Escola tradicional de SP terá opção integral para desenvolver ‘pensamento científico’

Sabine Righetti

Uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, a Móbile (zona sul de São Paulo) começa em 2017 suas primeiras turmas com ensino integral. O objetivo, de acordo com a própria escola, é trabalhar com o aluno mais tempo para conseguir desenvolver “pensamento científico”, entre outras habilidades.

“Precisamos desenvolver a capacidade de todo aluno decidir se vai acreditar ou não em uma afirmação”, diz a diretora da escola, Maria Helena Bresser. “Isso é pensamento crítico, e ele começa com o pensamento científico.”

Educação só funciona se aluno estiver emocionalmente envolvido

Museus devem incentivar perguntas no lugar de dar respostas

As horas extras de aulas –serão 36 horas para os alunos do integral e 22 horas para a modalidade regular –serão gastas, por exemplo, em laboratórios de ciências.

De acordo com Bresser, a proposta é que os alunos criem e desenvolvam projetos de ciências. “Queremos um aluno com pensamento científico, mais questionador”, diz Bresser.

Conhecida pelos seus alunos altamente qualificados –a Móbile está em sexto lugar no último ranking paulista de notas no Enem–, a escola tem trabalhado com pais e com professores essa proposta de ter um aluno mais crítico. Não é coisa simples.

DOCE ANTES DA REFEIÇÃO

Isso porque, de acordo com Bresser, o estudante mais crítico (ou “revolucionário”, como diria o pedagogo Paulo Freire) passa a levar seus questionamentos para aula e para casa. “Se os pais disserem que ele não pode comer doce antes da refeição, ele vai querer entender o motivo exato disso”, exemplifica. “Os pais precisam estar preparados para lidar com esse comportamento.”

Os professores também, tanto que já estão em treinamento para aprender a lidar com um aluno com uma postura cada vez mais ativa na sala de aula.

Além das aulas extras de ciências, os alunos do integral do Móbile também terão mais esportes e mais idiomas. A ideia é que os estudantes saiam com fluência em inglês e em espanhol –com certificado e tudo mais.

Todas as aulas serão em um prédio novo, anexo à escola atual, o que significa que os alunos de tempo parcial e integral terão aulas de maneira separada. Os pais que quiserem optar pela modalidade integral vão desembolsar mais de R$4.000 mensais por filho.

Esse é o valor médio de outras escolas de elite que também passaram a oferecer ensino integral, como o Porto Seguro (também na zona sul de São Paulo). A demanda tem vindo das próprias famílias: com mãe e pai trabalhando fora, e diante da nova legislação do trabalhador doméstico, manter a criançada na escola por mais tempo tem sido a opção mais procurada por quem tem filho.