Principal reunião anual de cientistas do país começa com clima de ‘fim de festa’
O principal encontro anual de cientistas do país, a reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), começou com clima de desânimo neste domingo (16), em Belo Horizonte. Nas quase quatro horas de abertura do evento, que acontece na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a queda de recursos para pesquisa no país foi tema recorrente.
“Estou amarga mesmo. Estou triste”, disse a biomédica Helena Nader em seu discurso. À frente da instituição desde 2011, quando o então chefe da casa, Marco Anonio Raupp, virou ministro de Ciência, Nader enfatizou o corte de verba para ciência, tecnologia e inovação.
Presença constante em Brasília (no último dia 12, ela estava na Câmara dos Deputados falando sobre cortes em ciência), Nader se emocionou em vários momentos da abertura do evento. No hino nacional, nas homenagens e no seu próprio discurso.
MENOS DA METADE
Para se ter uma ideia, hoje o orçamento federal para ciência, tecnologia, inovação e comunicações (a pasta de “comunicações” foi integrada à Ciência na gestão Temer) é menos da metade do que era em 2014. Isso desconsiderando a inflação no período.
O CNPq, agência federal que fomenta a pesquisa científica ligada à pasta de Ciência, por exemplo, fechou 2016 com orçamento de R$1,4 bilhão. Em 2016, o valor tinha sido exatamente o dobro: R$2,8 bilhões (desconsiderando a inflação).
Com o corte, quem mais sai perdendo são os bolsistas –principal motor da ciência no país. Na prática, quem entrar hoje em um curso de graduação ou de pós no país tem menos chances de conseguir uma bolsa de pesquisa. É uma espécie de “salário” para que o estudante se dedique integralmente à ciência.
O clima entre governo e cientistas anda tão hostil que o ministro da pasta, Gilberto Kassab (PSD), mandou um representante do ministério para a abertura da SPBC –que foi timidamente vaiado pela plateia.
A reunião anual da SBPC reúne há quase 70 anos cientistas de todo o país durante uma semana. Nesta edição, estão previstas 69 conferências e 82 mesas-redondas –fora os minicursos, pôsteres e exposições (veja a programação aqui).
Mais do que tratar de avanços da pesquisa nacional, a expectativa é que a falta de dinheiro para a pesquisa siga em pauta durante toda a reunião.
Um dos temas na agenda, por exemplo, é disseminar a campanha #ConhecimentoSemCortes, que teve início na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A proposta é colher assinaturas em uma petição on-line para pressionar o governo federal a retomar o patamar de investimentos em ciência de 2014.