FGV-SP tem dois alunos africanos refugiados em nova turma de admistração pública

Sabine Righetti
Jefte Makengo Vicente, 20, da Angola, e Charles Mbole Tepuh, 26, de Camarões, na FGV-SP (foto: divulgação FGV-SP)

Dois estudantes africanos –ambos refugiados– começam, nesta quinta-feira (16),  o curso de administração pública na FGV-SP. É a primeira vez que a escola recebe estudantes com esse perfil.

Jefte Makengo Vicente, 20, da Angola, e Charles Mbole Tepuh, 26, de Camarões, chegaram ao Brasil há cerca de um ano. Ficaram sabendo do processo seletivo para estrangeiros da FGV-SP pela ONG Educafro– Charles, inclusive, aprendeu português e vive na ONG.

A seleção na FGV-SP para quem é de fora do país tem entrevista, carta de motivação e de recomendação. A nova porta de entrada foi criada pela escola em 2015 para aumentar a presença de alunos de fora que, claro, não teriam condições de fazer Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou vestibular.

A possibilidade de ingresso de estrangeiros na escola atraiu ainda um aluno dinamarquês para o curso de administração totalmente em inglês criado em 2015. Ele também começa a estudar nesta quinta (16). Nesse caso, ele recebeu bolsa do próprio governo da Dinamarca.

“A gente só não esperava receber refugiados”, diz Marco Antonio Carvalho, vice-coordenador do cursos de administração pública da escola. A aprovação de Jefte e de Charles fez com que a escola tivesse de se mexer para recebê-los –ir atrás de patrocínio, por exemplo.

Conseguiram: o escritório de advocacia Mattos Filho vai bancar o curso dos meninos. A doação é de cerca de R$500 mil.

De acordo José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio-diretor do Mattos Filho, a ideia de apoiar refugiados está crescendo no escritório. Desde o ano passado, o Mattos Filho conta com uma advogada que se dedica exclusivamente aos trabalhos voluntários da empresa na área de direitos humanos. “Os refugiados precisam de todo tipo de orientação jurídica como regularização da sua situação legal e ajuda para trazer a família”, diz.

QUESTÕES POLÍTICAS

Jeft saiu da Angola sozinho “por questões políticas”. Mora no Brás (zona Leste de São Paulo). “Não gosto muito de sair à noite”, diz. “A única coisa que quero agora é me instruir.”

Mais tímido, Charles é fluente em inglês e francês. Planeja fazer um intercâmbio nos Estados Unidos ou Reino Unido durante o curso –prática comum entre alunos da FGV-SP. Hoje, ele mora na Vila Prudente (zona Leste de São Paulo) e, no Brasil, só conta com um tio que chegou antes por aqui.

Há alguns anos, a FGV-SP tem criado iniciativas para diversificar o perfil social, racial e a origem de seus alunos. Em 2015, a escola matriculou os primeros alunos moradores de uma favela em São Paulo –ambos com bolsa integral.

E como tem sido a experiência no Brasil até agora? “Uma pessoa refugiada não vê prazer em nada”, diz Jeft. “Agora, estou começando a gostar daqui.”