Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Na ditadura, brasileiro passava só 2 anos na escola e mais de 1/3 era analfabeto https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/na-ditadura-brasileiro-passava-em-media-dois-anos-na-escola-e-13-era-analfabeto/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/na-ditadura-brasileiro-passava-em-media-dois-anos-na-escola-e-13-era-analfabeto/#respond Mon, 08 Oct 2018 20:05:57 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/15352259185b81b03e391a7_1535225918_3x2_rt-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3438 Os brasileiros passavam, em média, dois anos na escola nas décadas de 1960 e 1970 — quando mais de um terço da população com mais de 15 anos era completamente analfabeta no país. As informações são de um estudo do Inep-MEC chamado “estatísticas da educação básica no Brasil“.  É um dos raros compilados de dados educacionais que incluem o período da ditadura militar (1964-1985) no Brasil.

Para se ter uma ideia, na década de 1960 os homens brasileiros estudavam, em média, 2,4 anos ao longo da vida. Já o tempo de escola das mulheres era ainda menor: 1,9 ano. Entre a população negra, a taxa de escolarização total caía para menos de um ano (0,9 ano de estudo). Nesse período, quase 46% da população era analfabeta, ou seja: tinha mais de quinze anos e não conseguia nem escrever o próprio nome.

A média de tempo na escola se manteve na faixa dos dois anos também na década de 1970: 2,6 anos para os homens e 2,2 anos para as mulheres. Nesse período, quatro em cada dez brasileiros ainda eram analfabetos. A taxa de analfabetismo cai para um terço dos brasileiros (33%) na década de 1980.

Na prática, os dados mostram que a escola nessa época era para poucos: há os que conseguiam estudar e os que estavam excluídos do sistema — o que joga a média para baixo.  Faz sentido: a ideia de “educação para todos” para o exercício da cidadania e para qualificação para o trabalho é um conceito da redemocratização. Surge na Constituição de 1988 como um direito de todos e um dever do Estado e da família.

A Constituição de 1988 define, por exemplo, que a educação básica seria obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade “assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (art. 208).

Hoje, o tempo de escolarização dos brasileiros subiu para sete anos — ainda longe dos doze anos que representariam ensino fundamental e médio completos. Todos os alunos do país estão matriculados no início da escola, mas, em média, um em cada dois estudantes deixa a escola no caminho e não termina o ensino médio. Os analfabetos ainda representam cerca de 7% dos brasileiros.

Informações sobre escolarização nas décadas de 1960 e 1970 eram tiradas de levantamentos do IBGE, mas não há dados efetivamente sobre “qualidade” da educação nesse período. Os censos anuais da educação básica do Inep-MEC, por exemplo, que mostram aspectos estruturais das escolas, começaram a ser feitos na década de 1990. Por esses dados, é possível saber que, ainda hoje, há escolas no Brasil sem banheiro e que só 10% das instituições de educação básica no Brasil contam com laboratório de ciências. Já o Ideb (Índice da Educação Básica), calculado a partir das notas dos alunos e do fluxo, tem pouco mais de uma década.

Entre especialistas, no entanto, o acesso à educação é o primeiro ponto a ser analisado nas políticas públicas na área. “Não dá para se falar em qualidade sem falar em acesso à educação”, diz Luiz Cláudio Costa, ex-presidente do Inep-MEC e um dos principais experts em avaliação de educação do país. Costa costuma repetir que acesso é o “primeiro indicador de qualidade de educação”. “Um sistema de educação não será bom enquanto houver estudante de fora dele.”

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Perda de acervo raro do Museu Nacional afeta ciência e educação básica do país https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/09/02/perda-de-acervo-raro-do-museu-nacional-afeta-ciencia-e-educacao-basica-do-pais/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/09/02/perda-de-acervo-raro-do-museu-nacional-afeta-ciencia-e-educacao-basica-do-pais/#respond Mon, 03 Sep 2018 01:53:15 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/museu-nacional-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3383 Neste domingo (2), o principal e mais antigo museu do país, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi tomado por um incêndio de grandes proporções que pode ter destruído toda a coleção do prédio principal — incluindo fósseis, estudos, o acervo de invertebrados  (como borboletas e aranhas) e exemplares de múmias. Estima-se que, ao todo, 20 milhões de peças tenham sido perdidas. O que isso significa?

Isso significa muita coisa. A perda do acervo do Museu Nacional afeta o nosso desenvolvimento científico, ligado às universidades, e também afeta a educação básica do país.

Em relação à ciência, o Museu Nacional reunia 200 anos de trabalhos acadêmicos. O espaço foi criado em 1818 por Dom João 6, como lembra um trabalho publicado na última edição da revista Ciência e Cultura, para “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil.”

Na prática, o prédio centenário guardava boa parte de espécies descritas por cientistas do país — que era visitada por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. “Essa perda é inestimável, é irreparável, a gente nunca mais vai conseguir isso de volta”, diz a bióloga Claudia Russo, da UFRJ, que trabalha com invertebrados no museu. Essas espécies ficam armazenadas em material altamente inflamável, como álcool, em espaços geralmente de madeira — por isso, o fogo se espalha tão rapidamente.

Mais: espaços como o Museu Nacional são importantes para o desenvolvimento da própria educação básica do país. Isso porque é em museus, centros e exposições — a chamada educação não formal — que estudantes têm contato com aquilo que estudam nos livros didáticos. Os alunos experimentam, vivenciam e acabam sendo incentivados a estudar quando voltam para a escola.

O Museu Nacional tinha, por exemplo, uma ampla coleção de fósseis — incluindo dinos brasileiros e o mais antigo fóssil humano brasileiro, de onze mil anos, a Luzia, encontrado na década de 1970 em Minas Gerais. Isso além de múmias egípcias raras no mundo, como destaca Claudia Russo.

Os estudantes que visitavam o espaço podiam ver tudo isso. Aprendiam sobre história, biologia, paleontologia de um jeito que a escola não tem condições de ensinar.  “É a maior perda de acervo de toda a história do nosso país”, diz a também bióloga Maria Paula Correia, que trabalha com educação não formal (fora da escola) na consultoria Percebe Educa.

No Brasil, espaços como o Museu Nacional são raríssimos — o que prejudica ainda mais a nossa problemática educação básica. Para se ter uma ideia, um em cada dez brasileiros declara ter visitado um espaço de ciências como o Museu Nacional nos últimos doze meses, de acordo com a última pesquisa nacional de percepção pública da ciência conduzida pelo então Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2015.

“Quando questionados pela baixa visitação a esses espaços, as respostas mais frequentes demostram muito mais falta de acesso ou de conhecimento do que a falta de interesse”, informa a pesquisa. Três em cada dez brasileiros revelaram, na pesquisa, que deixavam de frequentar esses espaços porque eles simplesmente não existiam onde viviam.

O problema é que estamos perdendo nossos raros espaços de ciências no país. Em 2010, um incêndio no Butantan, em São Paulo, queimou parte da coleção — incluindo uma amostra rara de serpentes. Cinco anos depois, o Museu da Língua Portuguesa, também em São Paulo, foi tomado por um incêndio — e deve ser reaberto em 2019 com tecnologia corta-fogo. Já o Museu do Ipiranga, também na capital paulista, ligado à USP, está fechado desde 2013 por risco de desabamento — e não tem previsão de reabertura.

Especificamente na UFRJ, universidade ligada ao Museu Nacional, os incêndios também têm sido comuns. No ano passado, um incêndio destruiu parte do alojamento estudantil da universidade. Como mostrou o RUF – Ranking Universitário Folha em 2017, a UFRJ enfrenta situação financeira frágil, com dificuldade para manutenção das instalações e de investimento em novos prédios.

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Por que precisamos de bolsas de pesquisa na graduação e na pós? https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/02/por-que-precisamos-de-bolsas-de-graduacao-e-de-pos-graduacao-no-brasil/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/02/por-que-precisamos-de-bolsas-de-graduacao-e-de-pos-graduacao-no-brasil/#respond Fri, 03 Aug 2018 01:33:58 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/capes-320x213.jpeg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3328 Podemos ficar sem bolsas de graduação e de pós-graduação no meio do ano que vem. A afirmação é de Abílio Baeta, presidente da Capes, agência federal de fomento à ciência ligada ao MEC, e veio à tona nesta quinta (2), em nota enviada pela entidade à pasta de educação.

O documento traz uma matemática assustadora: o teto de gastos que deve ser imposto à Capes em 2019 pode inviabilizar o pagamento de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado e outras formas de fomento a partir de agosto de 2019 — o que afeta quase meio milhão de pessoas. A questão é que a fatia do orçamento do MEC previsto para a Capes no ano que vem não dá conta de manter as bolsas vigentes.

Para se ter uma ideia, o valor aprovado para a Capes neste ano (R$3,94 bilhões) é cerca de metade do dinheiro empenhado em 2015 (R$7,77 bilhões) — e o montante ficaria ainda menor no ano que vem.

Qual é o problema disso?

A produção de conhecimento no Brasil é quase totalmente baseada no trabalho de pesquisadores de programas de pós-graduação, que recebem bolsas para se dedicarem exclusivamente às suas pesquisas. É como se fosse um salário pago pelo governo — só que sem nenhum benefício, como arrecadação de aposentadoria, de fundo de garantia ou férias.

Por exemplo: um aluno de doutorado de uma universidade brasileira que esteja trabalhando na compreensão de uma determinada doença recebe mensalmente R$2.200 da Capes para se dedicar exclusivamente à sua pesquisa. São pessoas na faixa dos 30 anos que, muitas vezes, têm família e filhos. Dependem desse dinheiro — e não podem ter outro trabalho remunerado.

O trabalho de um doutorando como esse pode levar a terapias para uma doença, melhor interpretação de exames, insumos para vacinas. E por aí vai.

Mesma coisa acontece com quem tem uma bolsa de mestrado (R$1.500 mensais). Supondo que esse mestrando seja da área de sociologia e que esteja trabalhando com um tema ligado, por exemplo, à violência urbana. Uma nova análise na área, novos dados e levantamentos podem levar a políticas públicas mais eficazes. Como o próprio presidente da Capes, que é sociólogo, diz: “Não tem como resolver problema urbano, violência e corrupção sem humanidades.”

Com esse modelo, o país tem produzido bastante conhecimento. Para se ter uma ideia, em 2017 o Brasil ficou entre os 15 países que mais produzem ciência no mundo, de acordo com o ranking do Scimago. Foram 73.697 estudos novos publicados ao longo do ano. Isso dá mais de 200 estudos por dia.

A comunidade acadêmica, claro, recebeu a nota da Capes enviada ao MEC como uma bomba. Isso porque o dinheiro está sendo cortado de todos os lados: o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, de onde sai o dinheiro de outra agência federal de fomento à ciência, o CNPq, já perdeu metade do seu orçamento desde 2014 (e ganhou a pasta de comunicações nesse período).

Como informa a Folha, o MEC atribuiu o corte de recursos ao Ministério do Planejamento, que disse, em nota, que os recursos para o MEC em para 2019 estão acima do limite constitucional.

De acordo com a biomédica Helena Nader, presidente emérita da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a notícia surpreendeu a comunidade acadêmica. “Tínhamos uma sinalização positiva do governo em relação aos recursos para pesquisa”, diz. “Até para plantar soja precisamos de ciência.”

A expectativa da comunidade científica, diz Nader, no entanto, é que o cenário seja revertido. O presidente Temer tem de sancionar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que define os recursos de cada pasta federal em 2019, nos próximos dias. “Estamos contando com o veto”, diz Nader.

 

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USP, Unicamp e Unifesp suspendem aula a semana toda; veja funcionamento das universidades https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/27/usp-suspende-aulas-a-semana-toda-veja-funcionamento-das-universidades-nesta-segunda-28/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/27/usp-suspende-aulas-a-semana-toda-veja-funcionamento-das-universidades-nesta-segunda-28/#respond Sun, 27 May 2018 23:40:53 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/usp-320x213.jpeg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3209 A greve dos caminhoneiros já afeta o ensino superior de todo o país. No final deste domingo (27), universidades importantes como a USP anunciaram que as aulas estão temporariamente suspensas. Outras instituições manterão as aulas, mas não haverá cobrança de faltas e nem avaliações dos alunos.

Na USP, os alunos de graduação não terão aula a semana toda —em todos os campi da universidade. As atividades estão suspensas de segunda a quarta; na quinta e na sexta, o recesso de Corpus Christie está mantido.

A assessoria de imprensa da USP informou que cada unidade informará os alunos sobre as atividades de pós-graduação e de extensão. Nas redes sociais, alunos de pós-graduação da universidade mostravam preocupação com a manutenção de suas pesquisas –especialmente nos trabalhos que dependem de laboratório.

Em São Paulo, a Unicamp que as aulas da graduação, de pós-graduação e todas as atividades de extensão estão suspensas até quarta (30). A Unifesp também terá todas as atividades acadêmicas e administrativas suspensas no mesmo período.

No Rio de Janeiro, a maioria das universidades públicas (estaduais e federais) anunciou suspensão das aulas nesta segunda (28). É o caso da UERJ, UFRJ, UFF, UniRio e Rural. O Abecedário não conseguiu informações sobre a UENF.

Universidade estaduais como a Unesp (São Paulo), UEL (Londrina), a UEM (Maringá) e a UEPG (Ponta Grossa), também não terão aula. Cerca de quinze universidades federais cancelaram temporariamente as atividades. Não houve aulas nesta segunda nas universidades federais da Bahia (UFBA), de São Carlos (UFSCar), de Minas (UFMG), de Pernambuco (UFPE), Rural de Pernambuco (UFRPE), Lavras (UFLA), do Triângulo Mineiro (UFTM), São João Del-Rei (UFSJ), Sergipe (UFS), a Tecnológica do Paraná (UTFPR), de Grande Dourados (UFGD), do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Maria (UFSM), de Itajubá (Unifei) e de Santa Catarina (UFSC).

Isso não significa, no entanto, que as universidades estarão fechadas. Serviços administrativos, por exemplo, devem seguir operando normalmente.

Na FGV-SP, na capital paulista, as aulas da graduação e da pós estão mantidas. Não haverá, no entanto, cobrança de falta de alunos que eventualmente não conseguirem participar das atividades. Os coordenadores dos cursos estão solicitando que os docentes evitem atividades de avaliação dos alunos e novos conteúdos.

No Insper, em São Paulo, as aulas da graduação foram suspensas até quarta (30). Outras instituições privadas também não tiveram aulas nesta segunda. É o caso da PUC-RS, da PUC Paraná, da Puccamp (Campinas), da Unisinos e da Unip. A maioria dessas instituições já havia interrompido as aulas na sexta (25).  A PUC-GO, em Goiânia, deve ter aulas normalmente.

Se você é aluno de alguma universidade, a recomendação é ligar para a instituição antes de sair de casa nesta segunda (28) para verificar se as atividades especificamente do seu curso estão mantidas. As universidades que não cancelaram as aulas a semana toda devem anunciar nesta (28) como vão operar a partir de terça-feira.

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Tem informações sobre o funcionamento das universidades nesta semana? Mande para sabine.righetti@grupofolha.com.br ou para @binerighetti no Twitter.

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Precisamos falar sobre os professores das escolas privadas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/23/precisamos-falar-sobre-os-professores-das-escolas-privadas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/23/precisamos-falar-sobre-os-professores-das-escolas-privadas/#respond Wed, 23 May 2018 19:03:34 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/15271035125b05c01805a1d_1527103512_3x2_lg-320x213.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3188 A paralisação de professores da rede privada de São Paulo contra uma revisão de direitos da categoria, nesta quarta (23), trouxe à tona uma figura que costuma passar batido pelos debates de educação no país: o professor da escola privada.

A questão é que o docente das escolas pagas enfrenta praticamente os mesmos desafios de quem dá aula nas instituições públicas de ensino. Dificilmente, no entanto, falamos sobre eles.

O país tem, hoje, 2,2 milhões de docentes na educação básica, de acordo com o Censo da Educação Básica de 2016. Desses, dois em cada dez professores trabalham exclusivamente na rede privada. Isso significa quase meio milhão de profissionais. A imensa maioria (oito em cada dez) trabalha nas escolas públicas.

Agora, os professores da rede privada viraram assunto porque se posicionaram contra uma proposta do sindicato patronal dos estabelecimentos de ensino do estado. Dentre outras coisas, a ideia da entidade é reduzir bolsas a filhos de docentes e cortar o tempo de recesso dos professores.

Professores de cerca de 40 escolas de elite da capital paulista começaram uma paralisação que, em alguns casos, teve apoio de pais e de alunos.

Bom, é uma ilusão achar que os problemas da escola brasileiras estão restritos aos muros da educação pública. A começar pelo salário do professor.

SALÁRIO MENOR 

Um estudo publicado em 2017 pelo Inep-MEC mostrou que quem dá aula na rede pública ganha mais, em média, que o docente da rede privada. O salário médio de um professor de escola pública é de R$ 3.335 para 40 horas semanais. O valor é R$ 736 maior do que o de um professor da rede privada (R$ 2.599), na mesma jornada.

Isso significa que professores ganham bem em escolas particulares de elite, mas, em escolas privadas de bairro, menores, que são a imensa maioria no país, o salário é bem menor do que na rede pública.

Um dos motivos que leva os docentes para a rede privada são as possibilidades de bolsas para os filhos nas escolas em que trabalham. Esse é justamente um dos benefícios que estão em debate na proposta do sindicato patronal. Hoje, filho de quem dá aula em uma escola privada não paga para estudar. As escolas alegam que o benefício traz um impacto muito grande, especialmente em colégios pequenos. Dez docentes podem significar, por exemplo, vinte bolsas.

Esse debate é, na prática, uma tentativa de as escolas particulares equalizarem as contas. Em tempos de crise, de desemprego e de inadimplência dos pais, muitas instituições de ensino estão patinando para fechar o mês.

Vale, no entanto, lembrar da situação em que estão os docentes. Os professores são os profissionais que mais sofrem da síndrome de burnout, que é um completo esgotamento mental. Novamente o problema, claro, não se restringe a quem dá aula na rede pública.

ESGOTAMENTO MENTAL

Um estudo publicado em 2014 no periódico científico de psicologia da USF (Universidade São Francisco), feito por docentes da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mostra que professores da rede privada no Brasil também sofrem de burnout. Especificamente na rede privada do Rio Grande do Sul, onde se concentrou a pesquisa, a relação entre professores e alunos é um dos principais estopins do esgotamento mental dos docentes.

Isso se traduz, por exemplo, como relata o estudo, em “falta de limite e de educação” por parte dos alunos –o que pode ser ainda pior na rede privada do que pública de ensino. “Se, por um lado, pais de alunos de escolas privadas tendem a participar mais do cotidiano escolar, por outro, essa participação pode se reverter em uma espécie de controle da atividade dos professores”, diz um docente de uma escola privada de São Paulo que prefere não se identificar. “Corremos um risco real ao dar uma bronca em um aluno de escola privada.”

Os professores da rede privada são minoria, mas são parte importante do sistema de educação do país. Como escrevem os autores do estudo, é necessário rever as políticas educativas, as formas de gestão e os métodos de intervenção nas instituições para auxiliar. Podemos aproveitar esse momento para fazer justamente isso.

 

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Professor: não desista de suas alunas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/professor-nao-desista-de-suas-alunas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/professor-nao-desista-de-suas-alunas/#respond Mon, 07 May 2018 22:08:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3122
Roda de conversa de alunas de ensino médio da Etec Pirituba, na zona norte de São Paulo – Karime Xavier / Folhapress

Um professor de educação física que comanda um projeto de tênis de mesa no interior de São Paulo me mandou uma mensagem perguntando o que ele poderia fazer para não desistir de suas alunas. De acordo com ele, as meninas vão largando projetos extracurriculares, como os esportivos, conforme crescem. Isso acontece por causa de ciúmes de namorado, por decisão dos pais ou até, diz ele, por causa de cólica menstrual.

“O que fazer para continuar investindo em minhas alunas?”, ele me perguntou.

O questionamento do professor me remeteu à série napolitana de Elena Ferrante, sucesso de vendas no Brasil. Na obra, a autora relata a história de duas meninas muito inteligentes que estavam na escola na década de 1940. As duas foram desestimuladas a estudar pela família, afinal, eram meninas, né? Eis que surge o papel fundamental de uma professora, que resolve insistir para que uma delas siga na educação básica –o que incluiu até empréstimo de livros didáticos e visita à família da garota.

[spoiler alert]

A menina que estudou se torna uma escritora famosa. A outra, que saiu da escola no que seria o nosso ensino fundamental 1, casa-se na adolescência, é abusada pelo marido que a sustentava e foge para trabalhar em um chão de fábrica fazendo embutidos.

[fim do spoiler]

Estou visitando a obra de Elena Ferrante para destacar duas coisas. Em primeiro lugar, garantir a educação básica das meninas –inclusive nas atividades extracurriculares– é uma forma de possibilitar que elas tenham escolhas no futuro. Em segundo lugar, educadores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas e até gestores públicos devem ter um olhar especial para as meninas, assim como teve a professora da obra de Elena Ferrante.

NAMORADO NÃO DEIXA

Agora vamos voltar ao professor do interior de São Paulo. De acordo com ele, muitas meninas deixam de frequentar o projeto de tênis de mesa porque começam a namorar. E o namorado “não deixa” que elas façam os treinos. O contrário (garoto largar o esporte porque a namorada impede), claro, não acontece. O professor de educação física começa a dar cada vez mais atenção aos meninos, assíduos, enquanto as meninas vão sumindo.

Ora,  estamos no Brasil, não na Suécia ou na Dinamarca. Por aqui, alguns homens (ou garotos) ainda acham que devem tomar decisões pelas mulheres (ou garotas). Não seria o caso de conversar com a menina –ou com todas as meninas da escola– sobre o assunto? “Esse também é o papel do educador”, diz Márcia Azevedo, coordenadora pedagógica do Colégio Espírito Santo, pesquisadora da Unicamp e coordenadora do curso de pedagogia da Fappes (Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior).

“Se a menina não tem consciência do lugar que ela está ocupando e da dimensão disso, é função dos educadores, da escola, da família, conscientizá-la”, diz Márcia. “Faz parte da educação ampliar o nível de consciência das decisões.”

Muitas meninas brasileiras também acabam sumindo de projetos extracurriculares por causa de afazeres domésticos. Elas têm de cuidar dos irmãos menores, fazer a comida, lavar a louça da casa. Não podem gastar tempo com tênis de mesa. Nesse caso, também não deveríamos ter uma olhar específico para as meninas que começam a sumir pelo caminho?

Mais: os debates mais recentes de educação falam sobre a escola do futuro de maneira individualizada. Isso significa que a escola e os professores devem ter uma olhar único para cada aluno, que envolva inclusive questões pessoais e familiares. Cada criança e adolescente deve ser trabalhado e estimulado de uma maneira própria. Nesse caso, reforço: é papel do educador, também, avaliar a disponibilidade das meninas para atividades educativas.

(Já em relação à cólica menstrual, bom, ouso dizer que isso pode ser uma espécie de desculpa da aluna para não assumir a proibição do namorado às aulas de tênis de mesa.)

DESEMPENHO ACADÊMICO

Participar de projetos extracurriculares esportivos pode ser determinante na vida acadêmica. Estudos em áreas como a neurociência mostram que a prática de exercícios como o tênis de mesa de maneira regular está associada ao bom desempenho acadêmico. Mais tempo na quadra de esportes pode significar melhores notas na escola. Isso tem a ver com concentração e com desenvolvimento, por exemplo, de capacidade de liderança e de resiliência. Vamos estimular essas capacidades só nos meninos?

Alunos são diferentes e têm necessidades variadas, mas todos podem e devem se desenvolver da mesma maneira. No lugar de desistir das meninas, professor, sugiro que lute por elas.

 

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Você é professor e já passou por uma história parecida? Ou quer compartilhar uma experiência na educação? Mande-me um email! sabine.righetti@grupofolha.com.br

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Lixo na praia mostra que precisamos muito mais do que educação https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/lixo-na-praia-mostra-que-precisamos-muito-mais-do-que-educacao/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/lixo-na-praia-mostra-que-precisamos-muito-mais-do-que-educacao/#respond Wed, 31 Jan 2018 20:39:13 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3083

Quem passou por alguma praia recentemente neste verão talvez tenha se deparado com um fenômeno comum, mesmo nas regiões mais remotas do litoral brasileiro: o lixo. Em uma caminhada de uns dez minutos que fiz no litoral de Santa Catarina no começo de janeiro, por exemplo, encontrei garrafas pet, latinhas de cerveja e de energéticos, canudinhos, plásticos de picolé. Fui recolhendo o que achei até que, sozinha, eu não tinha mais braços suficientes para tanto lixo acumulado.

O problema é que quando a maré sobe, ou quando chove, tudo aquilo que se acumula na areia vai para o mar –e causa um estrago danado. Já há, inclusive, estudos que mostram que até 2050 os Oceanos terão mais plásticos do que peixes.

Por que as pessoas jogam lixo na praia?

Fiz essa pergunta alto para quem estava lá comigo entre latinhas e pacotes de batata frita e tive como resposta o mesmo que você deve ter pensado: “as pessoas não têm educação”. Ok. Então vamos entender o que isso significa.

“Não ter educação” e, por causa disso, jogar lixo na praia, na rua e nos espaços públicos, pode ser entendido como falta de conhecimento. Não aprendi algo então tenho uma determinada atitude por desconhecimento dos impactos do que eu faço. As pessoas, em tese, não saberiam que aquele lixo plástico jogado na areia inevitavelmente vai parar no mar.  Tampouco saberiam que o peixe pode morrer ao ingerir esse plástico –ou, então, pode ingerir pedaços microscópicos de plástico e você, ao comer o peixe, acaba comendo o plástico. É a ideia de “cadeia alimentar”, que aparece na escola no ensino fundamental e pode ser tema até de vestibular.

CADEIA ALIMENTAR

Não me parece, no entanto, que o lixo naquela praia seja um caso de falta de conhecimento. Chuto dizer que a maioria das pessoas que estava lá em Santa Catarina –e que jogou latinha de cerveja por onde passou– tinha passado pelas aulas de biologia da escola. Aquelas pessoas provavelmente tinham diploma de ensino superior –ou até alguma pós-graduação. Cruzei com gente opinando sobre política e ostentando um português elegante –ou falando outras línguas, como espanhol e alemão.

Então qual é a questão?

O problema pode estar no formato da nossa educação. Aprendemos conceitos importantes de maneira muito teórica e temos aulas expositivas focadas em livros didáticos com pouca experimentação. Pode ser que aquelas pessoas da praia tenham conhecimento ambiental, sim, mas não internalizaram os conceitos aprendidos. Trocando em miúdos: quem joga uma sacola plástica na areia da praia pode até acertar uma questão do Enem sobre poluição ou cadeia alimentar, por exemplo, mas talvez não compreenda completamente que aquele seu próprio lixo interfere no ecossistema do qual faz parte.

Mais: pessoas altamente instruídas no Brasil podem ter baixíssima noção de cidadania, do que é ser cidadão, de regras de divisão de espaços públicos. Talvez porque estejam viciadas pelos hábitos de gerações anteriores, que jogavam lixo na praia, as pessoas seguem fazendo o mesmo. Ou então aquelas pessoas estão mais acostumadas a ambientes privados e controlados, e acreditam que sempre haverá alguém para limpar o rastro que se deixa por aí.

Aqui, vamos das aulas de ciências à sociologia. Será que estamos discutindo o suficiente, na escola, sobre a formação sociocultural brasileira, que é impregnada pela ideia de “ser servido”? E debatemos o quanto isso afeta, inclusive, o nosso próprio ecossistema?

Ao que tudo indica, “falta de educação” não explica o lixo encontrado na praia. Precisamos, primeiro, entender de qual educação estamos falando.

 

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Como errar menos ao escolher uma carreira específica na adolescência https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/12/04/como-errar-menos-ao-escolher-uma-carreira-especifica-na-adolescencia/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/12/04/como-errar-menos-ao-escolher-uma-carreira-especifica-na-adolescencia/#respond Tue, 05 Dec 2017 00:03:09 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3025 No Brasil, cometemos uma crueldade sem tamanho no nosso sistema de ensino superior: obrigamos os jovens vestibulandos a escolher uma carreira específica para a vida inteira como “economia empresarial e controladoria com ênfase em negócios internacionais” antes mesmo de entrar na universidade. O problema é que o nosso ensino médio não prepara ninguém para escolher uma carreira específica, o cérebro dos jovens não está pronto para decisões de longo prazo e, se o aluno escolher o curso errado, ele tem de sair do sistema para prestar vestibular de novo. Isso significa perda de tempo e de dinheiro –público ou privado.

Quem aí não conhece alguém que mudou de curso na universidade várias vezes? Ou, pior: quem aí não conhece pelo menos uma pessoa que sabe que está na carreira errada? Recentemente, falei em um TED na USP sobre como errar menos ao escolher uma carreira específica na adolescência. Já que não podemos mudar a porta de entrada no sistema de ensino superior no país, podemos ao menos reduzir a influência da rigidez desse sistema na escolha dos cursos superiores.

Quer saber como? Assista ao TED abaixo e espalhe a ideia!

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Principal reunião anual de cientistas do país começa com clima de ‘fim de festa’ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/17/principal-reuniao-anual-de-cientistas-do-pais-comeca-com-clima-de-fim-de-festa/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/17/principal-reuniao-anual-de-cientistas-do-pais-comeca-com-clima-de-fim-de-festa/#respond Mon, 17 Jul 2017 16:01:50 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2912
A presidente da SBPC, Helena Nader, fala na abertura da reunião anual de cientistas (Pietro Sitchin/SBPC)

O principal encontro anual de cientistas do país, a reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), começou com clima de desânimo neste domingo (16), em Belo Horizonte. Nas quase quatro horas de abertura do evento, que acontece na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a queda de recursos para pesquisa no país foi tema recorrente.

“Estou amarga mesmo. Estou triste”, disse a biomédica Helena Nader em seu discurso. À frente da instituição desde 2011, quando o então chefe da casa, Marco Anonio Raupp, virou ministro de Ciência, Nader enfatizou o corte de verba para ciência, tecnologia e inovação.

Presença constante em Brasília (no último dia 12,  ela estava na Câmara dos Deputados falando sobre cortes em ciência), Nader se emocionou em vários momentos da abertura do evento. No hino nacional, nas homenagens e no seu próprio discurso.

MENOS DA METADE

Para se ter uma ideia, hoje o orçamento federal para ciência, tecnologia, inovação e comunicações (a pasta de “comunicações” foi integrada à Ciência na gestão Temer) é menos da metade do que era em 2014. Isso desconsiderando a inflação no período.

O CNPq, agência federal que fomenta a pesquisa científica ligada à pasta de Ciência, por exemplo, fechou 2016 com orçamento de R$1,4 bilhão. Em 2016, o valor tinha sido exatamente o dobro: R$2,8 bilhões (desconsiderando a inflação).

Com o corte, quem mais sai perdendo são os bolsistas –principal motor da ciência no país. Na prática, quem entrar hoje em um curso de graduação ou de pós no país tem menos chances de conseguir uma bolsa de pesquisa. É uma espécie de “salário” para que o estudante se dedique integralmente à ciência.

O clima entre governo e cientistas anda tão hostil que o ministro da pasta, Gilberto Kassab (PSD), mandou um representante do ministério para a abertura da SPBC –que foi timidamente vaiado pela plateia.

A reunião anual da SBPC reúne há quase 70 anos cientistas de todo o país durante uma semana. Nesta edição, estão previstas 69 conferências e 82 mesas-redondas –fora os minicursos, pôsteres e exposições (veja a programação aqui).

Mais do que tratar de avanços da pesquisa nacional, a expectativa é que a falta de dinheiro para a pesquisa siga em pauta durante toda a reunião.

Um dos temas na agenda, por exemplo, é disseminar a campanha #ConhecimentoSemCortes, que teve início na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A proposta é colher assinaturas em uma petição on-line para pressionar o governo federal a retomar o patamar de investimentos em ciência de 2014.

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Sem salário há três meses, docente da UERJ pede emprego com cartaz para pagar contas atrasadas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/06/11/sem-salario-ha-tres-meses-docente-da-uerj-pede-emprego-com-cartaz-para-pagar-contas-atrasadas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/06/11/sem-salario-ha-tres-meses-docente-da-uerj-pede-emprego-com-cartaz-para-pagar-contas-atrasadas/#respond Mon, 12 Jun 2017 01:25:45 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2866

Sem salário há quase três meses (e com atraso também no 13º salário e nas férias de 2016), o engenheiro químico Evandro Brum Pereira, 61, resolveu postar neste domingo (11) uma foto pedindo trabalho –e a imagem acabou viralizando nas redes sociais.

Na imagem feita pela filha do docente, Thais, 19, Pereira descreve um currículo impecável e deixa o celular para ofertas de trabalho. “Recebi muitas ligações de gente pedindo a minha conta bancária para fazer um depósito”, disse ao Abecedário. “Fiquei emocionado.”

A proposta do docente ao divulgar a imagem, diz, foi fazer uma manifestação. “As pessoas precisam saber que docentes e funcionários da UERJ estão sem salário há meses. Alguém precisa resolver essa situação.”

O engenheiro químico conta que deixou a iniciativa privada na década de 1990 no setor de petróleo para entrar na carreira docente.

Agora, sem salário e com uma família para sustentar, Pereira diz que tem contas atrasadas e dívidas no cheque especial. “Estou me virando como todos os demais docentes e funcionários da UERJ. Estamos todos com dívidas.”

Para se ter uma ideia, um docente em final de carreira com um currículo equivalente ao de Pereira (o que inclui doutorado e pós-doc no exterior) receberia, hoje, um salário líquido de cerca de 12 salários mínimos ao mês. Os salários, diz, estão sem reajuste há cerca de uma década.

MÃOS ATADAS

O Abecedário conversou recentemente com o reitor da universidade, Ruy Garcia Marques. Formado na própria universidade há cerca de 40 anos, ele disse estar de “mãos atadas”. “Estamos na maior crise financeira de nossa história.”

Recentemente, a gestão de Marques negou uma proposta do governo do Rio que queria reduzir os salários em 30% para atualizar os pagamentos atrasados (a redução real seria de 40% considerando a inflação dos últimos 12 meses). Por enquanto, não há previsão de regularização dos salários.

A crise financeira também atingiu os serviços terceirizados da universidade, como coleta de lixo e segurança. De acordo com a bióloga da UERJ Gisele Lobo, especialista em esponjas, muitos alunos e docentes deixaram de ir ao campus porque estão com medo da falta de segurança, especialmente nos cursos noturnos. “Já o meu lixo eu levo para a minha casa”, diz Gisele.

Mesmo sem salário, Pereira, Gisele e outros servidores seguem trabalhando para não prejudicar os alunos –são cerca de 25 mil estudantes na graduação e na pós.

Fundada em 1950, a UERJ está classificada em 13º lugar no país no último RUF -Ranking Universitário Folha. Destaca-se em cursos como direito, no qual figura em 10º lugar no país. “Estamos perdendo credibilidade. Ninguém mais vai querer estudar na UERJ”, diz Pereira.

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