Ex-bolsista do Ciência sem Fronteiras cria portal com ideias de egressos

Sabine Righetti

No próximo mês de fevereiro, o governo federal deve atingir a meta de ter enviado 101 mil estudantes para uma temporada de estudos no exterior pelo programa Ciência sem Fronteiras. O que cada um deles traz de volta ao país? “Um monte de ideias que, hoje, estão dispersas”, diz o ex-bolsista e estudante de engenharia na UFABC Peirol Gomes, 25.

Incomodado com a situação, ele e dois amigos da UFABC resolveram criar o MyCsF, um portal que reúne ex-bolsistas do programa e que pretende compilar as ideias que cada um deles traz na mala quando volta ao Brasil.

A proposta do estudante –que passou por três universidades dos EUA em nove meses de bolsa, incluindo Stanford University, uma das melhores do mundo,– é bem simples: cada ex-bolsista do programa deve compartilhar, por texto ou vídeo, alguma história que tenha marcado positivamente o seu período de estudos e que possa ter um impacto no ensino superior do Brasil.

Gomes, por exemplo, compartilha uma experiência interessante. Ele ficou impressionado com a sua produtividade acadêmica fora da sala de aula. Isso foi possível porque a carga horária de disciplinas nos EUA é bem menor do que no Brasil: foram 14 horas semanais naquele país contra 25 horas semanais no Brasil.

Menos tempo em sala de aula significou mais atividades extra-curriculares (no caso dele, voltadas ao estudo de empreendedorismo). “Seria interessante discutir a carga horária no Brasil”, diz. “Muita gente se sente frustrado quando volta do programa. Cada ex-bolsista está cheio de energia e de ideias, que precisam ser compartilhadas.”

101 MIL ‘FUNCIONÁRIOS’

Usando uma metáfora do próprio estudante: se o governo fosse uma empresa que enviara 101 mil funcionários para estagiar em grandes companhias mundo afora, será que o conhecimento adquirido por esses funcionários, assim que eles voltassem para a empresa, não seria melhor aproveitado?

Pois é.

Se a proposta der certo, as ideias dos egressos do CsF, quando implementadas, podem servir como um retorno à sociedade brasileira, que tirou de bolso mais de R$ 3 bilhões para custear milhares de temporadas de estudos no exterior. O valor é maior do que o orçamento anual da Unicamp.

Mais: a troca pública de informações e de experiências pode ajudar quem está começando a bolsa agora e quem pretende aplicar para o “Ciência sem Fronteiras 2.0”, nova versão do programa. “Eu teria aproveitado melhor o programa se estivesse mais bem informado quando tive a bolsa em 2012”, diz o estudante.

Ok, bacana. Perguntas: será que as universidades brasileiras estão preparadas e suficientemente abertas para ouvir as ideias e críticas de quem está voltando de algumas das melhores instituições de ensino do mundo? Se estão, por que não ouviram esses alunos até agora?