Avaliação da educação básica revela ineficiência extrema das escolas

Sabine Righetti

A infinitude de dados sobre educação básica divulgados pelo MEC na última sexta-feira (5) deixa pelo menos uma certeza: a escola no Brasil continua sendo extremamente ineficiente. E não há nem sinal de mudança.

Vamos analisar juntos.

Os dados divulgados pelo governo são resultado da prova do Ideb (Índice Brasileiro de Educação Básica). É um exame aplicado no final de cada ciclo da educação brasileira: no 5º ano do ensino fundamental (os chamados “anos iniciais”), no 9º ano do ensino fundamental (os “anos finais”) e no 3º ano do ensino médio.

Confira as notas do Ideb por Estado

Essa prova é feita em todas as escolas públicas do país e em um conjunto de escolas particulares, de maneira que a amostra seja representativa nacionalmente.

Os dados mostram que as notas dos alunos vão despencando conforme os anos avançam.

Vamos pegar o caso do Estado de São Paulo. No final dos anos inicias (5º ano do ensino fundamental), a nota ficou em 5,70 –e até melhorou em relação à última avaliação, de 2011, quando a nota ficou em 5,40.

Na conclusão dos anos finais (9º ano do ensino fundamental), a coisa piora. A nota, em São Paulo, cai para 4,40, um pouquinho melhor do que a avaliação de 2011 (cuja nota ficou em 4,30).

GARGALO NO ENSINO MÉDIO

Aí chega o ensino médio, com 3,70 na prova –conceito ainda pior do que em 2011, quando a nota ficou em 3,90. Ao todo, 16 Estados brasileiros tiveram notas piores no ensino médio público em comparação às suas próprias notas em 2011.

Por que as notas obtidas nos anos iniciais da escola são o teto máximo da avaliação e, ao longo do caminho escolar, o aluno só piora?

Simples: isso acontece porque a escola é ineficiente. Quem chega ao ensino médio no Brasil hoje traz um acúmulo de problemas de formação desde o começo do ensino fundamental. São déficits de aprendizado que compõem uma espécie de efeito cascata ao longo dos anos escolares e desembocam com força no final do período escolar.

Funciona mais ou menos assim: sem ter aprendido direito a fazer contas ou a interpretar textos nos primeiros anos do ensino fundamental, o aluno brasileiro derrapa nos anos finais, quando encontra disciplinas específicas como física e química.

Diante de tanta dificuldade, a possibilidade de que o aluno desista é imensa. E, no Brasil, sim, os alunos desistem: hoje, metade dos estudantes brasileiros simplesmente não termina o ensino médio. Os alunos ficam pelo caminho.

Como pode um país onde faltam médicos e engenheiros permitir que metade dos jovens que entram na escola simplesmente fiquem pelo caminho sem terminar o ensino médio?

Formar metade de quem entra na escola é desastroso. É um índice de 50% de perda. Se a educação brasileira fosse uma empresa, estaria falida.

E, pior: o Ideb revela o desempenho justamente de quem permaneceu na escola, ou seja, de quem fez a prova do 3º ano do ensino médio. Trocando em miúdos, nem os melhores e mais persistentes alunos, que são os que ficaram na escola, conseguem bons resultados.

O problema, para especialistas em educação como Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, é que o sistema não olha para as crianças que estão com dificuldade ao longo do caminho: “O aluno que chega ao ensino médio não veio de Marte, ele veio do ensino fundamental que tem problemas.”

Sim, o ensino fundamental tem problemas que desembocam no ensino médio, que também tem problemas. Diante de indicadores tão negativos, a única pergunta que consigo fazer agora é: até quando vamos continuar ignorando esses problemas?