Brasil perde pontos em ranking mundial de universidades jovens
Muita gente diz que as universidades brasileiras vão mal em rankings universitários internacionais porque são jovens.
Tudo bem, não dá para comparar o desempenho a USP, melhor do Brasil, de 1934, com Harvard, melhor dos EUA, criada três séculos antes.
O problema é que as universidades brasileiras estão mal até quando são comparadas com instituições igualmente jovens.
É isso que mostra um ranking das melhores universidades do mundo com menos de 50 anos liberado hoje pelo THE (Times Higher Education).
Na lista, a única brasileira que aparece é a Unicamp, de 1966, em 37º lugar.
Perdeu casas: no ano passado ela estava em 28º lugar.
A Unesp, que é dez anos mais nova, sumiu da lista das 100 melhores do mundo com menos de 50 anos. No ano passado, a instituição estava lá no finalzinho, em 99º lugar.
COREIA DO SUL
A melhor de todas entre as universidades jovens, a sul coreana Universidade Pohang de Ciência e Tecnologia, é ainda mais nova que Unesp e Unicamp. Tem 28 anos.
Essa universidade sul-coreana vai bem também em outras comparações: está em 60º lugar no ranking que compara todas as universidades do mundo (a Unicamp não está nem entre as 300 melhores do mundo).
O que isso significa?
Bom, cair ou subir no ranking das melhores universidades jovens do mundo significa pouca coisa.
LIMITAÇÕES
Isso porque essa listagem é complexa e cheia de limitações.
Esse ranking muda todos os anos porque as universidades “envelhecem”. Daqui alguns anos a própria Unicamp sairá da lista das jovens simplesmente porque terá mais de 50 anos.
Mas vale dizer que a maioria das instituições de ensino superior no Brasil tem menos de 50 anos. Ou seja: o país deveria ter mais escolas entre as melhores do mundo que são jovens.
Cingapura e Hong Kong, por exemplo, têm universidades com pouco mais de 20 anos que já estão entre as dez melhores com menos de 50 anos –e entre as 100 melhores do mundo independentemente da idade.
Se a nossa desculpa era o ensino superior jovem e pouco institucionalizado, bom, esse argumento não cola mais.
Olá Sabine,
Embora a juventude possa explicar parte do problema das universidades brasileiras, de fato não pode ser responsabilizada como a principal fonte de problemas.
Eles estão ligados principalmente à natureza pública das boas universidades brasileiras. Essa natureza cria duas dificuldades para se chegar ao “topo” desses rankings.
A primeira é a de financiamento e gestão. Enquanto chove dinheiro nos lugares certos nas jovens universidades asiáticas, nas brasileiras isso não ocorre. O dinheiro que já é curto nem sempre é bem aplicado.
Além disso, do lado de gestão de recursos humanos temos o problema de que contratações de professores e pesquisadores apenas pode ser feita através de concursos e a legislação sobre isso é tacanha demais, impedindo a participação de candidatos estrangeiros que ainda não residam no país (além de não se poder pagar salários diferenciados por mérito e nem ultrapassar o salário do governador). Isso dificulta muito a atração de pesquisadores de primeira linha, que são fator preponderante nos rankings.
Um segundo problema é o de foco. Ter uma universidade atuando em todas as subáreas do conhecimento, como é o caso das nossas públicas, dificulta o surgimento e financiamento de grupos de excelência. Ao tentar fazer de tudo (e de tudo mesmo), acabam por não fazer nada de forma excepcionalmente bem.
Pior que isso é saber que as universidades citadas são mantidas pela iniciativa privada e aqui isso não ocorre.
Precisamos entender porque no Brasil a iniciativa privada não consegue atuar no ensino superior de forma qualitativa, se destacando apenas na quantidade monstruosa de alunos formados.
ESSA ANÁLISE É TOTALMENTE SUPERFICIAL E SEM NENHUMA CREDIBILIDADE. Times Higher Education???????????? QUE PORCARIA É ESSA? UOL, NÃO É QUALQUER PUBLICAÇÃO QUE PODE SER LEVADO A SÉRIO. VAMOS COMEÇAR A COLOCAR PUBLICAÇÕES COM CREDIBILDIADE, NÃO LIXOS IGUAIS A ESSE!
Rankings em si não significam muita coisa. Mesmo assim, a indicação que eles dão está correta. As universidades no Brasil sofrem de burocra mental. O ensino e a pesquisa são reprimidos pelos próprios professores, que dão mais valor às regras e procedimentos do que à ciência e ao estudante.
É um conjunto enorme de fatores que acaba produzindo resultados como esse que a Sabine enunciou.
Cotas são um fator que não contribui para a melhoria do ensino superior. Aprovação automática (no ensino básico) não contribui para a melhoria do ensino superior. Desindustrialização não contribui para a melhoria do ensino superior. Ideologias obsoletas não contribuem para a melhoria do ensino superior. Movimentos estudantis anacrônicos não contribuem para a melhoria do ensino superior.
A lista é grande.
Mostre algum estudo provando que cota prejudicou algum curso, pois nunca achei. É meio misterioso, mas …
Eu não disse que prejudicou.
O que eu disse foi que não ajudou.
Quando o assunto são as universidades, eu me lembro daquele famoso discurso do Kennedy: o que eu posso fazer pelo meu país?
Só se vê gente preocupada com o que a universidade pode fazer POR MIM, mas não se vê quase ninguém preocupado com o que EU posso fazer pela universidade.
É quase como se apenas as universidades tivessem obrigações para com os cidadãos, que, por sua vez, se vêem sem nenhuma obrigação diante das universidades.
De onde só se tira, só se tira, e nunca se repõe, o resultado é esse que estamos vendo… a queda generalizada do nível de ensino.
Não é nenhum exagero dizer que as universidades estão sendo usadas simplesmente como trampolim de ascensão social. Elas me interessam apenas enquanto eu preciso delas para tirar o meu famigerado diploma (passaporte para ascensão social). Fora isso, não me servem para mais nada.
Por isso eu fiz aquelas perguntas lá em cima.
As cotas ajudaram a elevar o nível do ensino superior? Se alguém tiver conhecimento de alguma pesquisa que prove essa tese, por favor, compartilhe comigo.
A aprovação automática do ensino básico ajudou a elevar o nível do ensino superior? Se alguém tiver provas disso, por favor, compartilhe.
Como eu disse, a lista é longa…..
André, a questão de cotas, assim como muitas outras coisas, não tem como objetivo a melhoria direta da universidade. Seu objetivo é melhorar o acesso ao ensino superior a quem não tinha oportunidade disso. Nesse sentido ela é bem sucedida. Num futuro distante pode resultar em melhoria da universidade ao permitir que mais pessoas tenham acesso (e possam fazer parte de grupos de pesquisa), mas isso só o tempo dirá.
Quanto à progressão continuada (não deveria ser aprovação automática como ficou), o objetivo não é o ensino superior e, portanto, não deveria resultar em sua melhoria ou não. Da mesma forma que as cotas, poderia resultar, se bem aplicada, em melhoria no futuro, ao aumentar o número de pessoas chegando ao ensino superior.
Agora, quanto ao fato do ensino superior ser usado como trampolim social, isso ocorre no mundo todo e deve ser assim mesmo. O problema no Brasil é que depois de formado o aluno vira as costas para a universidade, o que não ocorre nos EUA, por exemplo, em que ex-alunos continuam doando dinheiro para a sua universidade (e muito dinheiro no caso de quem fica milionário).
Nesse sentido concordo que o brasileiro não costuma fazer a pergunta sobre o que pode fazer pela universidade.
Aleardo, nenhum dos tecnocratas que incentivaram o uso das cotas ou da aprovação automática pensou (por um segundo sequer!) no futuro das universidades. Vou além: nenhum desses tecnocratas sequer se deu ao trabalho de pensar nas consequências que as cotas teriam dentro do ambiente universitário.
O Brasil é um país em que governos arrecadam muito e devolvem praticamente nada aos cidadãos. A lógica da política nacional é a seguinte: quanto mais eu arrecadar e quanto menos eu der, melhor para mim e para o meu partido.
Dentro dessa lógica, será possível que ninguém perceba que os governos brasileiros incentivam o uso das cotas simplesmente porque elas lhes são muito convenientes?
Ou você acha mesmo, Aleardo, que os governantes brasileiros que defendem as cotas têm essa postura porque elas serão benéficas para o futuro do país e do povo brasileiro? Você acredita mesmo na boa intenção daquela gente palaciana? Eu não.
As cotas são uma invenção norte-americana, surgida num certo contexto, e que foi espertamente importada pelos políticos brasileiros. Eles se apropriaram dessa idéia porque viram que ela lhes seria duplamente benéfica: ela é simpática aos olhos do povo, ao mesmo tempo em que joga para o colo das universidades um abacaxi que não caberia às universidades ter que descascar.
Perceba: quem está em dívida com a sociedade não é a USP, nem a UFRJ ou a UNICAMP, mas sim os governantes que arrecadaram e não cumpriram sua obrigação de oferecer (ao contribuinte) um ensino público fundamental de qualidade.
Acontece, porém, que nossos políticos são espertos; eles sabem que, a partir do momento em que as cotas garantirem o acesso à universidade, o governo posará de justiceiro social e o povo se sentirá acolhido, cessando de cobrar melhorias no ensino fundamental. Cessando aquela cobrança, é óbvio que sobra mais dinheiro para a máquina estatal gastar em seu próprio benefício.
O tema que a Sabine propôs não tem nada a ver com cotas, eu sei, mas acontece que as cotas têm sim uma participação no atual estado de coisas da universidade brasileira. Não no sentido de que elas estejam destruindo o bom nível das universidades, mas sim no sentido de que as cotas evidenciam o quanto as universidades estão sendo usadas para fins políticos, populistas, demagógicos e eleitoreiros.
Quem duvida disso, basta ver os rankings.
Falando agora como cidadão, eu não quero cotas.
Quero sim que todos os estudantes brasileiros – ricos ou pobres – aprendam Análise Sintática e Equações do 2º Grau.
É para isso que pagamos impostos. Todos somos contribuintes, então todos temos esse mesmo direito. Isso é o mais BÁSICO que se pode esperar de um regime republicano!!!
André;
Parabéns pela sua análise. Concordo plenamente. Irretocável!
As universidades brasileiras são de inspiração napoleônica. Não confessam, mas assim como as francesas, objetivam formar tecnocratas e burocratas para a administração do Estado. Ou seja, nelas somos formados para servir ao Estado e para atender às próprias necessidades da burocracia estatal. Trata-se de universidades voltadas para si. Já as anglo-saxônicas, oriundas de sociedades onde os valores individuais são mais fortes, formam seus estudantes para servir à sociedade e as empresas. São movidas pela competição, pelas necessidades concretas e imediatas dos indivíduos e das forças produtivas. Além disso, nos países anglo-saxônicos as universidades são mais temáticas, concentradas em poucas áreas do conhecimento. Não sofrem do elefantismo das públicas brasileiras. São mais ágeis, também, para buscar fontes alternativas de financiamento. Essas coisas ajudam a explicar porque nossas universidades são menos competitivas. Na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, quase houve um levante porque os anfiteatros foram batizados com os nomes dos doadores que viabilizaram suas reformas. Imagine só o desafio que temos pela frente para superar essas amarras.
Com ranking ou sem ranking , as brasileiras são fraquinhas.
Começa pelo ridículo esquema de eleição de reitor. Algo que apenas por acidente vai resultar no melhor possível para exercer o cargo.
A estrutura administrativa beira o caos. Mérito quase nunca leva a algum lugar.
As vezes uns profissionais de excelente qualidade são produzidos, mas não por causa da universidade, mais pela capacidade individual.
E vai piorar, há vem piorando.
Nesse debate sobre a qualidade das universidades brasileiras, o quesito cotas talvez seja inapropriado, até porque não se debatem apenas as IES públicas. Mas, é também inevitável.
Evidente que as cotas só se justificam pela incapacidade dos cotistas em disputarem em igualdade de condições as vagas universitárias com os não cotistas, não interessando aí razões de ordem social ou racial ou qual seja.
Ora, se os cotistas são incompetentes – pelo menos essa é uma leitura possível da visão dos que defendem as cotas – então as universidades não poderiam acolhê-los. Aliás, o mote “universidade para todos” é uma tremenda falácia.
Uma pretensa incompetência, agora generalizada ao conjunto dos discentes, é a mesma que os tornam apenas medíocres nos ensinos fundamental e médio. São pessoas que não se tornam estudantes (condição de quem apreende e desenvolve conceitos) ainda que, na condição de matriculados, sejam alunos. E as universidades, se não são, deveriam ser apenas para estudantes, preferencialmente ótimos estudantes, simplesmente porque são esses que poderão contribuir para a excelência da instituição onde estudam. Claro que professores que dominam amplamente os conteúdos ministrados, assim como equipamentos e instalações de primeira categoria, são condições essenciais numa universidade, mas são os alunos-estudantes que pesam. Afinal, são os estudantes de hoje que serão os futuros doutores, pesquisadores cujas descobertas serão apresentadas em teses defendidas. Então, aí aparecem outros problemas: nossos alunos são pouco criativos para as coisas das ciências, não são persistentes ante desafios e não sabem articular o raciocínio. Enfim, as universidades brasileiras não sairão tão cedo da condição de lanterninhas em que se encontram.
Sabine
Qual o próximo post?
Obrigada pela cobrança! Sabine