Melhor da América Latina, Unicamp deve fechar ano com dívida de R$225 milhões
A classificação recente da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) como a melhor da América Latina no ranking THE (Times Higher Education) não trouxe um respiro aliviado para a instituição. A Unicamp deve fechar 2017 com um déficit de R$225 milhões –isso considerando só os gastos com salários de docentes e de funcionários.
A informação é da própria reitoria da universidade que, desde abril, está sob o comando do físico Marcelo Knobel. Trata-se de uma projeção com base na arrecadação do ICSM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
Na última avaliação de universidades latino-americanas do THE, a Unicamp passou a USP, que liderava até o ano passado. No RUF de 2016, a Unicamp figura em 3ª posição depois da UFRJ e da USP, respectivamente. É a universidade mais produtiva do país em termos de artigos científicos –um dos componentes avaliados no indicador de “pesquisa” do RUF.
Juntas, as estaduais paulistas USP, Unesp e Unicamp ficam com quase 10% da arrecadação estadual do ICMS. O montante é transferido anualmente para as universidades depois de aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual). O problema é que, em tempos de crise, a arrecadação cai –mas a folha de pagamentos das universidades estaduais continua igual.
MAIS DINHEIRO
Em países como a China, universidades bem avaliadas (em rankings ou em outras formas de mensuração) recebem aportes extras de recursos. É um projeto governamental: no curto prazo, a China pretende ter um grupo de universidades entre as melhores do mundo no ranking global do THE.
Para Knobel, da Unicamp, é importante que a sociedade reconheça –e apoie– que as universidades de qualidade afetam diretamente o desenvolvimento do país. “As universidades públicas paulistas são um verdadeiro patrimônio do estado”, diz. “São fundamentais para o futuro do país.”
Falta, no entanto, dinheiro para manter esse “patrimônio”. Há alguns anos, USP, Unesp e Unicamp têm gastado praticamente tudo o que recebem do governo estadual só com salários. A recomendação legal é que esse dispêndio não ultrapasse 75% do orçamento para que o restante seja aplicado em custeio e manutenção –como pagar a conta de energia elétrica e fazer pequenas reformas.
Por causa da crise de recursos, a USP promoveu um (polêmico) programa de demissão voluntária de funcionários que conseguiu enxugar o orçamento anual da universidade em cerca de 4%. A iniciativa é tratada em livro recente de professores da própria universidade.
Essa alternativa não é cogitada pela Unicamp, de acordo com o reitor, que fala em “realizar medidas de gestão fundamentais, incluindo a revisão de contratos e a melhoria do processos.” Na prática, isso significa, por exemplo, não repor professores e funcionários que se aposentam.
Com dívidas e com dificuldade para renovar a mão-de-obra, os resultados da Unicamp em futuras avaliações internacionais como o ranking latino-americano THE podem ficar comprometidos. Em outras palavras: se nada a mudar, a universidade pode cair na listagem no futuro.