Mentor na universidade triplica chance de aluno ser bem sucedido

Sabine Righetti

Uma pesquisa com egressos de universidades dos EUA, divulgada recentemente pelo Instituto Gallup, mostrou algo bem interessante: os alunos que tiveram um mentor durante a graduação têm duas vezes mais chances de serem bem sucedidos após formados. Aqui, entende-se como “mentor” um professor com o qual o aluno trabalhou de maneira bem próxima durante a graduação, que auxiliou nos estudos, na definição de quais disciplinas cursar e que deu alguma orientação em termos de carreira.

Parece simples, mas o resultado da pesquisa do Gallup fez com que reitores e gestores de muitas universidades dos EUA torcessem o nariz. Isso porque ser “mentor” não faz parte da atividade docente na maioria das escolas –especialmente nas universidades “top”. Hoje, apenas um em cada cinco egressos de universidade dos EUA diz ter tido um mentor durante a graduação. O número é ainda menor nas melhores universidades do país.

O resultado da pesquisa mostra que um professor que atua como mentor pode ser muito mais eficiente, para o aluno, do que um docente com prêmio Nobel ou aquele tem muitos artigos em revistas científicas como “Nature” e “Science”.

O problema é que, até agora, todas as formas de avaliação de universidades –seja do governo, das próprias universidades ou mesmo dos rankings universitários– definem que o bom professor é aquele que tem prêmios, muitos artigos científicos e que ganha bem. Nenhuma avaliação de ensino superior considera o impacto da relação dos docentes com os alunos.

E agora?

De acordo com Brandon Busteed, diretor das pesquisas de educação do Gallup, com quem conversei durante uma pesquisa que estou fazendo nos Estados Unidos, alguns gestores das grandes universidades norte-americanas reagiram à pesquisa dizendo que não dá para ter um mentor para cada aluno. “Mas quanto custa um prêmio Nobel?”, pergunta. Para se ter uma ideia, Harvard tem 44 pesquisadores com prêmio Nobel no seu corpo docente (O Brasil inteiro não tem nenhum!)

MULHERES E NEGROS

A pesquisa do Gallup também reforça a necessidade de diversidade no corpo docente. Explico: de acordo com os resultados, o aluno tende a procurar um mentor com o qual ele se identifique. Mulheres tendem a buscar docentes mulheres, negros tendem a buscar docentes negros e por aí vai. Se a universidade tiver maioria docente branca e masculina, a tendência é que alunos homens e brancos tenham mais possibilidade de ter um mentor –e, consequentemente, de ter uma carreira bem sucedida após se formarem– do que as minorias (mulheres e negros).

Esse resultado é importantíssimo. Se as universidades quiserem ser mais atrativas para minorias, devem se certificar de que as minorias também estejam no seu corpo docente. Simples assim.

De acordo com Busteed, os egressos entrevistados pelo estudo não hesitaram ao serem questionados sobre a mentoria durante a graduação. “Se o egresso teve um mentor durante a graduação, a pessoa é identificada na hora”, diz. Fato: quando Busteed me perguntou sobre a minha experiência eu também não titubeei: no meu caso, posso chamar de “mentor” um professor de história que tive durante a graduação em jornalismo, Célio José Losnak. Ele me orientou por dois anos em uma bolsa de iniciação científica.

Pois veja que coincidência: outro estudo, da FGV-SP, já havia relacionado a atividade de iniciação científica durante a graduação a egressos bem sucedidos na área de administração. Ou seja: a importância da mentoria e de um trabalho próximo de professores e alunos durante a universidade só se reforça.

SEM INFORMAÇÃO

Isso tudo é uma novidade porque as universidades dos EUA têm pouca informação sobre os egressos. Poucas acompanham os formados para saber se estão empregados na área em que estudaram, se ganham bem e se ocupam cargos de liderança. O mesmo acontece no Brasil: as três edições do RUF – Ranking Universitário Folha tentaram levantar, sem sucesso, dados sobre egressos do ensino superior brasileiro.

Mas se não sabemos como está o egresso, como é possível saber se o serviço prestado (ensino superior) foi eficiente? “A indústria acompanha o consumidor quando vende um produto. Da mesma forma, as universidades poderiam acompanhar os egressos”, diz Busteed. Concordo.

 

Esse post foi escrito de Washington D.C., EUA, onde estou conduzindo uma pesquisa sobre inovação com apoio da Einsenhower Fellowships.