Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Professor: não desista de suas alunas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/professor-nao-desista-de-suas-alunas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/professor-nao-desista-de-suas-alunas/#respond Mon, 07 May 2018 22:08:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3122
Roda de conversa de alunas de ensino médio da Etec Pirituba, na zona norte de São Paulo – Karime Xavier / Folhapress

Um professor de educação física que comanda um projeto de tênis de mesa no interior de São Paulo me mandou uma mensagem perguntando o que ele poderia fazer para não desistir de suas alunas. De acordo com ele, as meninas vão largando projetos extracurriculares, como os esportivos, conforme crescem. Isso acontece por causa de ciúmes de namorado, por decisão dos pais ou até, diz ele, por causa de cólica menstrual.

“O que fazer para continuar investindo em minhas alunas?”, ele me perguntou.

O questionamento do professor me remeteu à série napolitana de Elena Ferrante, sucesso de vendas no Brasil. Na obra, a autora relata a história de duas meninas muito inteligentes que estavam na escola na década de 1940. As duas foram desestimuladas a estudar pela família, afinal, eram meninas, né? Eis que surge o papel fundamental de uma professora, que resolve insistir para que uma delas siga na educação básica –o que incluiu até empréstimo de livros didáticos e visita à família da garota.

[spoiler alert]

A menina que estudou se torna uma escritora famosa. A outra, que saiu da escola no que seria o nosso ensino fundamental 1, casa-se na adolescência, é abusada pelo marido que a sustentava e foge para trabalhar em um chão de fábrica fazendo embutidos.

[fim do spoiler]

Estou visitando a obra de Elena Ferrante para destacar duas coisas. Em primeiro lugar, garantir a educação básica das meninas –inclusive nas atividades extracurriculares– é uma forma de possibilitar que elas tenham escolhas no futuro. Em segundo lugar, educadores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas e até gestores públicos devem ter um olhar especial para as meninas, assim como teve a professora da obra de Elena Ferrante.

NAMORADO NÃO DEIXA

Agora vamos voltar ao professor do interior de São Paulo. De acordo com ele, muitas meninas deixam de frequentar o projeto de tênis de mesa porque começam a namorar. E o namorado “não deixa” que elas façam os treinos. O contrário (garoto largar o esporte porque a namorada impede), claro, não acontece. O professor de educação física começa a dar cada vez mais atenção aos meninos, assíduos, enquanto as meninas vão sumindo.

Ora,  estamos no Brasil, não na Suécia ou na Dinamarca. Por aqui, alguns homens (ou garotos) ainda acham que devem tomar decisões pelas mulheres (ou garotas). Não seria o caso de conversar com a menina –ou com todas as meninas da escola– sobre o assunto? “Esse também é o papel do educador”, diz Márcia Azevedo, coordenadora pedagógica do Colégio Espírito Santo, pesquisadora da Unicamp e coordenadora do curso de pedagogia da Fappes (Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior).

“Se a menina não tem consciência do lugar que ela está ocupando e da dimensão disso, é função dos educadores, da escola, da família, conscientizá-la”, diz Márcia. “Faz parte da educação ampliar o nível de consciência das decisões.”

Muitas meninas brasileiras também acabam sumindo de projetos extracurriculares por causa de afazeres domésticos. Elas têm de cuidar dos irmãos menores, fazer a comida, lavar a louça da casa. Não podem gastar tempo com tênis de mesa. Nesse caso, também não deveríamos ter uma olhar específico para as meninas que começam a sumir pelo caminho?

Mais: os debates mais recentes de educação falam sobre a escola do futuro de maneira individualizada. Isso significa que a escola e os professores devem ter uma olhar único para cada aluno, que envolva inclusive questões pessoais e familiares. Cada criança e adolescente deve ser trabalhado e estimulado de uma maneira própria. Nesse caso, reforço: é papel do educador, também, avaliar a disponibilidade das meninas para atividades educativas.

(Já em relação à cólica menstrual, bom, ouso dizer que isso pode ser uma espécie de desculpa da aluna para não assumir a proibição do namorado às aulas de tênis de mesa.)

DESEMPENHO ACADÊMICO

Participar de projetos extracurriculares esportivos pode ser determinante na vida acadêmica. Estudos em áreas como a neurociência mostram que a prática de exercícios como o tênis de mesa de maneira regular está associada ao bom desempenho acadêmico. Mais tempo na quadra de esportes pode significar melhores notas na escola. Isso tem a ver com concentração e com desenvolvimento, por exemplo, de capacidade de liderança e de resiliência. Vamos estimular essas capacidades só nos meninos?

Alunos são diferentes e têm necessidades variadas, mas todos podem e devem se desenvolver da mesma maneira. No lugar de desistir das meninas, professor, sugiro que lute por elas.

 

**

Você é professor e já passou por uma história parecida? Ou quer compartilhar uma experiência na educação? Mande-me um email! sabine.righetti@grupofolha.com.br

]]>
0
E se a criança não tiver mãe para fazer um desenho na escola? https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/05/13/e-se-a-crianca-nao-tiver-mae-para-fazer-um-desenho-na-escola/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/05/13/e-se-a-crianca-nao-tiver-mae-para-fazer-um-desenho-na-escola/#respond Sun, 14 May 2017 02:27:57 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2856

Há alguns dias, visitei umas escolas em São Paulo para uma atividade acadêmica com alunos da FGV-SP e inevitavelmente nos deparamos com um exercício pelo qual eu passei quando estava na escola (e você também deve ter passado): a elaboração de uma cartinha para as mães. No chamado “mês das mães”, a tarefa do desenho ou do textinho costuma passar pelas aulas de português a artes, de alunos de diferentes séries, em escolas públicas e privadas.

Mas e se o aluno não tiver mãe?

Estiquei os olhos para a cartinha de um aluninho de uma das escolas por onde passei. O texto, no lugar de “mãe”, dizia em garranchos algo do tipo: “Vó, se você morrer eu estou ferrado.”

A cada cinco crianças nascidas no Brasil, uma é filha de mãe adolescente. Em uma das escolas públicas que nós também visitamos, cerca de 10% das alunas do ensino fundamental estavam grávidas. Elas tinham algo entre 13 e 14 anos. Filhos de mães adolescentes têm grandes chances de ser criados pelas avós.

Alguém já pensou que uma criança que está na escola pode ter na avó a sua figura maternal? Ou pode ser órfã? Pode estar morando em um abrigo provisoriamente? Pode viver com o pai e a nova esposa dele? Pode ser um filho de um casal gay de dois homens e, portanto, não ter a ideia da “mãe”?

Fiquei pensando se, hoje, os professores (todos, de escolas públicas e privadas) têm alguma ideia de como é a composição da família de seus alunos. Besteira? Não. Uma das bases da educação na Finlândia, considerada a melhor do mundo, é justamente a relação entre professores e alunos. Os docentes conhecem seus estudantes e, com isso, sabem que tipo de exercício funciona para a realidade de cada um deles. Importantíssimo.

FESTINHA

Mais: muitas escolas (aqui do Brasil) insistem em fazer a festinha de dias das mães em pleno dia útil. Convidam as mães a levar comidas e bebidas para a escola e organizam pequenas apresentações dos alunos. Super lindinho, mas também problemático.

Algumas mães vão, outras não podem. Ora, não é toda profissão que permite que uma mulher consiga tirar algumas horas do dia para acompanhar uma festinha. E se aquela mãe for uma cirurgiã, uma pilota de avião, se estiver viajando a trabalho –ou mesmo se for uma professora dando aula em outra escola? Pois é.

A escola precisa mudar no ritmo das mudanças da sociedade. A família não é mais a mesma e os exercícios em sala de aula que visam trabalhar a ideia da família também precisam ser alterados.

Os professores precisam conhecer os seus alunos e a realidade na qual estão inseridos. Sem isso, a educação vira um processo burocrático e, pior, traumático.

]]>
0
Se o governo ouvisse a ciência, aumentaria a carga de esportes na escola https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/#respond Thu, 27 Oct 2016 22:41:01 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2740 Os educadores podem não saber disso, mas estudos que envolvem neurociência têm mostrado evidências importantes que relacionam a prática de exercícios regularmente ao desempenho acadêmico. Trocando em miúdos: mais tempo na quadra de esportes pode significar melhores notas na escola.

Então não seria interessante que cientistas e educadores trabalhassem juntos para desenvolver estudos para guiar tomadas de decisão na área de educação? Pois é. Essa é a proposta da Rede Nacional de Ciência para Educação, que conecta educadores e cientistas com o objetivo de embasar decisões na área de educação.

A relação entre esportes e o desempenho acadêmico é um exemplo clássico desse trabalho “em rede”.

De acordo com o neurocientista Roberto Lent, que trabalha com plasticidade e evolução do cérebro na UFRJ, e que coordena a rede, uma série de estudos recentes mostram que exercícios físicos melhoram a memória e até a produção de novos neurônios no hipocampo –área do cérebro responsável pela aprendizagem (veja aqui um dos estudos).

Ele abordou o tema em um evento da rede promovido nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Ayrton Senna, em São Paulo.

Em experimentos com ratinhos, é possível “contar” os novos neurônios produzidos. Já em humanos, os resultados são observados a partir de imagens do cérebro.

“Baseado nisso, o governo não deveria tornar educação física uma disciplina opcional”, diz Lent. Vale lembrar: na proposta de reforma curricular do ensino médio, anunciada por meio de Medida Provisória em setembro, educação física e artes passam a ser disciplinas eletivas. A proposta tem sido criticada por especialistas, que receiam que algumas escolas simplesmente não tenham essa opção para os alunos.

MAIS DISPOSIÇÃO

Outros trabalhos mostram também que a endorfina, neurotransmissor produzido com a prática de exercícios, melhora a disposição de maneira geral –o que ajuda na concentração e nas aulas. Mais: exercícios físicos ajudam no sono, que, por sua vez, tem um papel importantíssimo na memória. Para a psicologia, os exercícios físicos ajudam a desenvolver o trabalho em grupo, a liderança e a disciplina.

A ideia da Rede Nacional de Ciência para Educação, criada em 2012, é justamente prover políticas públicas na área de educação de informações científicas que possam ajudar a tomada de decisão. Hoje, há educadores, cientistas, economistas, fonoaudiólogos e pesquisadores de várias áreas do conhecimento envolvidos no trabalho.

“Isso significa que se o governo tivesse ouvido os cientistas, aumentaria as horas de educação física”, diz Lent.

De acordo com com Daniele Botaro, pós-doutoranda do Instituto Ayrton Senna, que também integra a rede, uma das propostas é que os próprios professores tragam temas de pesquisa para a ciência.

“Um professor pode observar um fenômeno em sala de aula e traz uma pergunta para os cientistas responderem”, diz.  Isso é muito comum em países como nos Estados Unidos.

 

 

]]>
0
Licença paternidade aumentada ajuda a integrar os pais na educação dos pequenos https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/03/09/licenca-paternidade-aumentada-ajuda-a-integrar-os-pais-na-educacao-dos-pequenos/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/03/09/licenca-paternidade-aumentada-ajuda-a-integrar-os-pais-na-educacao-dos-pequenos/#respond Wed, 09 Mar 2016 21:54:04 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2460 A discussão é antiga e, finalmente, saiu do papel: a partir de agora, papais terão licença-paternidade estendida de cinco para 20 dias. A mudança está no chamado “Marco Legal da Primeira Infância”, que vai afetar a rotina de cerca de 20 milhões de brasileirinhos, de zero a seis anos de idade. Foi publicado nesta quarta-feira (9) no Diário Oficial.

A alteração é super importante porque permite que os os papais comecem a se integrar um pouco mais nos cuidados e na educação dos filhos desde os primeiros dias.

Hoje, na prática, o que acontece é que as mães se dedicam aos primeiros cuidados do bebê e acabam ficando com todo o resto. A educação dos filhos ainda é vista como uma tarefa prioritariamente feminina. Já escrevi sobre isso aqui no blog em um período em que visitei reuniões de pais em uma série de escolas –só encontrei mães nas instituições de ensino.

Leia caderno especial Folha: primeira infância

Dilma sanciona aumento de 5 para 20 dias de licença-paternidade

A questão é que a criança, mesmo pequenininha, tem o direito de estabelecer vínculo também com o seu pai . Óbvio. “É um momento de criação de vínculo e de necessidades biológicas básicas. Então, é fundamental que o pai participe desse processo junto com a mãe, diz, em nota, Rodrigo Torres, da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Ou seja, estar com o papai, agora, passa a ser visto como um direito fundamental dos brasileirinhos. É uma mudança significativa de abordagem.

PASSINHOS

O novo “Marco Legal da Primeira Infância” é mais um passinho no país para dar atenção aos pequeninhos. O ensino infantil –de zero a cinco anos– já é obrigatório. O que será ensinado na escola infantil, no entanto, ainda está sendo decidido –um dos debates atuais diz respeito à inclusão da alfabetização  na proposta curricular nacional para os brasileirinhos.

Isso é super importante: é justamente na primeira infância, ou seja, até os seis anos, que o cérebro das crianças é esculpido conforme as suas experiências. É isso que a psicologia e a medicina chamam de “janela de oportunidade”: se determinados circuitos cerebrais não forem ativados nessa fase, há uma poda dos neurônios não utilizados.

É na primeira infância que a criança, quando brinca, ativa o cérebro por meio da imaginação e da capacidade de concentração. Ela desenvolve características importantes que vão definir a sua personalidade e aspectos não-cognitivos de sua formação –o que é conhecido como “inteligência emocional”.

Dá para deixar os pais fora disso? Não, claro que não dá.

 

 

]]>
0