Precisamos falar sobre ‘cultura do estupro’ nas escolas

Sabine Righetti

Nos últimos dias, muita gente tem falado sobre a “cultura do estupro” que impera em nosso país. O assunto ganhou as redes sociais –ficou entre os temas mais comentados no Twitter em todo o mundo– depois de dois episódios bárbaros. Foram dois estupros coletivos de adolescentes, um no Rio de Janeiro e outro no Piauí. Boa parte dos agressores era jovem.

Tudo isso aconteceu quando outro estupro coletivo de quatro adolescentes, também no Piauí, completava um ano. Nesse, uma das adolescentes foi morta.

Os fatos não são coincidência. Não devem passar batido. Eles revelam a chamada “cultura do estupro” que assombra o nosso país. É a ideia disseminada de que o corpo da mulher é um objeto, de que as mulheres são desprovidas de direitos e de vontades.

Novos casos revelam o quanto a cultura do estupro impera no país

Pois bem. A única maneira de mudar comportamentos encravados em uma cultura –especialmente os bárbaros– é refletindo sobre eles. E o principal mecanismo que temos de fazer isso é na escola.

SALA DE AULA

Em Castelo do Piauí, a escola pública em que as meninas estupradas coletivamente há um ano estudavam, por exemplo, promoveu uma série de atividades sobre violência sexual. Isso aconteceu porque os estudantes estavam apavorados. Houve relatos de que as meninas, com medo, não queriam mais frequentar as aulas.

Por que, afinal, não promovemos atividades em série sobre violência sexual em todas as escolas do país?

A mesma internet que se indignava com os estupros coletivos também trazia argumentos que culpavam o comportamento, a roupa das vítimas, o fato de estarem sozinhas ou de terem bebido. Oi?

O que estamos ensinando para os nossos meninos para que eles cresçam achando que podem tocar mulheres sem seu consentimento, que devem dizer o que vier à sua cabeça sem que elas tenham perguntado ou –no extremo da violência– que podem forçar uma relação sexual?

Precisamos levar o assunto às escolas, para as aulas de biologia, de história, de português. Não podemos achar que evitar falar de violência –prática comum em muitas instituições de ensino– é uma maneira de proteger os nossos jovens.

Temos de debater o tema com alunos e alunas –e não pode ser uma discussão passiva. Vamos pedir que nossos estudantes produzam sobre o tema, que leiam, que pesquisem, que escrevam, que analisem, que proponham mudanças.

A única maneira de mudar uma cultura é fazer com que a nova geração seja o agente transformador.