Melhores universidades do mundo têm até curso de meditação para combater estresse na pós

Sabine Righetti

Das muitas diferenças de uma universidade de ponta no mundo para as universidades brasileiras, o modo como se trata a questão da saúde mental dos estudantes talvez seja a mais gritante.

Em instituições de países como os Estados Unidos, a condição mental dos alunos é um assunto tratado com cuidado. Sabe-se que, especialmente na pós-graduação, os alunos sofrem com pressão para ter resultados brilhantes, com saudade da família que pode estar longe e com problemas de relacionamento. Tudo isso, claro, pode afetar a sua produtividade ou causar abandono do mestrado e do doutorado.

Estudantes de mestrado e doutorado relatam suas dores na pós-graduação

Orientadores de pós-graduação impõem dificuldades a alunos

A Folha retratou como isso acontece nas universidades brasileiras recentemente em uma série de reportagens. Mostrou que, por aqui, falta assistência para as condições mentais dos alunos da pós-graduação, falta conhecer o tamanho do problema e falta também que as universidades tenham uma política clara que crie, por exemplo, canais de denúncia em caso de assédio moral –relato comum entre os estudantes.

Mais ainda: falta falar sobre o assunto. E, sem assumir que o problema existe, vai ser difícil pensar em maneiras de abordar a saúde mental dos alunos como fazem algumas das melhores universidades do mundo.

MEDITAÇÃO ANTI-ESTRESSE

Na Universidade de Stanford, por exemplo, nos Estados Unidos, onde estive recentemente como pesquisadora, os alunos de pós são estimulados até a fazer disciplinas voltadas para saúde mental. Uma delas se chama “meditação para enfrentar o estresse na pós-graduação”. Quando estive lá, era oferecida na hora do almoço.

Em outra universidade que também conheço por dentro, a Universidade de Michigan, nos EUA, os alunos recebiam na porta de entrada uma série de instruções sobre assédio sexual, assédio moral, o que fazer nesses casos. Em Michigan, os estudantes também aprendiam como lidar com a neve e recebiam apoio caso se deprimissem no longo inverno que coincide com provas de final de semestre e com o Natal. Isso era importante porque um em cada quatro alunos daquela universidade vem de outros países (portanto, está sozinho e pode se sentir ainda mais deprimido no inverno escuro).

Quantos estudantes de pós-graduação no Brasil vieram de outros Estados? Quantos se sentem angustiados e deprimidos? E, sem dinheiro para voltar para casa porque as bolsas são apertadas para cidades de custo de vida alto (R$ 1.500 mensais no mestrado do CNPq, por exemplo), quantos ficarão sozinhos neste Natal?

Ninguém tem a menor ideia de nada disso.

A boa notícia é que a mudança pode começar com os orientadores responsáveis pelos alunos da pós. Recentemente, conversei com um professor do Instituto de Química da USP de São Paulo que me contou que tenta abordar os alunos no momento em que a euforia do início da pós passa e é substituída pela angustia.  É a hora em que a saudade aperta, os prazos estão curtos, a pesquisa empaca e o dinheiro não dá conta do entretenimento.

Esse professor conversa, recomenda leituras, indica a assistência psicológica da USP se for o caso –uma ótima ideia para professores de pós de todo o país. Não exclui a necessidade de abordagem institucional do problemas, mas é uma forma de parar de ignorá-lo.