Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Perda de acervo raro do Museu Nacional afeta ciência e educação básica do país https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/09/02/perda-de-acervo-raro-do-museu-nacional-afeta-ciencia-e-educacao-basica-do-pais/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/09/02/perda-de-acervo-raro-do-museu-nacional-afeta-ciencia-e-educacao-basica-do-pais/#respond Mon, 03 Sep 2018 01:53:15 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/museu-nacional-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3383 Neste domingo (2), o principal e mais antigo museu do país, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, foi tomado por um incêndio de grandes proporções que pode ter destruído toda a coleção do prédio principal — incluindo fósseis, estudos, o acervo de invertebrados  (como borboletas e aranhas) e exemplares de múmias. Estima-se que, ao todo, 20 milhões de peças tenham sido perdidas. O que isso significa?

Isso significa muita coisa. A perda do acervo do Museu Nacional afeta o nosso desenvolvimento científico, ligado às universidades, e também afeta a educação básica do país.

Em relação à ciência, o Museu Nacional reunia 200 anos de trabalhos acadêmicos. O espaço foi criado em 1818 por Dom João 6, como lembra um trabalho publicado na última edição da revista Ciência e Cultura, para “propagar os conhecimentos e estudos das ciências naturais no Reino do Brasil.”

Na prática, o prédio centenário guardava boa parte de espécies descritas por cientistas do país — que era visitada por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. “Essa perda é inestimável, é irreparável, a gente nunca mais vai conseguir isso de volta”, diz a bióloga Claudia Russo, da UFRJ, que trabalha com invertebrados no museu. Essas espécies ficam armazenadas em material altamente inflamável, como álcool, em espaços geralmente de madeira — por isso, o fogo se espalha tão rapidamente.

Mais: espaços como o Museu Nacional são importantes para o desenvolvimento da própria educação básica do país. Isso porque é em museus, centros e exposições — a chamada educação não formal — que estudantes têm contato com aquilo que estudam nos livros didáticos. Os alunos experimentam, vivenciam e acabam sendo incentivados a estudar quando voltam para a escola.

O Museu Nacional tinha, por exemplo, uma ampla coleção de fósseis — incluindo dinos brasileiros e o mais antigo fóssil humano brasileiro, de onze mil anos, a Luzia, encontrado na década de 1970 em Minas Gerais. Isso além de múmias egípcias raras no mundo, como destaca Claudia Russo.

Os estudantes que visitavam o espaço podiam ver tudo isso. Aprendiam sobre história, biologia, paleontologia de um jeito que a escola não tem condições de ensinar.  “É a maior perda de acervo de toda a história do nosso país”, diz a também bióloga Maria Paula Correia, que trabalha com educação não formal (fora da escola) na consultoria Percebe Educa.

No Brasil, espaços como o Museu Nacional são raríssimos — o que prejudica ainda mais a nossa problemática educação básica. Para se ter uma ideia, um em cada dez brasileiros declara ter visitado um espaço de ciências como o Museu Nacional nos últimos doze meses, de acordo com a última pesquisa nacional de percepção pública da ciência conduzida pelo então Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2015.

“Quando questionados pela baixa visitação a esses espaços, as respostas mais frequentes demostram muito mais falta de acesso ou de conhecimento do que a falta de interesse”, informa a pesquisa. Três em cada dez brasileiros revelaram, na pesquisa, que deixavam de frequentar esses espaços porque eles simplesmente não existiam onde viviam.

O problema é que estamos perdendo nossos raros espaços de ciências no país. Em 2010, um incêndio no Butantan, em São Paulo, queimou parte da coleção — incluindo uma amostra rara de serpentes. Cinco anos depois, o Museu da Língua Portuguesa, também em São Paulo, foi tomado por um incêndio — e deve ser reaberto em 2019 com tecnologia corta-fogo. Já o Museu do Ipiranga, também na capital paulista, ligado à USP, está fechado desde 2013 por risco de desabamento — e não tem previsão de reabertura.

Especificamente na UFRJ, universidade ligada ao Museu Nacional, os incêndios também têm sido comuns. No ano passado, um incêndio destruiu parte do alojamento estudantil da universidade. Como mostrou o RUF – Ranking Universitário Folha em 2017, a UFRJ enfrenta situação financeira frágil, com dificuldade para manutenção das instalações e de investimento em novos prédios.

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Conheça o professor de escola que criou uma exposição de ciências que roda o país https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/07/conheca-o-professor-de-escola-que-criou-uma-exposicao-de-ciencias-que-roda-o-pais/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/07/conheca-o-professor-de-escola-que-criou-uma-exposicao-de-ciencias-que-roda-o-pais/#respond Fri, 07 Jul 2017 20:14:35 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2879

Quem passou pelo shopping Market Place (zona Sul de São Paulo) nas últimas semanas deve ter cruzado com uma exposição de ciências que ocupa o lugar de uma loja no piso superior. O que os visitantes não sabem é que a iniciativa –e toda a construção dos equipamentos— é de um professor de física do ensino médio do interior de São Paulo, Júlio Abdalla, 61.

A história começou há cerca de 20 anos, quando ele montou uma mostra de experimentos de física na escola em que dava aula. Em 2014, conta, ele refez a exposição e decidiu transformá-la em “uma mostra itinerante para viajar de norte a sul do Brasil”. Deu o nome de ExperCiência.

Museus devem incentivar perguntas

Os experimentos foram desenvolvidos pelo professor, com recursos próprios e com ajuda de marceneiros, serralheiros e outros profissionais. “Para sua elaboração, uso meu conhecimento em ciências e também pesquiso bastante.” Essa pesquisa inclui visitas a museus de ciências de ponta de países como EUA, Reino Unido e Alemanha.

Em uma das atividades da exposição (o chamado gerador de Van de Graaf) é possível experimentar um efeito da eletrostática. O equipamento, quando tocado, faz com que os cabelos do visitante fiquem literalmente em pé. É um dos preferidos das crianças.

Hoje, o acervo da ExperCiência tem cerca de 50 equipamentos. Parte deles já esteve, diz Abdalla, nos estados do Amazonas, Pará, Ceará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. De acordo com Abdalla, essa é a única exposição significativa de ciências que viaja pelo país.

Há também experimentos em dois grandes museus permanentes: o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, em Porto Alegre e o Catavento, em São Paulo. De acordo com Abdalla, mais de 200 mil pessoas já brincaram no ExperCiência. São quase três estádios do Maracanã lotados.

ATÉ SÁBADO

No Market Place, a exposição termina no sábado (8). A definição de um novo destino depende de parcerias –com shoppings, por exemplo. “O nosso desejo é expor em todos os cantos do país, mas como dependemos de parcerias, são elas que acabam influenciando os locais.”

Júlio Abdalla ainda dá aula de física, agora na escola Gabarito, que ele próprio criou há 15 anos, inicialmente com aulas de reforço de física, química e matemática para o vestibular.

Para ele, o ensino de ciências no país é muito ruim. “Faltam investimentos e interesse em levar conhecimento para a população”, diz. “Vejo algumas iniciativas de desenvolvimento de parques  de ciências em algumas cidades, que logo são abandonados ou  inutilizados.”

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Pesquisadores ‘top’ falam sobre ciência com visitantes do Museu do Amanhã https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/01/11/pesquisadores-top-falam-sobre-ciencia-com-visitantes-do-museu-do-amanha/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/01/11/pesquisadores-top-falam-sobre-ciencia-com-visitantes-do-museu-do-amanha/#respond Mon, 11 Jan 2016 14:26:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2378 O Museu do Amanhã –aquele espaço lindo de ciência que acabou de ser inaugurado no Rio de Janeiro– está começando neste mês  de janeiro uma programação muito bacana, gratuita e, infelizmente, ainda rara no Brasil: um ciclo de conversas de cientistas “top” com os visitantes.

A ideia é que todas as terças e quintas-feiras de janeiro e de fevereiro o museu traga um cientista para debater um dos temas que está “em cartaz” no museu. Em janeiro, há pesquisadores falando sobre assuntos que vão de mudanças climáticas a funcionamento do cérebro, por exemplo.

Isso é muito bacana porque a educação científica dos brasileiros é bem ruim e carente desse tipo de iniciativa. Quer ver? Na última avaliação internacional Pisa, da OCDE, ficamos em 59º lugar de um total de 65 países no exame de ciências. A prova mostrou que mais da metade dos brasileiros alcança apenas o nível 1 de conhecimento em ciências. Isso significa que os brasileirinhos são capazes de aplicar o que aprendem sobre ciências apenas superficialmente no seu cotidiano.

Com tema sustentável, Museu do Amanhã é pesadelo maravilhoso

Por falta de educação em ciências, brasileiro dispensa bula e corre riscos

É justamente em espaços como museus de ciências que as pessoas conectam o que se aprende na escola com a vida real. O museu não ensina, mas instiga. Estimula os visitantes para que tenham vontade de aprender mais lá no museu mesmo ou em outros lugares.

Essa iniciativa do Museu do Amanhã é rara porque boa parte dos cientistas brasileiros ainda não está assim tão disposta a falar com a sociedade (ou com os que não são cientistas). Eles não têm a educação científica como parte de suas atividades rotineiras, que incluem dar aulas na universidade e fazer pesquisa. Isso justamente em um país que carece tanto de atividades de educação na área de ciências.

‘NÃO POSSO FALAR’

Muitos cientistas brasileiros tampouco priorizam falar sobre ciência e sobre seus trabalhos com a imprensa –uma das principais pontes entre ciência e a “sociedade”. Quer ver? Há alguns dias, escrevi um texto na Folha sobre um estudo publicado na “Science”, uma das principais revistas científicas do mundo, que trazia a colaboração de cientistas brasileiros de instituições de norte a sul do país. Tentei falar com todos para escrever o meu artigo, mas não consegui encontrar nenhum. No mesmo dia, entrei em contato com um cientista da Universidade do Texas, nos EUA, e recebi retorno imediato. Ele falou comigo e ainda me mandou um e-mail com material complementar.

Esse episódio me fez recordar outra experiência com cientistas brasileiros. Há alguns anos, escrevendo sobre um assunto complexo de física que envolvia formação e expansão for Universo, um cientista brasileiro se recusou a falar comigo com o seguinte argumento: “Sabine, a educação científica dos brasileiros é tão ruim que ninguém vai entender a minha explicação.” Ok, mas se a educação científica brasileira é ruim mesmo, então não deveríamos contribuir para melhorá-la?

Pois é.

Bom, por enquanto, o Museu do Amanhã está um sucesso. Em um país em que só 4% da população visita espaços de ciência, de acordo com dados oficiais, o Museu do Amanhã já bateu números inimagináveis: quatro mil visitantes por dia. Se os ciclos de conversas com os cientistas forem assim cheios, e se tivermos mais iniciativas com essa pelo país, certamente nossos índices de educação científica podem mudar drasticamente no futuro.

 

 

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