Conheça o professor de escola que criou uma exposição de ciências que roda o país
Quem passou pelo shopping Market Place (zona Sul de São Paulo) nas últimas semanas deve ter cruzado com uma exposição de ciências que ocupa o lugar de uma loja no piso superior. O que os visitantes não sabem é que a iniciativa –e toda a construção dos equipamentos— é de um professor de física do ensino médio do interior de São Paulo, Júlio Abdalla, 61.
A história começou há cerca de 20 anos, quando ele montou uma mostra de experimentos de física na escola em que dava aula. Em 2014, conta, ele refez a exposição e decidiu transformá-la em “uma mostra itinerante para viajar de norte a sul do Brasil”. Deu o nome de ExperCiência.
Museus devem incentivar perguntas
Os experimentos foram desenvolvidos pelo professor, com recursos próprios e com ajuda de marceneiros, serralheiros e outros profissionais. “Para sua elaboração, uso meu conhecimento em ciências e também pesquiso bastante.” Essa pesquisa inclui visitas a museus de ciências de ponta de países como EUA, Reino Unido e Alemanha.
Em uma das atividades da exposição (o chamado gerador de Van de Graaf) é possível experimentar um efeito da eletrostática. O equipamento, quando tocado, faz com que os cabelos do visitante fiquem literalmente em pé. É um dos preferidos das crianças.
Hoje, o acervo da ExperCiência tem cerca de 50 equipamentos. Parte deles já esteve, diz Abdalla, nos estados do Amazonas, Pará, Ceará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. De acordo com Abdalla, essa é a única exposição significativa de ciências que viaja pelo país.
Há também experimentos em dois grandes museus permanentes: o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, em Porto Alegre e o Catavento, em São Paulo. De acordo com Abdalla, mais de 200 mil pessoas já brincaram no ExperCiência. São quase três estádios do Maracanã lotados.
ATÉ SÁBADO
No Market Place, a exposição termina no sábado (8). A definição de um novo destino depende de parcerias –com shoppings, por exemplo. “O nosso desejo é expor em todos os cantos do país, mas como dependemos de parcerias, são elas que acabam influenciando os locais.”
Júlio Abdalla ainda dá aula de física, agora na escola Gabarito, que ele próprio criou há 15 anos, inicialmente com aulas de reforço de física, química e matemática para o vestibular.
Para ele, o ensino de ciências no país é muito ruim. “Faltam investimentos e interesse em levar conhecimento para a população”, diz. “Vejo algumas iniciativas de desenvolvimento de parques de ciências em algumas cidades, que logo são abandonados ou inutilizados.”