a mesma formação de um docente “top” da USP se trabalhasse no setor privado?
SALÁRIOS ENGESSADOS
O estabelecimento de teto para salários de docentes característico do Brasil causa estranhamento no ensino superior de elite em todo o mundo.
Universidades competitivas pagam caro para contratar os melhores professores. Por isso, a Universidade de Harvard, dos EUA, que é a melhor do mundo, tem 44 prêmios Nobel no seu corpo docente.
Será que alguns deles toparia dar aula na USP ganhando, aproximadamente, um teto de U$ 10 mil?
Acredito que não.
Além disso, lá fora ganha mais quem produz mais ou dá melhores aulas.
Esse tipo de benefício não acontece no Brasil.
Aqui os salários são nivelados por formação –algo que também é criticada internacionalmente. Tratei disso quando entrevistei Phil Baty, editor do THE (Times Higher Education), principal ranking internacional de universidades (leia aqui).
DEBATE
Obviamente a USP não pode, hoje, pagar salários maiores do que o do governador porque estaria descumprindo a Constituição.
Mas não é o caso de discutirmos como deveriam ser definidos os salários dos docentes?
Enquanto esse tipo de questionamento não for levantado, nossas universidades estarão longe, bem longe, das melhores do mundo.
Um problema da USP é que todos os salários são iguais – não há estímulo financeiro ao mérito. Os salários em si não são ruins comparados com a média do Brasil, mas também não são tão altos para se dizer que querer mais é cobiça indevida. Querer ganhar um pouco a mais é uma ambição natural.
Há 4 modos de ganhar mais. Um é mudar de categoria, de doutor para associado e daí para titular. Mas os aumentos não são grandes e as opções são limitadas.
Outro é esperar o tempo passar e receber aumentos por antiguidade. Não é um estímulo à dedicação.
A 3a opção é ocupar cargos administrativos que conferem vantagens. Às vezes depende mais da política do que do mérito acadêmico, e distorce a função da universidade ao recompensar atividades menos fundamentais do que o ensino e a ciência.
Finalmente, é possível fazer projetos e trabalhos pagos por empresas e organizações não acadêmicas. Alguns dão retorno real para a sociedade, outros são apenas caça níqueis.
O medo é que promoções por mérito acabem sendo mais políticas e arbitrárias do que o sistema atual. Não é fácil mudar a mentalidade corporativista…..
Professores universitários são relativamente mal pagos (em comparação à indústria) no mundo todo, inclusive nas “superpotências” acadêmicas como os Estados Unidos e a Inglaterra por exemplo. O que ainda atrai porém jovens doutores lá para a academia é a possibilidade de uma carreira excitante em pesquisa científica com recursos adequados, os melhores alunos de pós-graduação do mundo disponíveis como orientados e impacto real na sociedade.
Enquanto as universidades no Brasil forem dinossauros burocráticos onde professores funcionários públicos vão apenas para dar “aulinhas”, a carreira acadêmica continuará a ser pouco atrativa. A solução é construirmos universidades de pesquisa de nível internacional, ágeis, flexíveis, bem financiadas e realmente independentes do Estado, como o MIT, Harvard, e similares.
Eu acho que o desenho da remuneração na USP está todo equivocado, até porque tanto o Sintusp quanto a Adusp são ferrenhos defensores da isonomia e radicalmente contra a meritocracia. Acho um absurdo dois funcionários ganharem exatamente o mesmo salário, somente porque ocupam as mesmas funções e cargos e porque entraram na USP no mesmo momento. Quem tem mais iniciativa, mais comprometimento, publica mais artigos em revistas relevantes, orienta mais pós-graduandos, dá mais aulas têm de ganhar mais. A USP paga, a meu ver, menos do que deveria aos professores, que desempenham as atividades-fim da universidade, ou seja, são os funcionários estratégicos, e paga bem acima do mercado para os funcionários técnico-administrativos, que são operacionais (podem ser facilmente substituídos no mercado). O salário inicial de um funcionário técnico-administrativo, cuja função exija nível superior de escolaridade, para trabalhar em jornada de 40h semanais, é hoje de R$ 6.500,00, mesmo que não tenha experiência nenhuma. Muito acima do que pratica o mercado. Para equilibrar as contas da USP e torná-la atraente para cientistas e pesquisadores, inclusive estrangeiros, a universidade tinha que pagar mais aos docentes, mas acabar com a aposentadoria integral. Pagar menos aos técnicos-administrativos (são operacionais, não atuam nas atividades-fim da instituição). E estruturar a remuneração de todos com base na meritocracia, o que implica controles rígidos de desempenho e produtividade. Em suma, enfrentar pra valer o Sintusp e a Adusp, o que duvido que o professor Zago vá fazer.
Concordo que os docentes, por sua importância e responsabilidade deviam ser melhor remunerados mas dizer que os funcionários técnicos são facilmente substituíveis é bem errônea. Você sabe como funciona o ingresso dos funcionários? Sabe quais são suas atribuições? A concorrência é enorme e somente os bem preparados conseguem alcançar um cargo assim. Sou uma especialista em laboratório e muitos de meus colegas participam ativamente dos projetos de pesquisa dos docentes! A bagagem teórica e prática é extensa e não pode ser facilmente substituída como foi dito. A USP só é uma instituição de excelência por causa de seu conjunto, do faxineiro ao reitor. Dizer que a pesquisa anda somente com a presença de um docente é ser cego. Sem os funcionários nenhuma instituição anda.
Pelos diversos comentários de docentes, percebe-se que se acham superiores,”insubstituíveis” e melhores que qualquer outro funcionário público. E devido essa mentalidade arrogante e egocêntrica é que as universidades brasileiras estão bem longe das internacionais. Não sabem trabalhar em equipe, não tem humildade de enxergar seus defeitos e melhorar. A didática é péssima, mas “o problema são os alunos que não tem interesse”. Há “falta de recursos para pesquisa”, mas se esforçam em buscar mais financiamento. As publicações são poucas e de baixo destaque, mas eles realmente orientam seus alunos, acompanham de perto e ajudam com ideias e soluções as pesquisas? A grande maioria, NÃO! E os servidores, que são “dispensáveis”, praticamente levam as universidades nas costas, fazendo o trabalho braçal e também intelectual e de orientação, pois apesar de não ter toda a bagagem teórica dos docentes, tem a bagagem prática (na teoria, a prática é outra…).
E devido a essa falta de reconhecimento, muitos perdem o interesse e tomam 2 caminhos: vão para outros órgãos ou instituições privadas; ou se acomodam e ficam esperando a aposentadoria. Felizmente há algumas exceções de docentes e muitas de servidores.
E para pensar: se os docentes são tão bons, porque durante as greves as universidades param?
Isso que da’ morar no Brasil. Voces podem escolher dar soco em ponto de faca ou cair for a se ainda conseguirem.
Boa sorte sonhando com o impossivel!
A solucao eh bem simples, privatizando as universidades, deixando a criterio do setor privado iria trazer maior competitividade, os administradores iriam investir, e quem pagasse mais levaria o melhor professor, assim como acontece no resto do mundo. O brasileiro precisa parar de ser pageado pelo governo, todos nos sabemos q os servicos publicos nao funcionam, em nenhum lugar do mundo, e num pais onde a maioria da populacao eh corrupta, funciona menos ainda.
Roger, eu acredito em uma solução público-privada, como acontece em muitas universidades de qualidade do mundo. Abraços, Sabine
Discordo. A maior parte do mercado do ensino superior no Brasil está nas mãos do setor privado. Essas instituições são um sucesso financeiro, mas um fracasso acadêmico completo, de forma geral.
Isso não é uma verdade. Não apenas, em várias partes do mundo instituições públicas são importantes, como também, no Brasil, as Universidades privadas não fazem pesquisa.
Podemos até dizer que, no Brasil, só há pesquisa em universidades públicas. O ensino superior privado, em nosso país, é de baixíssimo nível, com poucas exceções.
O engraçado é que vejo comentários sempre com a idéia de quantidade, isto é, quem produz mais deve ganhar mais. O que deve interessar a um profissional é ser de FATO útil. Produzir algo com qualidade, de forma justa e equilibrada. Estou cansado de professores ridículos, que dão uma porcaria de aula e têm currículos enormes (graças aos trabalhos dos pós-graduandos, evidentemente)!!!
Essa é uma discussão que poucos gostam, entretanto, se um cidadão digitar o nome de um servidor público do estado de São Paulo, no site: http://www.transparencia.sp.gov.br; verá o salário do respectivo servidor (médico, professor, policial, etc). Por outro lado, os docentes das universidades paulistas não estão incluídos. A pergunta é: Por que os docentes das universidades públicas são contra a transparência?
Os docentes (sou um) não são contra a isso. As universidades não publicam os salários de forma individual por que na prática a tabela de cargos e salários (disponível publicamente) já é um indicador bastante aproximado do salário da maioria dos docentes.
As diferenças se referem aos quinquênios e possíveis acréscimos por cargos como coordenação de curso, chefia de departamento, etc.
No meu caso, após 24 anos de trabalho, concurso de livre-docência, coordenação de graduação e coordenação de pós-graduação, tenho salário de quase 20 mil reais, que é menos de 1000 reais abaixo do salário do governador. Pelo que fiz e ainda faço considero meu salário baixo.
“As diferenças se referem aos quinquênios e possíveis acréscimos por cargos como coordenação de curso, chefia de departamento, etc.”
O que e’ lamentavel. Um professor deveria ser contratado com um salario baseado na sua qualificacao em geral. Ser “chefe” deveria se rum rodizio voluntario sem aumentar salario. Mas no Brasil e’ tudo assim, enrolado, complicado, pouco transparente, E merito mesmo tem relevancia minima.
Prezado Professor, agradeço seus esclarecimentos, entretanto, sou servidor público estadual e meu nome está lá no site da transparência. Além disso, sou aluno de graduação na USP e sei que alguns docentes (espero que não seja vosso caso) me lembram dos meus tempos de recruta na Força Aérea; e todos nós sabemos que o poder e a administração universitária emana dos docentes. Não questiono méritos mas, vejo ótimos professores sedo postos na “geladeira” desde longa data.
Recomendo o blog do Prof. Adonai sobre o mesmo tema e outros relacionados
http://adonaisantanna.blogspot.com/
Boa parte dos professores de USP, UNESP e Unicamp merecem ganhar mais do que o governador. Isso por dois motivos:
1. Fazem um excelente trabalho quando se avalia suas condições de trabalho (por exemplo, um professor de boa universidade americana dificilmente ministra mais de uma ou duas disciplinas no ano, enquanto aqui temos que ministrar duas por semestre no mínimo)
2. Salário do governador é uma fantasia. Poderia ser de apenas 1 real que não faria diferença alguma, pois o governador não paga conta alguma. Mora de graça, tem empregrados, motoristas, alimentação, roupas, etc, tudo pago pelo estado. Então, o salário dele não é determinado pelo que ele mereceria receber, mas sim para se ter um valor arbitrário de teto.
Agora, parte dos problemas já apontados sobre falta de interesse de professores e coisas do tipo, infelizmente tenho que reconhecer que existem professores acomodados. Mas isso pode ser visto em qualquer área e qualquer empresa. Não é culpa da isonomia de salários, afinal mesmo a isonomia não é tão igualitária assim. Claro que alguns podem optar por “aumentos de salário” automáticos a cada cinco anos. Mas a maioria busca se qualificar, passar de professor assistente (MS3) para professor associado (MS5). Depois disso depende de surgir uma vaga para professor titular (MS6), que é o teto da carreira.
Além disso, recentemente se aprovou uma carreira horizontal, que também exige mérito para promoção.
O problema é que a limitação do teto do governador faz com que os salários, principalmente para os que buscam progressão, é baixo para o que fazem.
Sou da opinião que professores e pesquisadores precisam ter uma remuneração mais agressiva e os funcionários-técnico administrativos que não são “terceirizáveis”, uma remuneração alinhada apenas à mediana de mercado (são operacionais). Mas tenho convicção que tanto em um caso como no outro é preciso ter controle férreo de produtividade e desempenho (é isso que acontece nas universidades anglo-saxônicas, que você mencionou). A estabilidade no emprego e a isonomia, princípios basilares da estrutura de remuneração nas universidades públicas brasileiras, infelizmente, levam a um maior conservadorismo dos salários. Beneficiam os pouco produtivos, penalizam os muito produtivos. Costuma-se dizer: se um professor-doutor da USP fosse atuar numa grande corporação, com a formação que tem, ganharia muito mais. É verdade. Mas se não atingisse metas, seria simplesmente demitido, seis meses depois de ter sido contratado. É o risco que determina ganhos e perdas. Como no mercado financeiro. O serviço público é como a caderneta de poupança. Não se perde nada, mas se ganha pouco. O setor privado é como o mercado de ações. Pode-se ganhar muito, mas se pode perder tudo, também. Será que nossos professores universitários topariam migrar para um universo de risco? Aposto que não. Tenho certeza que não.
A política de remuneração agressiva para pesquisadores/professores seria benéfica se também fosse expandida para outros setores do funcionalismo público. O mério deve ser recompensado, assim como o demérito deve ser punido. Porém, a estabilidade do emprego público é um dos maiores desejos em nossa sociedade, que foje naturalmente de qualquer meio de avaliação e exposição.
Caso o sistema universitário público seja revisto, haverá brecha para revisão de outros sistemas do governo, o que aniquila o plano antes de seu nascimento. A única forma de corrigir o gigantismo do estado (em um logo, porém possível prazo) é com a implementação do voto optativo.
Gustavo: professores universitários ao meu ver não deveriam ser “funcionários públicos”. Não estou propondo um sistema universitário privado ao estilo americano, mas sim algo parecido ao sistema britânico onde as universidades são financiadas pelo Estado, mas são juridicamente corporações autônomas sem fins lucrativos.
Uma precisão Sabine: os salários dos Federais são limitados de outra forma. O salário do governador de SP, usado para Unicamp, Unesp e USP, de R$ 20.662 é o mesmo desde 2008! É legalmente questionável o estado adotar um limite diferente da nação (atualmente cerca de 27 mil).
Sugiro uma matéria sobre quanto ganha um funcionário (não docente da USP)? São 17 mil funcionários e 6 mil docentes. Precisa de tudo isso, se eles forem realmente eficientes? Um professor da USP faz muitas coisas administrativas mesmo assim, porque existem muitos funcionários não auto-suficientes. Na folha de pagamento, qual a porcentagem de pagamentos com funcionários? E incluindo adendos como cartões alimentação?
Prezados, sejamos honestos, o salário inicial de um professor da uso, unesp e unicamp é uma vergonha! Quem não é da área, tem que lembrar que para fazer um concurso é necessário ter título de doutor! Ou seja, 5 anos de graduação + 2 de mestrado + 4 de doutorado = 11 anos de estudo para ganhar um salário inicial de R$ 9.184,94! Se o mesmo sujeito fizer concurso para cargos do governo federal, ganhará pelo menos R$ 3mil a mais, somente com mestrado, as vezes só com a graduação! E nessas universidades, para subir na carreira tem que provar por A+B que tem mérito para isso! Enquanto o sujeito que fez concurso no setor federal, em 3 anos passará de R$10mil para R$13mil, o coitado do professor ainda estará no mesmo salário! Esse ano os reitores decidiram oferecer 0% de dissídio! Então é ótimo ser professor no Brasil, não acham? E o trabalho é de domingo a domingo, no contrato diz que são 40horas/semanais…coitado, isso no final da semana passa de 60 horas. Então, oriente o seu filho a não ser professor, pois nesse país, o importante é dar valor a jogador de futebol, político corrupto, mulher fruta, e cantor sem o ensino fundamental! Eu, como professor de uma estadual paulista, estou desistindo da carreira, e vou procurar fazer concurso federal ou trabalhar no setor privado! Tenho família, tenho contas a pagar! Chega de tanta humilhação e desrespeito!
Sou professor de uma universidade do estado de SP e posso lhes garantir: o salário é uma vergonha! Hoje, só fica nas universidades, quem não tem outra opção! É o meu caso, pois se tivesse convite de qualquer universidade privada, que pagasse bem, não pensaria 2 vezes para dar adeus! As universidades paulistas estão sendo sucateadas, e em breve a qualidade será tão ruim que os alunos em potencial não vão querer mais estudar nesse ambiente. Além disso, é lamentável que não exista benefícios para quem de fato produz; têm muitos encostados que nada fazem e ganham salários iguais. O Brasil está atrasado uns 200 anos em relação ao primeiro mundo! A USP, melhor colocada, não é NADA!