Escolhemos a carreira muito antes de o cérebro estar pronto para tomar decisões

Sabine Righetti

Entre as perguntas de leitores que mais recebo aqui no Abecedário, as dúvidas sobre escolha de carreira estão no topo. Devo fazer medicina ou direito? Veterinária ou publicidade? Engenharia civil ou biologia? Em geral, há dúvidas entre cursos bastante diferentes, o que angustia alunos e pais. Eu mesma prestei jornalismo, cinema, veterinária e economia aos 17 anos. Pode?

Pois vejam só que interessante: a explicação para esses questionamentos está no nosso cérebro.

Basicamente, um adolescente que termina o ensino médio no Brasil aos 17 ou 18 anos, em média, não tem condições neurológicas suficientes para tomar uma decisão que vai valer para a vida inteira.

Quantas universidades você visitou antes de escolher a sua?

O nosso cérebro está em constante amadurecimento desde que nascemos. Uma das últimas partes a ser “concluída” é o córtex pré-frontal, que, como o nome diz, fica bem na frente da cabeça –no meio da testa.

É dele a responsabilidade de processar informações referentes a planejamento e a tomada de decisões. O problema é que o córtex pré-frontal amadurece completamente quando temos em torno de 24 anos –bem no final da chamada “idade universitária”, que, oficialmente, é dos 18 aos 24 anos.

IMPULSO

Para piorar o cenário, é na adolescência que o chamado “sistema límbico” cerebral fica mais ativo. Ou seja: é muito mais fácil, nessa fase, tomar decisões por impulso do que por planejamento.

O que fazer?

Bom, em países com ensino superior de ponta, como os Estados Unidos, os alunos entram em cursos universitários  mais “genéricos” e, depois, conforme vão amadurecendo as ideias (e o cérebro), e vão descobrindo as disciplinas, que são eletivas, os jovens afunilam para um determinado curso. Ou dois.

Mais: lá, assim como em boa parte dos países europeus, o ensino médio dura um ano a mais que no Brasil. Após concluído, muitos estudantes escolhem ter um ano sabático para viagens de aprendizado, voluntariado ou mesmo para trabalhar. No fim das contas, a entrada da universidade chega lá pelos 20 anos –o final da adolescência, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde).

“Tirar um ano sabático após a conclusão do ensino médio é uma ótima saída”, explica Andrea Hercowitz, pediatra e hebiatra do Hospital Albert Einstein. “É um ano de amadurecimento.”

Aqui, os alunos terminam a escola mais cedo, aos 17 ou 18 anos, muito antes do amadurecimento do córtex pré-frontal, e precisam decidir às pressas exatamente a carreira que querem para a vida toda. Isso porque as universidades brasileiras oferecem cursos específicos, escolhidos durante o processo seletivo.

Resultado: frustração dos alunos e índices de evasão altíssimos nas universidades –o que significa dinheiro jogado no lixo no caso das universidades públicas.

Para quem não pode tirar um ano sabático, como Hercowitz sugere, aqui vão algumas dicas que podem ajudar um pouquinho a tomada de decisão, apesar das limitações neurológicas:

  • 1. Converse com pelo menos um profissional do curso que pretende fazer e visite seu local de trabalho
  • 2. Visite a universidade que almeja, converse com professores e com alunos. Se possível, assista aulas
  • 3. Veja qual é a grade do curso. Pouca gente sabe, por exemplo, a quantidade de disciplinas obrigatórias de física na graduação de engenharia
  • 4. Visite também cursos que não estão nos seus planos. Você pode se surpreender e mudar de ideia!
  • 5. Tente visualizar sua vida adulta na carreira que planeja, depois que você se formar. Algumas carreiras, como medicina, exigem dedicação plena dos profissionais

Se estiver na dúvida, lembre-se que a “culpa” pode ser do seu cérebro. Peça ajuda e orientação.