Impacto das universidades brasileiras é baixo mesmo na América Latina

O Brasil tem as melhores universidades latino-americanas, de acordo com um ranking britânico divulgado na quarta (18) pelo THE – Times Higher Education. No entanto, quando olhamos especificamente para o impacto das instituições brasileiras, que é um dos critérios analisados pelo ranking THE, o Brasil perde para países como Peru, Equador e Colômbia.

O THE avalia as universidades especificamente da América Latina com base em cinco indicadores: ensino, pesquisa científica, impacto da pesquisa, internacionalização e relação com a indústria. O Brasil vai bem na maioria dos quesitos, mas derrapa no impacto de seus trabalhos acadêmicos.

Considerando os cinco compoentes da fórmula do THE, a Unicamp lidera a América Latina, seguida pela USP. Seis universidades brasileiras estão entre as dez primeiras da região — um número maior do que no ano passado, quando havia cinco (neste ano, as federais de Minas e do Rio Grande do Sul entraram para o topten, enquanto a UFRJ caiu para 12º lugar).

Quem tem mais impacto na região latino-americana, no entanto, é a Universidade Caytano Heredia, do Peru, seguida pela Diego Portales (Chile). A primeira brasileira na avaliação de impacto, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), aparece em 16º lugar depois de instituições da Colômbia, do Equador, da Argentina e do México. A Unicamp está em 28º lugar seguida da USP, em 29º.

O componente que avalia o impacto das universidades no ranking latino-americano do THE vale um 20% da nota recebida pela universidade (na listagem mundial, esse item vale ainda mais: 30% da nota). Para fazer o cálculo, o THE se debruça sobre a quantidade de trabalhos científicos de cada universidade mencionados em outros trabalhos publicados posteriormente.

O Brasil vai mal nessa análise porque os trabalhos brasileiros são menos citados mundialmente do que aqueles feitos em outros países da América Latina. O baixo impacto dos trabalhos acadêmicos por aqui é, aliás, o que mais tem derrubado as universidades brasileiras em comparações globais. Para se ter uma ideia, a USP, que já esteve em 158º lugar no ranking THE global (em 2012), hoje está na classificação 251-300 no mundo.

Por que isso acontece?

Há algumas explicações. Em primeiro lugar, o Brasil ainda publica boa parte de seus estudos científicos em português (estima-se que 70% dos mais de 300 periódicos científicos nacionais sejam em língua portuguesa). Isso impede que cientistas que não falem o nosso idioma consigam ler e citar os trabalhos brasileiros. Tem mais impacto as universidades que priorizam estudos publicados em inglês.

Há, ainda, quem diga que o problema esteja na qualidade dos trabalhos acadêmicos brasileiros mesmo. Se um estudo científico não trouxer uma descoberta relevante, então dificilmente será citado por trabalhos feitos posteriormente.

Mas atenção: isso não significa que a qualidade dos pesquisadores das universidades brasileiras seja ruim (a literatura sobre o assunto ressalta, inclusive, que indicador de impacto não serve para medir produção individual, mas sim a produção das instituições).

Acontece que para publicar um estudo que abale a comunidade acadêmica global é preciso ter recursos para infra-estrutura, para insumos de laboratório, para pagar alunos de pós-graduação. E, por aqui, para se ter uma ideia, os investimentos federais destinados à ciência já caíram pela metade desde 2014.

O corpo docente das universidades brasileiras, avaliado no THE no indicador de “ensino”, aliás, está entre os melhores da região. Nove dentre as dez universidades mais bem avaliadas nesse quesito são do Brasil — a exceção é a Universidade dos Andes, da Colômbia, em 10º lugar.

No lugar de comemorar a boa posição da Unicamp e da USP na avaliação geral das universidades latino-americanas do THE, vale a pena esmiuçar os indicadores e projetar cenários. Enquanto os investimentos em ciência não se normalizarem no Brasil, o impacto da ciência brasileira vai continuar caindo na América Latina e no mundo –e aí vamos caminhar em passos largos para o final da fila de qualquer ranking.