O que está por trás de “mãe é quem educa, pai é quem paga as contas”

Sabine Righetti

Eu não assisto novela. Costumo deixar a TV desligada à noite em casa, pois passo muitas horas do dia diante de várias TVs ligadas na redação. Em casa, ouço música.

Ontem, no entanto, a TV estava ligada na novela das nove, da Rede Globo, enquanto eu preparava o jantar. Foi tempo suficiente para ouvir a seguinte frase, dita em um diálogo entre mãe para filha: “Mãe é quem educa, pai é quem paga as contas.”

Resolvi prestar atenção.

A mãe, Helena, personagem principal da trama, interpretada por Júlia Lemmertz, tentava conversar com a filha, interpretada por Bruna Marquezine (a namorada do Neymar), sobre o relacionamento dela com um cara mais velho.

Mães ainda são maioria nas reuniões das escolas

E aí surgiu a tal frase. Pois bem. O que há por trás da ideia de que “mãe é quem educa, pai é quem paga a conta”?

São dois pontos principais:  a ideia de que a educação dos filhos não é coisa para homem e a ideia de que a mulher é incapaz de ganhar o suficiente para sustentar um filho (e, talvez, a si própria).

Há também a ideia de divisão de tarefas por gênero. Enquanto um educa (a mulher), o outro paga as contas (o homem).

Já escrevi sobre o primeiro ponto algumas vezes aqui no blog. Ainda hoje, no Brasil, as mulheres são maioria nas reuniões das escolas, costumam acompanhar as tarefas de casa mais do que os pais e estão mais presentes na hora de dar bronca.

MAIORIA FEMININA

Também nas escolas o papel da educação é delegado à mulher. No Brasil, 80% dos docentes são mulheres e têm em média 40 anos anos (leia sobre isso aqui).

Isso, no entanto, está mudando. A geração de novos papais tem se mostrado muito mais presente do que os papais anteriores. E esse movimento tende a crescer aos poucos porque a mulher tem ganhado mais espaço no mercado de trabalho e o homem tem ganhado mais espaço em casa.

Bom, mas pela lógica da personagem da novela, o pai não educa porque paga as contas. Ok, vamos investigar isso.

Resolvi pesquisar sobre a tal Helena. De acordo com perfil no site da própria Globo, ela é uma “mulher independente”, com “personalidade forte”. E mais: é dona de uma casa de leilões. Isso dá dinheiro, certo?

Já o marido dela, Virgílio, “cavaleiro de Goiânia”, interpretado por Humberto Martins, “ajuda a esposa na casa de leilões” (do mesmo site da Globo).

Hum. Parece que, nesse caso, a mãe é quem está pagando as contas, não?

Qual é o problema disso? Nenhum. O problema é delegar à mulher a função solitária de educar as crianças mesmo quando existe a figura de um homem na família. Essa tarefa deve ser dividida entre pai e mãe, cada casal da sua maneira.

O pai deve estar presente além das brincadeiras e do pagamento das contas. Seria bom mostrar isso em uma novela.