Governo atrasa pagamento de bolsistas da graduação e da pós
Quem tem bolsa de pesquisa da Capes ou do CNPq, as duas agências federais que fomentam a ciência no país, pode ter levado um susto neste mês. O pagamento de parte dos bolsistas, previsto para entrar no 5º dia útil de cada mês, ou seja, sexta-feira (5), ainda não caiu.
Desde segunda-feira (8), o Abecedário recebeu pelo menos 30 mensagens de bolsistas de iniciação científica, de mestrado e de doutorado –das duas agências federais– reclamando que ficaram sem receber o benefício neste mês de agosto. Alguns pesquisadores disseram que entraram em contato com o governo, mas ficaram sem resposta.
Agência corta 20% das bolsas nacionais de pesquisa na graduação
Capes e CNPq informaram ao blog que parte dos bolsistas teve atraso no pagamento por “problemas técnicos”. A Capes diz, em nota, que “os bolsistas que não receberam o benefício terão as mensalidades creditadas em suas contas até o fim desta semana”. De acordo com o CNPq, o pagamento será feito em até 48 horas –o que coincide com o fim desta semana.
Uma das bolsistas que falou com a reportagem disse que o atraso recorrente nas bolsas tem causado “desespero” entre quem recebe o benefício. “Todos os meses ficamos nessa mesma apreensão”, diz. “Nunca sabemos quando vamos receber o dinheiro.”
‘SALÁRIO’
A bolsa de pesquisa é uma espécie de salário, sem vínculo empregatício, que os cientistas recebem por um tempo durante a realização de uma pesquisa na graduação (o que é chamado de iniciação científica) ou na pós-graduação. Para se ter uma ideia, a bolsa na graduação é de R$400 mensais e chega a R$2.200 no doutorado.
Pesquisadores empregados não podem receber o benefício. Ou seja, a bolsa é a principal fonte de renda de quem estuda e produz ciência no país.
“Minha sorte é que recebo uma bolsa extra de R$ 550 de estágio docente aqui na universidade, senão eu não teria R$2,00 para o bandeijão!”, disse um bolsista de doutorado, em redes sociais. Outra bolsista disse que, se suas aulas no Rio não tivessem sido interrompidas por causa das Olimpíadas, ela não teria como pagar pelo transporte até a universidade.
O atraso das bolsas coincidiu com um anúncio de corte de 20% das bolsas de iniciação científica do CNPq por falta de recursos, o que causou reação no meio acadêmico. A biomédica Helena Nader, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) chamou o corte de bolsas de “tragédia”. “Estamos vivendo um dos piores tempos da história da ciência do país em termos de cortes de recursos.”
Bolsistas estudando em universidades do exterior, pelo programa Ciência sem Fronteiras, também estão insatisfeitos. A principal reclamação é o imbróglio na renovação da concessão do bolsa de quem faz doutorado pleno no exterior, em até quatro anos. Esse processo é anual, mas a análise do pedido de renovação tem demorado mais do que o esperado –o que acaba interrompendo o benefício de alguns bolsistas.
Em julho, o governo anunciou a liberação de R$ 568,3 milhões extraorçamentários para o pagamento de bolsas de pós-graduação especificamente da Capes, incluindo do programa de intercâmbio Ciência sem Fronteiras. Na ocasião, o ministro da Educação, Mendonça Filho, afirmou que “as bolsas da Capes estão mantidas” e disse que “os estudantes bolsistas podem ficar tranquilos.”