Como explicar na escola ‘dois homens se beijando’? Aqui vão algumas dicas.
O recente atentado na boate gay Pulse, em Orlando (EUA), considerado o maior dos EUA desde o 11 de setembro, trouxe um debate nas redes sociais que vale ser trazido para este blog. Muita gente se manifestou contra a homossexualidade sob o argumento de que é “difícil explicá-la para as crianças”. O Abecedário reuniu, então, algumas dicas de como tratar o tema com os estudantes.
Há uma literatura infantil considerável que aborda homossexualidade livre de preconceitos. Os títulos em inglês e em alemão (a Alemanha se preocupa há tempos com o tema!) são mais diversos e mais antigos, mas também é possível achar obras bacanas e recentes na nossa língua portuguesa.
Sobre relacionamento gay, duas boas sugestões em português são as obras infantis “Meus dois pais”, do autor conhecido por suas novelas Walcyr Carrasco (2010, ed. Ática), e “Olívia tem dois pais”, de Márcia Leite (2010, Cia das Letras) –esse último lindamente ilustrado.
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Muita gente pode dizer que, ah, não quer falar sobre relacionamento gay com seus filhos ou com seus estudantes –especialmente em escolas confessionais. Ok, então vale conhecer a literatura infantil que trata de preconceito de maneira ampla. É o caso de “Meu amigo Jim”, de Kitty Crowther (Cosac Naif, 2007). O livro se debruça sobre as diferenças ao contar a história da amizade entre um pássaro todo preto e uma gaivota branquinha.
Vejam que interessante: a obra de Crowther pode servir como base para debater, em sala de aula ou em casa, o preconceito racial ou de gênero –que ainda fere e mata mundo afora.
Títulos em outros idiomas sobre o tema também podem ser usados de maneira multidisciplinar em sala de aula. O curso de inglês para crianças, por exemplo, pode trazer a leitura de obras como “The Princes and the Treasure” (“Os príncipes e o tesouro”, Handsome Prince Publishing, 2014), de Jeffrey Miles. Trata-se de um conto de fadas que termina com o casamento entre dois príncipes.
Outra dica adicional à leitura é a escrita. Pedir que os alunos produzam desenhos ou textos, dependendo do ano escolar, sobre homossexualidade e preconceito pode ser uma ótima forma de fazer com que reflitam e discutam o assunto em sala de aula. Produzir, aliás, é considerado por especialistas em educação o meio mais efetivo de reflexão na escola.
Falar sobre relacionamento gay e preconceito com nossas crianças e jovens é urgente. Não se trata de “incentivar” a homossexualidade, como alguns argumentam, mas de abordar o tema de maneira clara em um país em que o casamento gay é permitido por lei e que a definição de “família” foi alterada. Mais: o Brasil é o país que mais mata homossexuais em todo o mundo, de acordo com o movimento LGBT internacional. Não podemos mais ignorar isso.
Se é difícil falar sobre homossexualidade com nossas crianças, mais difícil ainda –para não dizer impossível– será explicar a violência contra os gays.