E se a criança não tiver mãe para fazer um desenho na escola?

Sabine Righetti

Há alguns dias, visitei umas escolas em São Paulo para uma atividade acadêmica com alunos da FGV-SP e inevitavelmente nos deparamos com um exercício pelo qual eu passei quando estava na escola (e você também deve ter passado): a elaboração de uma cartinha para as mães. No chamado “mês das mães”, a tarefa do desenho ou do textinho costuma passar pelas aulas de português a artes, de alunos de diferentes séries, em escolas públicas e privadas.

Mas e se o aluno não tiver mãe?

Estiquei os olhos para a cartinha de um aluninho de uma das escolas por onde passei. O texto, no lugar de “mãe”, dizia em garranchos algo do tipo: “Vó, se você morrer eu estou ferrado.”

A cada cinco crianças nascidas no Brasil, uma é filha de mãe adolescente. Em uma das escolas públicas que nós também visitamos, cerca de 10% das alunas do ensino fundamental estavam grávidas. Elas tinham algo entre 13 e 14 anos. Filhos de mães adolescentes têm grandes chances de ser criados pelas avós.

Alguém já pensou que uma criança que está na escola pode ter na avó a sua figura maternal? Ou pode ser órfã? Pode estar morando em um abrigo provisoriamente? Pode viver com o pai e a nova esposa dele? Pode ser um filho de um casal gay de dois homens e, portanto, não ter a ideia da “mãe”?

Fiquei pensando se, hoje, os professores (todos, de escolas públicas e privadas) têm alguma ideia de como é a composição da família de seus alunos. Besteira? Não. Uma das bases da educação na Finlândia, considerada a melhor do mundo, é justamente a relação entre professores e alunos. Os docentes conhecem seus estudantes e, com isso, sabem que tipo de exercício funciona para a realidade de cada um deles. Importantíssimo.

FESTINHA

Mais: muitas escolas (aqui do Brasil) insistem em fazer a festinha de dias das mães em pleno dia útil. Convidam as mães a levar comidas e bebidas para a escola e organizam pequenas apresentações dos alunos. Super lindinho, mas também problemático.

Algumas mães vão, outras não podem. Ora, não é toda profissão que permite que uma mulher consiga tirar algumas horas do dia para acompanhar uma festinha. E se aquela mãe for uma cirurgiã, uma pilota de avião, se estiver viajando a trabalho –ou mesmo se for uma professora dando aula em outra escola? Pois é.

A escola precisa mudar no ritmo das mudanças da sociedade. A família não é mais a mesma e os exercícios em sala de aula que visam trabalhar a ideia da família também precisam ser alterados.

Os professores precisam conhecer os seus alunos e a realidade na qual estão inseridos. Sem isso, a educação vira um processo burocrático e, pior, traumático.