Reorganização das escolas: mudar aluno é diferente de mudar cadeira
Existe uma máxima nos recursos humanos que diz que mudar pessoas de lugar, por exemplo em uma empresa, é diferente de mudar móveis de uma sala para outra. As pessoas que serão afetadas por uma eventual mudança física devem ser consultadas antes de qualquer decisão. É preciso falar com o José e com a Maria antes mudá-los da sala do administrativo para o jurídico.
Pois bem. Parece que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) não entende muito de literatura de recursos humanos. Há dois meses, o governo decidiu que mudaria 311 mil estudantes de escola –cerca de 10% do total matriculado no Estado de São Paulo. Com isso, 92 escolas seriam fechadas.
Digo “seriam” fechadas porque tudo indica que as escolas vão ficar onde estão. Depois de tanto barulho desde o anúncio das mudanças, o governo decidiu voltar tudo como eram antes nesta sexta-feira (4).
Sob protestos, Alckmin suspende plano de reorganização de escolas
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Vamos lá: o argumento do governo era de uma “reorganização escolar”. A Secretaria da Educação do governo disse que precisava dessa mudança para equilibrar o número de salas de aula ociosas versus salas superlotadas. A proposta também seria aumentar, com a reorganização, o número das chamadas escolas de segmento único, ou seja, que oferecem só um ciclo de ensino.
Ok. O problema é que o governo fez o anúncio meio que de qualquer jeito e pegou os alunos e os professores de surpresa. Alguns alunos ficaram sabendo que teriam de mudar de escola porque aquela seria fechada no ano que vem e disseram que não, não vamos mudar. Ao contrário: vamos ocupar a escola até que o governo desista da mudança.
Até agora, já são cerca de 200 escolas do Estado de São Paulo ocupadas. Algumas delas nem seriam afetadas pelas mudanças, mas decidiram apoiar a causa estudantil.
Há quem diga até que a oposição ao PSDB entrou na causa para minar o governo –e o próprio governador já disse que o debate ganhou tom político. Seja como for, os estudantes estão aí por todo os lados reclamando que não querem que a coisa seja feita desse jeito.
EM QUEDA DE MATRÍCULAS
De fato, o número de matriculados vem caindo ano a ano na rede estadual. Nas duas últimas décadas, o sistema público perdeu mais de 2 milhões de alunos. Isso porque as famílias paulistas estão tendo menos filhos e, quando podem, migram seus pequenos para a rede privada de ensino, que cresce em matrículas.
Aumentar o número de escolas dedicadas a determinadas faixas etárias, como propõe o governo, também parece uma boa ideia. As chamadas escolas de segmento único têm resultados melhores do que aquelas que misturam vários níveis de ensino e que colocam no mesmo prédio os pequeninhos da educação infantil e os adolescentes do ensino médio.
Mas, peraí: e aquela família que tem filhos de oito, de doze e de dezessete anos na mesma escola e que não foram consultadas sobre a mudança? Cada um vai para uma escola e os pais que se virem para acompanhá-los? Pois é.
Para piorar a situação, o governo decidiu reagir com agressividade descomunal aos protestos dos estudantes que disseram não, não vou mudar de escola, vou ficar por aqui mesmo e que foram às ruas para reclamar. Teve moleque preso, bombas de gás para todo lado.
EM QUEDA DE POPULARIDADE
A população não gostou do que viu, a popularidade do governador caiu e, nesta sexta-feira (4), o governo Alckmin decidiu suspender a reorganização. Que bagunça!
É claro que a educação paulista precisa ser pensada e reorganizada, mas não dá para fazer isso sem consultar as partes envolvidas. A nova geração de estudantes está aí para mostrar algo importante: nada, agora, será decidido goela abaixo. Os jovens querem ser ouvidos.