Programa de pós de Oxford atrai aluno canadense para estudar no Brasil
Há pelo menos dois grandes desafios para os programas de pós-graduação em todo o mundo: ter alunos de várias áreas e de vários países. Isso significa, na linguagem acadêmica, ser multidisciplinar e internacional.
Outro dia conheci um programa de mestrado interessante da Universidade de Oxford, no Reino Unido (a 2ª melhor do mundo, de acordo com o ranking THE), que consegue reunir os dois quesitos. Isso é bem raro. Para se ter uma ideia, um dos alunos que conheci, Nico Andrade, é canadense (de família equatoriana) e está fazendo a pesquisa de campo dele no Brasil.
O programa é um mestrado em políticas públicas da “Blavatnik School of Government”, da Universidade de Oxford. O estudante que conheci, Nico Andrade, está estudando, em Oxford, políticas públicas para prevenção de incêndios… no Brasil. A ideia surgiu após a tragédia de Santa Maria (RS), onde um incêndio em uma boate deixou 242 mortos, em janeiro de 2013.
“Não há, no Brasil, obrigatoriedade de uso de sensores de fumaça com alarme ou de splinkers, que identificam possíveis incêndios e disparam jatos de água”, diz. Esse tipo de recurso é obrigatório em vários países do mundo, inclusive nos EUA, Canadá e no Reino Unido.
Eu conheço bem esses alarmes porque eles costumavam disparar frequentemente na minha casa, durante o inverno que passei nos EUA, enquanto eu cozinhava. Sem poder deixar as janelas abertas por causa do frio, cozinhava com o ambiente fechada e os sensores identificavam a fumaça como um possível incêndio. Os alarmes disparavam.
Ainda de acordo com a pesquisa de Andrade, não há, no Brasil, bases de dados consolidadas sobre quantidades de incêndios. Esses dados são fundamentais para, justamente, desenhar políticas públicas na área. Sem saber a frequência, a localidade e as causas mais comuns dos incêndios, como evitá-los?
CAZAQUISTÃO
Além de Andrade, que é formado em ciência política e relações internacionais, outros estudantes estrangeiros do curso de Oxford também estão de passagem pelo Brasil. Um deles é do Cazaquistão e está estudando, no Brasil, as políticas públicas para o etanol –assunto que interessa seu país de origem.
Outros alunos do mestrado estão espalhados em campo por outros países. De acordo com Ranjita Rajan, uma das responsáveis pelo programa, há alunos de todas as partes do mundo e a ideia é que esses estudantes saiam da “zona de conforto” e façam o campo em um lugar, por exemplo, jamais visitado. Ou seja: estudantes do Canadá e do Cazaquistão acabam vindo para no Brasil.
Não é incrível?
A proposta fica mais interessante ainda se pensarmos que se trata de um programa de políticas públicas. Ora, para se desenhar uma política é preciso conhecer a realidade do país. Ou seja, os alunos em campo precisam fazer uma imersão em algo totalmente novo.
Hoje, não conheço nenhum programa de mestrado ou de doutorado do Brasil que tenha uma proposta parecida com essa. E nem sequer que tenha tantos alunos estrangeiros –justamente porque nossas aulas são em português.
Rajan me disse que a próxima turma do programa, que começa agora neste semestre, terá três brasileiros. Disse ainda que Oxford tem bastante interesse em estudantes daqui, mas que as vagas do curso não são muito disputadas por brasileiros (ou por latinos, de maneira geral). Isso é praticamente um convite a jovens brasileiros interessados em estudar políticas públicas, não?