Depois de multa a ex-chefe da USP, atual reitor leva ‘bronca’ do governo

Sabine Righetti

A queda de braços entre entre o atual reitor da USP, Marco Antonio Zago, e o dirigente anterior da universidade, João Grandino Rodas, teve mais um capítulo nos últimos dias. Dessa vez, Zago levou uma “bronca” do governo por ter nomeado uma professora aposentada para o processo administrativo que investiga a gestão do seu antecessor.

A denúncia foi feita pelo próprio Rodas, que entrou com um mandado de segurança para parar o processo alegando que a docente Maria Sylvia di Pietro já está aposentada e, portanto, não poderia fazer parte da comissão processante.

Em resposta a Rodas, a Comissão de Ética da Corregedoria Geral do Governo do Estado de São Paulo definiu que a nomeação da professora aposentada “revista-se da imparcialidade necessária à função”.

O texto da comissão define que não é “correta, do ponto de vista ético, a conduta do representando –Marco Antonio Zago– ao indicar a representada para a função de presidente [do processo administrativo].”

A USP afirmou, via assessoria de imprensa, que Maria Sylvia di Pietro não preside mais o processo administrativo contra Rodas–o nome do novo presidente está sob sigilo.

O material veio à tona alguns dias depois de Rodas ter levado um puxão de orelha também do governo. O ex-reitor da universidade foi multado, em um julgamento do TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo), no último dia 16 de agosto, em R$23,5 mil por irregularidades nas contas de 2013 –último ano de sua gestão. Rodas afirmou à Folha que vai recorrer.

O embate entre reitor e ex-reitor já teve vários episódios. Em outubro do ano passado, o reitor Zago tentou cassar a aposentadoria do ex-reitor Rodas por “lesão aos cofres públicos”. O processo foi revertido meio ano depois: em abril, a Justiça de São Paulo acatou um mandato de segurança de Rodas contra o processo administrativo.

APOSENTADORIA

Agora, as contas de 2013 foram reprovadas por causa, principalmente, do gasto de 105,5% do orçamento da universidade só com salários e benefícios. O limite legal é de 75% do repasse do Estado revertido em salários. A universidade ainda gasta, hoje, na nova gestão, de Zago, mais de 90% do seu orçamento só com pagamento de pessoal.

À Folha, Rodas, diz que todas as universidades estaduais paulistas gastam uma boa fatia do que recebem com pagamento de funcionários e de docentes. O ex-reitor também falou em “perseguição”.

Zago foi pró-reitor de pesquisa da gestão Rodas (2010-2013), mas não recebeu dele o bastão da reitoria. O ex-reitor não foi à cerimônia de posse do novo chefe –algo incomum entre dirigentes da USP. A festança, no Palácio dos Bandeirantes, coincidiu com o aniversário de 80 anos da universidade, em 25 de janeiro de 2014.