‘Educamos meninas mal porque tratamos mulheres mal’, diz Michelle Obama
Se quisermos mais meninas nas escolas, precisamos refletir sobre como tratamos as mulheres na sociedade. Essa foi a mensagem da primeira-dama dos EUA, Michelle Obama, em discurso de abertura do WISE 2015, um dos principais congressos de educação do mundo.
“Não podemos separar a maneira como educamos as meninas e como tratamos as mulheres”, disse a senhora Obama no evento que começou nesta quarta-feira (4) em Doha, no Qatar.
De acordo com Michelle, ainda existem meninas fora da escola porque vemos as mulheres como cidadãs de segunda classe –o que está ligado a assédio sexual, à violência doméstica e ao estupro.
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Famílias ainda priorizam a educação dos filhos homens
Ativista do direito à educação de meninas, Michelle foi uma escolha certa para abrir o WISE em um momento em que a educação das meninas está mais ameaçada com o avanço de movimentos extremistas que perseguem meninas que estudam, destroem escolas femininas e sequestram crianças para casamento. “Estamos regredindo”, disse a xeica Moza bint Nasser, presidente da Fundação Qatar, que mantém o congresso.
NA SÍRIA
Situações de pobreza e de conflito, em geral, expulsam as meninas da escola. Exemplo disso é que o número de meninas casadas (e fora da escola) na Síria dobrou desde o início da guerra naquela região, de acordo com Mabel van Oranje, que comanda a ONG “Girls not Brides” (“Garotas e não noivas”). “Educação tem de fazer parte de ações humanitárias”, defendeu.
Mesmo fora da guerra, famílias de todo o mundo ainda priorizam a educação dos filhos homens em detrimento dos estudos das meninas, que acabam se ocupando de tarefas domésticas.
E, sim, isso acontece no Brasil: em pesquisa recente realizado pela ONG internacional Plan, 76,8% das meninas consultadas disseram que lavam a louça em casa, mas que só 12,5% de seus irmãos fazem a mesma tarefa. Trocando em miúdos: mesmo quando matriculadas, as meninas têm menos tempo para estudar do que seus irmãos.
Para Michelle Obama, a inclusão de meninas nas escolas e de mulheres no mercado de trabalho –e nas posições de liderança– devem caminhar juntas. “Precisamos que os homens olhem ao redor nas suas respectivas instituições e se perguntem: onde estão as mulheres na chefia?”
O congresso WISE reúne mais de dois mil acadêmicos, ongueiros e políticos de todo o mundo –como, no caso do Brasil, o ministro Celso Pansera (Ciência) e Carlos Nobre, presidente da Capes (agência federal de fomento à ciência). É uma das apostas dos xeiques do Qatar para tornar o país uma espécie de referência em educação e inovação em todo o mundo.
Sabine Righetti viajou a Doha a convite da organização do WISE