Presidenciáveis falam sobre redução de disciplinas na escola; entenda

Sabine Righetti

Quem assistiu ao debate dos candidatos à presidência, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), nesta terça-feira (14), viu que a necessidade de redução de disciplinas no ensino médio foi mencionada, mas não foi explicada. Alguém sabe por que ter menos disciplinas é um dos assuntos da pauta de educação do país?

Hoje, o ensino médio brasileiro tem 12 disciplinas, como as tradicionais matemática, português, biologia e também cursos como sociologia e filosofia, que passaram a ser obrigatórios por lei a partir de 2008.

O que os especialistas em educação dizem é que ter tantas disciplinas assim faz com que os estudantes não consigam se conectar com nenhuma das disciplinas. E com nenhum professor. Ou seja: o professor entra, fala, sai e o aluno fica perdido no meio do conteúdo.

O resultado? É no ensino médio que estão os piores indicadores de educação do país.

As alternativas ao excesso de disciplinas são interessantes. Uma das propostas que o MEC estuda –mas que não foi mencionada no debate dos presidenciáveis– é a unificação de alguns cursos em grupos. Assim, história, geografia, filosofia e sociologia, por exemplo, ficariam juntas em “ciências humanas”. Outros grupos seriam “ciências da natureza”, “matemática e suas tecnologias” e “linguagens”.

É com essa divisão, aliás, que são dispostas as questões no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Há quem diga ainda que o ensino médio poderia ser ainda mais multidisciplinar. Desse modo, biologia e matemática, por exemplo, poderiam ser ensinadas juntas, misturando cálculo e botânica, por exemplo. O problema é que o professor de biologia é formado em uma licenciatura e, quem dá aula em matemática, faz outra licenciatura. Quem vai dar aula de um curso com formato multidisciplinar?

A formação de professores, aliás, vale dizer, nem passou pelo debate dos presidenciáveis. Também não ouvi nada sobre currículo comum nas diferentes etapas de ensino –hoje, o que se ensina na escola é baseado principalmente no conteúdo cobrado em exames como o Enem. Mais: os candidatos à presidência falaram sobre a importância do ensino em período integral, mas não explicaram como farão para ampliar a quantidade de horas de estudos dos estudantes.

‘GAP’ DO ENSINO MÉDIO

Discutir o ensino médio é especialmente importante no Brasil. Apenas 50% dos brasileirinhos que entram na escola simplesmente não terminam o ensino médio. Isso significa que um em dois estudantes do Brasil fica pelo caminho. Isso é grave demais.

O que se diz no Brasil e em outros países, como nos Estados Unidos, onde estou nesse momento, é que o estudante desiste da escola quando não consegue mais acompanhar as aulas. Vai mal em algumas das muitas disciplinas, não recebe assistência, acaba se perdendo e desiste.

O aluno também desiste porque não vê perspectiva depois da escola, não enxerga possibilidades, oportunidades. Ou simplesmente acha a escola chata, fora da sua realidade, irreal, abstrata –e muitas vezes a escola é tudo isso, mesmo.

Em algum momento do debate dos candidatos à presidência, foi mencionado que o ensino médio é responsabilidade dos estados e não do governo federal. É verdade. Mas os indicadores de educação no Brasil estão péssimos e só pioram. É preciso reagir. Cabe ao governo federal definir políticas públicas para melhorar a educação como um todo e cabe à sociedade cobrar os governos e contribuir para que a educação no Brasil suba de nível.

Vamos nessa?

 

Esse post foi escrito de Pittsburgh, Estados Unidos, onde estou conduzindo uma pesquisa sobre educação, inovação e empreendedorismo com apoio da Fundação Eisenhower.