O que nossos políticos estão ensinando para os nossos filhos?

Sabine Righetti

Esse post não tem conteúdo partidário. É uma reflexão sobre o que a imensa maioria de nossos políticos anda ensinando para os nossos brasileirinhos, que estão acompanhando de olhinhos arregalados o que está acontecendo em Brasília. Isso especialmente depois da votação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, neste domingo (17).

Vamos lá.

Estamos mostrando aos nossos aluninhos que podemos cuspir na cara do coleguinha se discordarmos do que ele fala. Ou que podemos simplesmente impedir que ele fale (se for algo que sabemos que não vamos gostar, claro) gritando e chamando nossos amiguinhos para que gritem com a gente.

Entenda a tramitação do impeachment

Veja frases dos deputados durante a votação

Nós mostramos que podemos ostentar frases irônicas do tipo “tchau, querida” (acho que a expressão original nem tinha a vírgula, no caso) para se referir a uma autoridade, como um presidente, um chefe ou, no contexto, um professor.

Também deixamos claro que a gente não diz o que pensa, como deveria ser e como ensinamos, mas dizemos o que nos dizem que é pra gente dizer que pensa.

A gente provou que se conseguimos enganar um monte de coleguinhas, roubar a borracha de um amiguinho e quebrar o lápis do outro, ainda assim será possível subir na carteira da sala de aula e julgar outro amiguinho pelos erros que ele cometeu.

A gente mostrou ainda que muitos coleguinhas acham que acabar com direitos, torturar e matar, algo que aprendemos na escola como uma coisa bem feia, e que se chama ditadura, tem apoio de muitos amiguinhos que exaltam 1964 ao julgar os erros atuais de um colega. E recebem aplausos por isso.

Estamos ensinando que fazer amizades com “pessoas-chave” pode ser muito melhor do que se unir àquelas pessoas com as quais compartilhamentos projetos, ideais e valores que dizemos que são bacanas.

BEIJO PRA CÂMERA

Mostramos que devemos ficar atrás de coleguinha quando ele fala, para aparecer mais do que ele. E que devemos colocar nossas ideias de maneira escrita na frente da visão de toda a turma, para que todos só enxerguem aquilo que eu penso e, assim, ninguém consegue prestar atenção no que estão dizendo.

Estamos ensinando que os interesses e direitos individuais (“voto pela minha neta Ana”) são mais importantes que os coletivos mesmo para quem representa a sociedade (os eleitores, afinal).

Provamos que aquilo que o livro didático diz, que no Brasil o Estado é laico, portanto separado dos interesses da igreja (qualquer igreja), é uma bela de uma mentira, já que muitos congressistas votaram em nome de Deus. Amém.

Por fim, mas não menos importante, mostramos que os amiguinhos que apoiam políticos que pensam de maneira distinta uns dos outros podem se xingar de várias palavras feias em redes sociais e mandá-los para lugares bem feios. Isso porque, apesar de batermos no peito para ensinar um monte de coisas para os nossos filhos, nós, os adultos, não aprendemos a ouvir o outro, nem sabemos resolver conflito e nem aprendemos a perder.