Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 MEC deve apresentar ‘base curricular de professores’ nos próximos dias https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/mec-deve-apresentar-base-curricular-de-professores-nos-proximos-dias/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/12/10/mec-deve-apresentar-base-curricular-de-professores-nos-proximos-dias/#respond Mon, 10 Dec 2018 17:47:07 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/rossiele-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3478 O Ministério da Educação deve apresentar nos próximos dias uma referência para orientar os currículos dos cursos de licenciatura e de pedagogia de todo o país. São as graduações que formam os professores que dão aula em todas as escolas brasileiras.

A ‘base nacional curricular de professores’ será encaminhada pelo MEC  para avaliação do CNE (Conselho Nacional de Educação). A expectativa é que o órgão debata o conteúdo curricular por cerca de dois anos antes de chegar à versão final do documento. Se isso acontecer, a implementação da nova base deve começar em 2023.

O processo será semelhante ao da aprovação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que, nesse caso, orienta a elaboração de currículos para o ensino infantil, fundamental e médio. A BNCC passou por cinco ministros de educação e foi aprovada na gestão do atual ministro Rossieli Soares da Silva. A última parte da BNCC, referente ao ensino médio, foi aprovada em novembro.

O ministro tem enfatizado que habilidades básicas de quem dá aula estejam na ‘base nacional curricular de professores’ — e, consequentemente, em todos os cursos que formam professores no país. De acordo com ele, hoje há diferenças muito grandes entre o que é ensinado em licenciatura e em pedagogia em diferentes instituições.

A iniciativa da base curricular de professores, no entanto, tem torcido o nariz especialmente de universidades públicas — que têm autonomia pedagógica, mas devem seguir as determinações do CNE.

Já nas instituições privadas de ensino superior, de onde sai a maioria dos professores do país, a principal preocupação é com os cursos de graduação a distância. Hoje, metade das matrículas em pedagogia no país são em cursos online.

O encaminhamento da ‘base nacional curricular de professores’ do MEC ao CNE deve ser a última tacada de Rossieli da Silva na pasta. O ministro — que já foi secretário estadual de educação no Amazonas — está de mudança para São Paulo, onde assume a Secretaria Estadual de Educação na gestão do governador eleito João Dória (PSDB).

 

 

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Empresas estrangeiras são as que mais têm pesquisa com USP, Unesp e Unicamp https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/empresas-estrangeiras-sao-as-que-mais-tem-pesquisa-com-usp-unesp-e-unicamp/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/empresas-estrangeiras-sao-as-que-mais-tem-pesquisa-com-usp-unesp-e-unicamp/#respond Thu, 09 Aug 2018 15:06:54 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/brito-cruz-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3351 Na lista das dez empresas com mais artigos científicos publicados com as universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp), oito são estrangeiras. As exceções são a Petrobras, que lidera a quantidade de pesquisas em parceria com essas universidades, e a Embraer, que fica em 10° lugar.

O levantamento, inédito, é do diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz. Foi apresentado nesta quarta (8), no lançamento do livro “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais” [Com-Arte/Fapesp, 256 págs., R$ 50].

Brito Cruz analisou a quantidade de estudos científicos publicados pelas universidades públicas de São Paulo em co-autoria com empresas, de 2011 a 2017, na base de periódicos acadêmicos Web of Science. “Estamos falando de parceria científica de verdade”, disse. “São estudos feitos de maneira conjunta. Não se trata de a empresa colocar dinheiro para a universidade pintar a parede de um laboratório.”

Entre as empresas de fora com mais trabalhos acadêmicos com os cientistas paulistas no período analisado estão a Novartis (com 118 estudos), a Roche (73) e a Merck (59) — veja lista ao final do texto.

O ranking traz cenários interessantes. Por exemplo, uma pequena empresa nacional de Ribeirão Preto (340km da capital paulista), a Apis Flora, figura em 23° lugar com 26 estudos feitos com universidades. Eles trabalham com produtos para saúde derivados de mel e de própolis — e têm mais estudos acadêmicos com universidades paulistas do que companhias gigantes como a Sanofi (26° lugar, com 22 estudos) e a Microsoft (37° lugar, com 12 estudos).

A Apis Flora, como destacou Brito Cruz, já teve investimento da própria Fapesp para fazer pesquisa. A empresa ganhou, por exemplo, em 2008, um aporte de recursos por meio do programa Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas) para o desenvolvimento de biocurativos a partir de extrato de própolis para tratar queimaduras.

Os dados de Brito Cruz mostram, ainda, que a quantidade de estudos feitos com empresas no total de publicações das universidades de São Paulo vem aumentando em ritmo frenético e se compara a de países desenvolvidos. Na USP e na Unicamp, por exemplo, quase 3% de todos os estudos científicos publicados entre 2015 e 2017 tiveram parceria com alguma empresa. A taxa é um pouco maior do que a da Universidade da Califórnia em Davis, que fica no meio do Vale do Silício (EUA).

“Isso serve para desmontar um discurso recorrente de que universidades públicas não fazem pesquisa com indústria”, diz Brito Cruz. “Pelo menos no Estado de São Paulo isso não é verdade.”

DESEMPENHO

O livro “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais”, que traz o estudo de Brito Cruz, reúne trabalhos de 18 especialistas em ensino superior e avaliações de desempenho acadêmico das universidades [um dos estudos da obra, sobre os principais rankings internacionais de universidades que existem, é de minha autoria!]

A obra é coordenada por Jacques Marcovitch, professor e ex-reitor da USP, e faz parte de uma proposta da própria Fapesp de analisar formas de mensurar desempenho acadêmico e de refletir sobre as universidades paulistas. No ano passando, Marcovitch coordenou outra publicação, “Universidade em Movimento” [Com-Arte/Fapesp, 256 págs., R$ 40], na qual os autores trataram de gestão das universidades e da crise financeira instalada na USP.

Empresas com mais artigos científicos com universidades paulistas
(2011-2017)

  1. Petrobras (199 estudos)
  2. Novartis (118)
  3. Roche (73)
  4. Merck (59)
  5. Westat (53)
  6. AstraZeneca (52)
  7. Pfizer (51)
  8. GSK (50)
  9. Agilent (49)
  10. Embraer (47)

Fonte: Brito Cruz, Carlos Henrique (2018): “Indicadores sobre Interação Universidade-Empresa em Pesquisa em São Paulo” em “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais” (p. 198)

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Por que precisamos de bolsas de pesquisa na graduação e na pós? https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/02/por-que-precisamos-de-bolsas-de-graduacao-e-de-pos-graduacao-no-brasil/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/02/por-que-precisamos-de-bolsas-de-graduacao-e-de-pos-graduacao-no-brasil/#respond Fri, 03 Aug 2018 01:33:58 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/capes-320x213.jpeg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3328 Podemos ficar sem bolsas de graduação e de pós-graduação no meio do ano que vem. A afirmação é de Abílio Baeta, presidente da Capes, agência federal de fomento à ciência ligada ao MEC, e veio à tona nesta quinta (2), em nota enviada pela entidade à pasta de educação.

O documento traz uma matemática assustadora: o teto de gastos que deve ser imposto à Capes em 2019 pode inviabilizar o pagamento de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado e outras formas de fomento a partir de agosto de 2019 — o que afeta quase meio milhão de pessoas. A questão é que a fatia do orçamento do MEC previsto para a Capes no ano que vem não dá conta de manter as bolsas vigentes.

Para se ter uma ideia, o valor aprovado para a Capes neste ano (R$3,94 bilhões) é cerca de metade do dinheiro empenhado em 2015 (R$7,77 bilhões) — e o montante ficaria ainda menor no ano que vem.

Qual é o problema disso?

A produção de conhecimento no Brasil é quase totalmente baseada no trabalho de pesquisadores de programas de pós-graduação, que recebem bolsas para se dedicarem exclusivamente às suas pesquisas. É como se fosse um salário pago pelo governo — só que sem nenhum benefício, como arrecadação de aposentadoria, de fundo de garantia ou férias.

Por exemplo: um aluno de doutorado de uma universidade brasileira que esteja trabalhando na compreensão de uma determinada doença recebe mensalmente R$2.200 da Capes para se dedicar exclusivamente à sua pesquisa. São pessoas na faixa dos 30 anos que, muitas vezes, têm família e filhos. Dependem desse dinheiro — e não podem ter outro trabalho remunerado.

O trabalho de um doutorando como esse pode levar a terapias para uma doença, melhor interpretação de exames, insumos para vacinas. E por aí vai.

Mesma coisa acontece com quem tem uma bolsa de mestrado (R$1.500 mensais). Supondo que esse mestrando seja da área de sociologia e que esteja trabalhando com um tema ligado, por exemplo, à violência urbana. Uma nova análise na área, novos dados e levantamentos podem levar a políticas públicas mais eficazes. Como o próprio presidente da Capes, que é sociólogo, diz: “Não tem como resolver problema urbano, violência e corrupção sem humanidades.”

Com esse modelo, o país tem produzido bastante conhecimento. Para se ter uma ideia, em 2017 o Brasil ficou entre os 15 países que mais produzem ciência no mundo, de acordo com o ranking do Scimago. Foram 73.697 estudos novos publicados ao longo do ano. Isso dá mais de 200 estudos por dia.

A comunidade acadêmica, claro, recebeu a nota da Capes enviada ao MEC como uma bomba. Isso porque o dinheiro está sendo cortado de todos os lados: o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, de onde sai o dinheiro de outra agência federal de fomento à ciência, o CNPq, já perdeu metade do seu orçamento desde 2014 (e ganhou a pasta de comunicações nesse período).

Como informa a Folha, o MEC atribuiu o corte de recursos ao Ministério do Planejamento, que disse, em nota, que os recursos para o MEC em para 2019 estão acima do limite constitucional.

De acordo com a biomédica Helena Nader, presidente emérita da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a notícia surpreendeu a comunidade acadêmica. “Tínhamos uma sinalização positiva do governo em relação aos recursos para pesquisa”, diz. “Até para plantar soja precisamos de ciência.”

A expectativa da comunidade científica, diz Nader, no entanto, é que o cenário seja revertido. O presidente Temer tem de sancionar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que define os recursos de cada pasta federal em 2019, nos próximos dias. “Estamos contando com o veto”, diz Nader.

 

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‘Nobel’ da matemática muda da França para Suíça — e segue com pé no Brasil https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/27/nobel-da-matematica-muda-da-franca-para-suica-e-segue-com-pe-no-brasil/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/27/nobel-da-matematica-muda-da-franca-para-suica-e-segue-com-pe-no-brasil/#respond Fri, 27 Jul 2018 14:27:07 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/artur-avila-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3307 O único ganhador brasileiro da medalha Fields — prêmio que é considerado o Nobel da matemática — está de malas prontas. O matemático Artur Avila (39) acabou de ser contratado pela Universidade de Zurique, na Suíça, onde começa a trabalhar em agosto. Ele deixa o CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, órgão do governo francês), onde era diretor de pesquisa, mas segue colaborando com o Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada) — condição, diz, para que aceitasse a proposta suíça.

“Não queria interromper essa situação”, disse o matemático ao Abecedário.  “O Impa é a principal instituição de matemática do país.”

Avila chegou ao instituto aos 17 anos: fez mestrado e doutorado no Impa simultaneamente à graduação em matemática na UFRJ. Aos 21 anos, já estava no pós-doutorado na França — o que lhe dá um caráter de gênio na área mundialmente.

A condição de continuar com a colaboração em pesquisa com o Impa tem também um tom de nacionalismo. “Existem funções que posso exercer no Brasil para além da pesquisa em matemática”, diz. A principal delas é atrair estudantes brasileiros para a matemática — área em que o país ainda patina internacionalmente. Para se ter uma ideia, o Brasil está em 65° lugar na avaliação de matemática do PISA, da OCDE, dentre 70 países. É o pior desempenho do país no exame (as outras áreas avaliadas são ciências e linguagens).

Nessa missão, Avila quer inspirar a garotada. Dá palestras, circula em escolas, conversa com estudantes, tira selfies e, vira e mexe, entrega medalha na OBMEP (Olimpíadas Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), organizada pelo próprio Impa. Para ele,  a OBMEP é um caso de sucesso na educação do país. “Ganhar uma medalha dá um ânimo. Funciona realmente.”

O matemático brasileiro tem recebido convites de instituições renomadas de ensino e pesquisa mesmo antes da medalha Fields, prêmio que recebeu em 2014. “As pessoas não ganham um Fields do nada, então os bons nomes estão circulando e acabam recebendo convites”, diz. Somente neste ano, no entanto, decidiu analisar propostas.

Escolheu Zurique porque é um lugar bastante desenvolvido matematicamente. E tem dinheiro: “terei recursos para convidar pessoas do Brasil.” Na Suíça, além de pesquisa, que será sua principal atividade (ele trabalha com matemática pura), Avila vai ministrar um curso ligado à sua atividades de estudos.

A mudança dele para a Suíça não se trata, enfatiza, de uma fuga de cérebros — fenômeno em que pessoas altamente qualificadas deixam o país em busca de oportunidades fora. “Estou fugindo da França para Suíça!” (risos)

A Universidade de Zurique está entre as 100 melhores do mundo no ranking universitário THE e em 58° lugar no ranking de Shangai. Esse último considera a quantidade de prêmio Nobel e medalhas Fields no total docente como critério de qualidade da instituição.

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Impacto das universidades brasileiras é baixo mesmo na América Latina https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/20/impacto-das-universidades-brasileiras-e-baixo-mesmo-na-america-latina/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/20/impacto-das-universidades-brasileiras-e-baixo-mesmo-na-america-latina/#respond Fri, 20 Jul 2018 18:07:32 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/unicamp-320x213.jpeg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3290 O Brasil tem as melhores universidades latino-americanas, de acordo com um ranking britânico divulgado na quarta (18) pelo THE – Times Higher Education. No entanto, quando olhamos especificamente para o impacto das instituições brasileiras, que é um dos critérios analisados pelo ranking THE, o Brasil perde para países como Peru, Equador e Colômbia.

O THE avalia as universidades especificamente da América Latina com base em cinco indicadores: ensino, pesquisa científica, impacto da pesquisa, internacionalização e relação com a indústria. O Brasil vai bem na maioria dos quesitos, mas derrapa no impacto de seus trabalhos acadêmicos.

Considerando os cinco compoentes da fórmula do THE, a Unicamp lidera a América Latina, seguida pela USP. Seis universidades brasileiras estão entre as dez primeiras da região — um número maior do que no ano passado, quando havia cinco (neste ano, as federais de Minas e do Rio Grande do Sul entraram para o topten, enquanto a UFRJ caiu para 12º lugar).

Quem tem mais impacto na região latino-americana, no entanto, é a Universidade Caytano Heredia, do Peru, seguida pela Diego Portales (Chile). A primeira brasileira na avaliação de impacto, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), aparece em 16º lugar depois de instituições da Colômbia, do Equador, da Argentina e do México. A Unicamp está em 28º lugar seguida da USP, em 29º.

O componente que avalia o impacto das universidades no ranking latino-americano do THE vale um 20% da nota recebida pela universidade (na listagem mundial, esse item vale ainda mais: 30% da nota). Para fazer o cálculo, o THE se debruça sobre a quantidade de trabalhos científicos de cada universidade mencionados em outros trabalhos publicados posteriormente.

O Brasil vai mal nessa análise porque os trabalhos brasileiros são menos citados mundialmente do que aqueles feitos em outros países da América Latina. O baixo impacto dos trabalhos acadêmicos por aqui é, aliás, o que mais tem derrubado as universidades brasileiras em comparações globais. Para se ter uma ideia, a USP, que já esteve em 158º lugar no ranking THE global (em 2012), hoje está na classificação 251-300 no mundo.

Por que isso acontece?

Há algumas explicações. Em primeiro lugar, o Brasil ainda publica boa parte de seus estudos científicos em português (estima-se que 70% dos mais de 300 periódicos científicos nacionais sejam em língua portuguesa). Isso impede que cientistas que não falem o nosso idioma consigam ler e citar os trabalhos brasileiros. Tem mais impacto as universidades que priorizam estudos publicados em inglês.

Há, ainda, quem diga que o problema esteja na qualidade dos trabalhos acadêmicos brasileiros mesmo. Se um estudo científico não trouxer uma descoberta relevante, então dificilmente será citado por trabalhos feitos posteriormente.

Mas atenção: isso não significa que a qualidade dos pesquisadores das universidades brasileiras seja ruim (a literatura sobre o assunto ressalta, inclusive, que indicador de impacto não serve para medir produção individual, mas sim a produção das instituições).

Acontece que para publicar um estudo que abale a comunidade acadêmica global é preciso ter recursos para infra-estrutura, para insumos de laboratório, para pagar alunos de pós-graduação. E, por aqui, para se ter uma ideia, os investimentos federais destinados à ciência já caíram pela metade desde 2014.

O corpo docente das universidades brasileiras, avaliado no THE no indicador de “ensino”, aliás, está entre os melhores da região. Nove dentre as dez universidades mais bem avaliadas nesse quesito são do Brasil — a exceção é a Universidade dos Andes, da Colômbia, em 10º lugar.

No lugar de comemorar a boa posição da Unicamp e da USP na avaliação geral das universidades latino-americanas do THE, vale a pena esmiuçar os indicadores e projetar cenários. Enquanto os investimentos em ciência não se normalizarem no Brasil, o impacto da ciência brasileira vai continuar caindo na América Latina e no mundo –e aí vamos caminhar em passos largos para o final da fila de qualquer ranking.

 

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Grupos de mídia levam jornalistas para ensinar educação midiática em escolas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/03/grupos-de-midia-levam-jornalistas-para-ensinar-educacao-midiatica-em-escolas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/03/grupos-de-midia-levam-jornalistas-para-ensinar-educacao-midiatica-em-escolas/#respond Tue, 03 Jul 2018 10:00:18 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Captura-de-tela-2018-07-01-16.01.08-320x213.png http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3275 Dois grandes jornais britânicos anunciaram na última quinta (28) que vão trabalhar juntos em um projeto de educação midiática nas escolas do Reino Unido. A proposta do The Times e The Sunday Times é levar seus jornalistas para escolas daquele país para que os alunos sejam expostos a histórias jornalísticas reais, pesquisa e apuração.

O que está por trás da iniciativa é uma preocupação crescente dos grupos de comunicação com a disseminação de notícias falsas (fake news). São os textos com cara de jornalismo que se disseminam especialmente por redes sociais. O problema é que pessoas podem tomar decisões baseadas em notícias falsas — como decidir em quem votar — sem saber que estão sendo enganadas.

A atuação de grupos de mídias em escolas não é novidade no Reino Unido. Desde 2006, a BBC — maior e mais antiga emissora do mundo — institucionalizou a necessidade de promover alfabetização midiática nas escolas daquele país. O grupo disponibiliza materiais on-line baseados no currículo escolar do Reino Unido para serem utilizados por estudantes e professores. Entre as iniciativas, há até um game — o iReporter — que simula o primeiro dia de trabalho de um jornalista de verdade apurando uma história.

Neste ano, a BBC também anunciou que levará seus jornalistas para as escolas britânicas para ajudar no projeto de educação midiática (é o “BBC journalists return to school”). A decisão do grupo surgiu depois de uma pesquisa nacional que mostrou que apenas 2% das crianças e dos adolescentes daquele país têm a capacidade de leitura crítica necessária para discernir uma notícia falsa de uma notícia verdadeira.

No Brasil, não há nenhuma pesquisa que identifique a capacidade de discernimento de notícias reais e falsas pelos estudantes brasileiros. Tampouco há iniciativas de grupos de mídia voltadas às escolas do país. Há, no entanto, uma série de pesquisas sendo conduzidas na área. Uma delas é a da jornalista Jéssica Santos, que está estudando iniciativas de alfabetização no acesso a notícias em um mestrado profissional na ESPM.

“Enquanto pesquisadores tentam compreender porque somos tão suscetíveis ao cenário complexo de desordem informacional, cabe às empresas jornalísticas participar ativamente de projetos que ajudem as pessoas a conhecer o processo de seleção, de produção e de financiamento das notícias”, diz Jéssica.

“Desordem informacional” é o nome dado pelos acadêmicos à disseminação de notícias falsas aliada à incapacidade de discernimento entre a informação real e a falsa.

Além dos grupos de mídia do Reino Unido, jornais norte-americanos também têm atuado em educação midiática em escolas. Caso do The Washington Post e do The New York Times — esse último, por exemplo, tem uma seção no seu próprio site que reúne material jornalístico que pode ser usado por professores nas escolas.

“São organizações que já enfrentam o desafio com iniciativas que comprovam a eficácia de equipar a sociedade para lidar com a sobrecarga de informações e a dificuldade em determinar a veracidade do que é propagado nas mídias.”

A ESPM, onde Jéssica faz pós-graduação, estabeleceu neste ano a chamada Cátedra Palavra Aberta ESPM — em parceria com uma ONG homônima que se dedica ao consumo midiático. A expectativa da cátedra é fomentar academicamente os trabalhos na área. 

 

 

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Brasileiro assume grupo ligado à Unesco que trata de rankings universitários https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/brasileiro-assume-grupo-ligado-a-unesco-que-trata-de-rankings-universitarios/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/brasileiro-assume-grupo-ligado-a-unesco-que-trata-de-rankings-universitarios/#respond Thu, 28 Jun 2018 12:33:16 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Luiz-CláudioIREG-320x213.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3231 O matemático Luiz Cláudio Costa, ex-presidente do Inep-MEC (até 2012) e professor aposentado da Universidade Federal de Viçosa, dentre outras credenciais, acaba de assumir a principal referência mundial em rankings universitários: o Observatório de Rankings Acadêmicos e de Excelência (IREG, na sigla em inglês) ligado à Unesco.

Criado em 2009, a ideia do observatório é acompanhar e discutir em uma reunião anual as metodologias e os impactos de rankings universitários nacionais e internacionais de todo o mundo — como o RUF (Ranking Universitário Folha). O RUF, aliás, apresentou sua metodologia na reunião anual do IREG em 2013, em Varsóvia, na Polônia.

Para se ter uma ideia, a estimativa é que existam hoje cerca de 20 rankings globais de universidades, que analisam e comparam instituições de todo o mundo, e mais de 60 rankings nacionais como o RUF. Essas avaliações olham para indicadores como produção científica de cada instituição, nível de formação dos docentes e taxa de evasão dos alunos.

O primeiro deles, do jornal U.S.News (EUA), o “U.S. News & World Report”, surgiu em 1983 com objetivo de orientar alunos estrangeiros que buscavam estudar daquele país. Vale lembrar que em boas universidades americanas, cerca de um em cada cinco alunos vem de países como China e Arábia Saudita. O ranking é publicado anualmente até hoje e inspirou listagens de países como Canadá, México, Chile e do Brasil (caso do RUF).

A questão é que, como mostra a literatura acadêmica na área, rankings universitários impactam a decisão de alunos, a gestão de universidades de todo o mundo e as políticas públicas voltadas ao ensino superior. Uma das ideias da gestão de Costa no IREG, diz, é avaliar se rankings universitários têm melhorado a qualidade do ensino superior de todo mundo. “Também vamos discutir em profundidade o desbalanço que hoje existe nos rankings em favor das atividades de pesquisa em relação as atividades de ensino. É muito difícil medir ‘qualidade de ensino'”.

O blog conversou com Luiz Cláudio Costa com exclusividade. O especialista elogiou os conceitos e pressupostos do RUF, que considera “muito adequados à realidade brasileira”. Acompanhe a seguir a conversa.

Abecedário – Por que é importante que a Unesco se volte ao tema dos rankings universitários como tem feito por meio do IREG?
Luiz Cláudio Costa – A Unesco é uma importante organização que tem um forte vinculo com a educação. É muito importante quando falamos de educação superior e de avaliação, com o objetivo de melhorar a qualidade, termos dados e metodologias bem definidas. Esse é um papel que a Unesco deve ter, auxiliar na discussão de metodologias, na definição de alguns termos e até mesmo no uso dos rankings. A instituição já fez uma publicação sobre o assunto em 2013 (“Rankings and Accontability in Higher Education, Uses and Misuses”). Ela foi parte importante na criação do IREG, mas precisamos fortalecer o diálogo com a Unesco para que a sociedade, pesquisadores e as próprias instituições tenham mecanismos para analisar sua performance e propor melhorias para o ensino superior.

O que pretende abordar na sua gestão no IREG?
Já apresentei alguns temas que pretendo priorizar, dentro do pressuposto de que a avaliação só tem sentido se induzir melhoria de qualidade, e esse deve ser o adequado uso dos rankings. Vamos fazer uma discussão durante todo esse ano e apresentaremos os resultados em 2019 na Universidade de Bologna (Itália), se ao longo dos anos,  considerando o marco do ranking de Shangai Ranking em 2003 [primeiro ranking a a avaliar universidades de todo o mundo, feito na China],  os rankings contribuíram para a melhoria de qualidade nas universidades. Vamos convidar algumas universidades para falar de suas experiências.
Também criei um grupo de estudo para definir aquilo que chamamos de “semântica dos rankings”, por exemplo, o que significa “full time students” [estudantes em período integral]. Entendo que é preciso que os rankings tenham uma certa padronização em seus conceitos. Da mesma forma, estaremos discutindo em profundidade o desbalanço que hoje existe nos rankings em favor das atividades de pesquisa (é mais fácil de medir publicações de alto impacto) em relação às atividades de ensino. É muito difícil medir “qualidade de ensino”. Hoje a maioria dos rankings trabalha com “reputação”. Esse é um grande desafio.

Hoje a literatura já fala em 60 rankings nacionais de universidades e mais de 20 rankings internacionais. Na sua opinião, por que os rankings viraram um fenômeno tão grande?
Veja, estamos tratando de um tema que é muito caro à sociedade: educação de qualidade. É um bem social no qual cada vez mais as pessoas investem tempo e dinheiro. É portanto importante ter alguns parâmetros  para se medir a qualidade das instituições de ensino superior. É também importante para o país, para os governantes saber que as suas instituições estão produzindo educação e conhecimento de qualidade. Cada vez mais os rankings ganham a atenção da sociedade. É um fenômeno que veio para ficar. 

Há algum ranking de universidades no mundo que ache particularmente interessante?
Acho muito interessante o conceito do THE [Times Higher Education, que é britânico] e do QS University Rankings [também britânico, elaborado inicialmente junto com o THE], mesmo que tenham algumas restrições na forma que eles avaliam o ensino. Dos rankings nacionais o “U.S. News & World Report” se destaca. Gosto muito dos conceitos e pressupostos do RUF, muito adequados à realidade brasileira. Tem um novo ranking, que eu estou chamando da segunda geração dos rankings, o “Moscow University Ranking (MosIUR)”, que vale a pena observar. Eles estão tentando responder as perguntas corretas e necessárias, por exemplo, como buscar indicadores para medir a qualidade do ensino e a relação da universidade com a sociedade (extensão).

No caso do Brasil, há algo que seja importante avaliar quando se trata de qualidade nas universidades que ainda não esteja sendo analisado?
O Brasil tem uma tradição histórica de avaliação realizada pelo Estado, como indutor de qualidade. Essa tradição começa na pós-graduação e, na graduação, veio o Sinaes (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior), do Inep-MEC. Apesar dos avanços, uma das dificuldades do Sinaes é que as suas avaliações também têm repercussão nos processos de regulação e supervisão, e alguns de seus indicadores precisam ser revistos. Um deles, por exemplo o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que na realidade não é um conceito e não é preliminar, mas é sim um indicador de qualidade curso. Deveria ser usado com esse objetivo. Enfim temos avanços. Fora do governo, como já disse anteriormente, o RUF trouxe avanços e um outro olhar, como por exemplo, empregabilidade. Acho que precisamos ainda avançar no acompanhamento da trajetória do egresso.

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USP, Unicamp e Unifesp suspendem aula a semana toda; veja funcionamento das universidades https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/27/usp-suspende-aulas-a-semana-toda-veja-funcionamento-das-universidades-nesta-segunda-28/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/27/usp-suspende-aulas-a-semana-toda-veja-funcionamento-das-universidades-nesta-segunda-28/#respond Sun, 27 May 2018 23:40:53 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/usp-320x213.jpeg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3209 A greve dos caminhoneiros já afeta o ensino superior de todo o país. No final deste domingo (27), universidades importantes como a USP anunciaram que as aulas estão temporariamente suspensas. Outras instituições manterão as aulas, mas não haverá cobrança de faltas e nem avaliações dos alunos.

Na USP, os alunos de graduação não terão aula a semana toda —em todos os campi da universidade. As atividades estão suspensas de segunda a quarta; na quinta e na sexta, o recesso de Corpus Christie está mantido.

A assessoria de imprensa da USP informou que cada unidade informará os alunos sobre as atividades de pós-graduação e de extensão. Nas redes sociais, alunos de pós-graduação da universidade mostravam preocupação com a manutenção de suas pesquisas –especialmente nos trabalhos que dependem de laboratório.

Em São Paulo, a Unicamp que as aulas da graduação, de pós-graduação e todas as atividades de extensão estão suspensas até quarta (30). A Unifesp também terá todas as atividades acadêmicas e administrativas suspensas no mesmo período.

No Rio de Janeiro, a maioria das universidades públicas (estaduais e federais) anunciou suspensão das aulas nesta segunda (28). É o caso da UERJ, UFRJ, UFF, UniRio e Rural. O Abecedário não conseguiu informações sobre a UENF.

Universidade estaduais como a Unesp (São Paulo), UEL (Londrina), a UEM (Maringá) e a UEPG (Ponta Grossa), também não terão aula. Cerca de quinze universidades federais cancelaram temporariamente as atividades. Não houve aulas nesta segunda nas universidades federais da Bahia (UFBA), de São Carlos (UFSCar), de Minas (UFMG), de Pernambuco (UFPE), Rural de Pernambuco (UFRPE), Lavras (UFLA), do Triângulo Mineiro (UFTM), São João Del-Rei (UFSJ), Sergipe (UFS), a Tecnológica do Paraná (UTFPR), de Grande Dourados (UFGD), do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Santa Maria (UFSM), de Itajubá (Unifei) e de Santa Catarina (UFSC).

Isso não significa, no entanto, que as universidades estarão fechadas. Serviços administrativos, por exemplo, devem seguir operando normalmente.

Na FGV-SP, na capital paulista, as aulas da graduação e da pós estão mantidas. Não haverá, no entanto, cobrança de falta de alunos que eventualmente não conseguirem participar das atividades. Os coordenadores dos cursos estão solicitando que os docentes evitem atividades de avaliação dos alunos e novos conteúdos.

No Insper, em São Paulo, as aulas da graduação foram suspensas até quarta (30). Outras instituições privadas também não tiveram aulas nesta segunda. É o caso da PUC-RS, da PUC Paraná, da Puccamp (Campinas), da Unisinos e da Unip. A maioria dessas instituições já havia interrompido as aulas na sexta (25).  A PUC-GO, em Goiânia, deve ter aulas normalmente.

Se você é aluno de alguma universidade, a recomendação é ligar para a instituição antes de sair de casa nesta segunda (28) para verificar se as atividades especificamente do seu curso estão mantidas. As universidades que não cancelaram as aulas a semana toda devem anunciar nesta (28) como vão operar a partir de terça-feira.

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Tem informações sobre o funcionamento das universidades nesta semana? Mande para sabine.righetti@grupofolha.com.br ou para @binerighetti no Twitter.

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China lidera ranking universitário de países emergentes; Brasil perde posições https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/16/china-lidera-ranking-universitario-de-emergentes-brasil-perde-posicoes/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/16/china-lidera-ranking-universitario-de-emergentes-brasil-perde-posicoes/#respond Wed, 16 May 2018 12:00:56 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/pekin-university-320x213.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3159 Sete das dez melhores universidades dos países emergentes são chinesas, de acordo com o último ranking divulgado pelo THE (Times Higher Education). No topo também aparecem universidades da Rússia (3º lugar), da África do Sul (9º) e de Taiwan (10º). A primeira brasileira a figurar na lista, a USP, está em 14º lugar no mesmo ranking — caiu três posições desde a primeira avaliação de países emergentes do THE, publicada em 2014. Já a China, no mesmo período, aumentou em 43% a quantidade de universidades no “topten” do ranking de universidades de países emergentes.

O que está acontecendo com o ensino superior da China? E do Brasil?

Primeiro, vamos entender esse ranking de universidades. A lista do THE avalia e compara instituições de 42 países como China, Argentina, Brasil, Polônia e  África do Sul. Em tese, são países que têm certa semelhança econômica e que desenvolveram seu ensino superior recentemente (as universidades de países desenvolvidos são mais antigas — as melhores instituições dos EUA são dos século 17 e 18; na Europa Ocidental, há instituições de até mil anos).

Veja a classificação das universidades brasileiras no RUF

A diferença dos resultados da China e do Brasil no ranking evidencia que as políticas de ensino superior daqui e de lá têm andando bem diferentes.

A China tem investido pesadamente nas chamadas universidades de nível mundial (world-class), que são instituições grandes, com orçamento parrudo, intensivas em pesquisa e fortes internacionalmente. Desde o final da década de 1990, o governo chinês tem colocado recursos extras em nove instituições de ensino superior chinesas para literalmente bombá-las globalmente.

A Universidade de Pequim (foto), líder do ranking das emergentes do THE, está entre as nove escolas chinesas que tem recebido dinheiro extra do governo. Isso, claro, tem melhorado significativamente seus indicadores. Para se ter uma ideia, em outra avaliação de universidades, a ARWU, conhecida como “Ranking de Shangai”, a Universidade de Pequim passou da classificação no grupo 201-300 (em 2003) para 71º lugar (em 2017). Um salto gigante.

MENOS DINHEIRO

Já no Brasil, houve um ensaio de aportes extras de recursos em universidades de nível mundial no segundo mandato de Dilma Rousseff, que acabou não saindo do papel. Em sentido contrário, as universidades brasileiras estão perdendo dinheiro. Todas elas.

Nas universidades federais, há cortes de recursos de investimento e de custeio (manutenção). Nas estaduais, como a USP, o orçamento cai junto com a queda na arrecadação de ICMS. As particulares perderam recursos de financiamento estudantil.

Intensificar pesquisa científica, que vale metade das notas recebidas pelas universidades no ranking THE dos países emergentes, também está difícil por aqui. O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, de onde sai boa parte do fomento à ciência nacional, perdeu metade do seu orçamento desde 2014.  Mal dá para manter o ritmo da produção acadêmica.

Outros países emergentes estão seguindo o caminho da China. Como lembra Lara Thiengo, que acabou de defender uma tese de doutorado sobre universidades de nível mundial na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a Rússia também tem investido mais dinheiro em um grupo de universidades. “Na Rússia, foi implantado, em 2015, o Projeto 5-100, que tem como objetivo promover a ‘educação russa de classe mundial’’, diz.  A ideia do governo, conta Lara, que é pesquisadora da rede de estudos de rankings Rankintacs, é que cinco universidades russas estejam entre as cem melhores do mundo até 2020, tendo como medida rankings como o THE.

Bom, parece que o projeto tem dado resultados. Hoje a Universidade Estadual Lomonosov de Moscou ocupa o 3º lugar no ranking THE de países emergentes –subiu seis posições desde a primeira listagem, de 2014. Há onze instituições russas entre as cem melhores dos países emergentes. Em 2014, havia apenas duas universidades da Rússia no mesmo grupo.

A questão é que rankings universitários são comparações entre instituições. Se universidades de países emergentes como Rússia e China recebem mais recursos, intensificam sua pesquisa e sobem de posições em listagens como o THE, outras instituições vão perder casas — e o Brasil tem ocupado esse papel.

No lugar de refletir sobre a queda de posição isolada de uma universidade como a USP, seria bacana a gente analisar o ensino superior do país todo como uma política nacional.

 

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Professor: não desista de suas alunas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/professor-nao-desista-de-suas-alunas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/07/professor-nao-desista-de-suas-alunas/#respond Mon, 07 May 2018 22:08:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3122
Roda de conversa de alunas de ensino médio da Etec Pirituba, na zona norte de São Paulo – Karime Xavier / Folhapress

Um professor de educação física que comanda um projeto de tênis de mesa no interior de São Paulo me mandou uma mensagem perguntando o que ele poderia fazer para não desistir de suas alunas. De acordo com ele, as meninas vão largando projetos extracurriculares, como os esportivos, conforme crescem. Isso acontece por causa de ciúmes de namorado, por decisão dos pais ou até, diz ele, por causa de cólica menstrual.

“O que fazer para continuar investindo em minhas alunas?”, ele me perguntou.

O questionamento do professor me remeteu à série napolitana de Elena Ferrante, sucesso de vendas no Brasil. Na obra, a autora relata a história de duas meninas muito inteligentes que estavam na escola na década de 1940. As duas foram desestimuladas a estudar pela família, afinal, eram meninas, né? Eis que surge o papel fundamental de uma professora, que resolve insistir para que uma delas siga na educação básica –o que incluiu até empréstimo de livros didáticos e visita à família da garota.

[spoiler alert]

A menina que estudou se torna uma escritora famosa. A outra, que saiu da escola no que seria o nosso ensino fundamental 1, casa-se na adolescência, é abusada pelo marido que a sustentava e foge para trabalhar em um chão de fábrica fazendo embutidos.

[fim do spoiler]

Estou visitando a obra de Elena Ferrante para destacar duas coisas. Em primeiro lugar, garantir a educação básica das meninas –inclusive nas atividades extracurriculares– é uma forma de possibilitar que elas tenham escolhas no futuro. Em segundo lugar, educadores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas e até gestores públicos devem ter um olhar especial para as meninas, assim como teve a professora da obra de Elena Ferrante.

NAMORADO NÃO DEIXA

Agora vamos voltar ao professor do interior de São Paulo. De acordo com ele, muitas meninas deixam de frequentar o projeto de tênis de mesa porque começam a namorar. E o namorado “não deixa” que elas façam os treinos. O contrário (garoto largar o esporte porque a namorada impede), claro, não acontece. O professor de educação física começa a dar cada vez mais atenção aos meninos, assíduos, enquanto as meninas vão sumindo.

Ora,  estamos no Brasil, não na Suécia ou na Dinamarca. Por aqui, alguns homens (ou garotos) ainda acham que devem tomar decisões pelas mulheres (ou garotas). Não seria o caso de conversar com a menina –ou com todas as meninas da escola– sobre o assunto? “Esse também é o papel do educador”, diz Márcia Azevedo, coordenadora pedagógica do Colégio Espírito Santo, pesquisadora da Unicamp e coordenadora do curso de pedagogia da Fappes (Faculdade Paulista de Pesquisa e Ensino Superior).

“Se a menina não tem consciência do lugar que ela está ocupando e da dimensão disso, é função dos educadores, da escola, da família, conscientizá-la”, diz Márcia. “Faz parte da educação ampliar o nível de consciência das decisões.”

Muitas meninas brasileiras também acabam sumindo de projetos extracurriculares por causa de afazeres domésticos. Elas têm de cuidar dos irmãos menores, fazer a comida, lavar a louça da casa. Não podem gastar tempo com tênis de mesa. Nesse caso, também não deveríamos ter uma olhar específico para as meninas que começam a sumir pelo caminho?

Mais: os debates mais recentes de educação falam sobre a escola do futuro de maneira individualizada. Isso significa que a escola e os professores devem ter uma olhar único para cada aluno, que envolva inclusive questões pessoais e familiares. Cada criança e adolescente deve ser trabalhado e estimulado de uma maneira própria. Nesse caso, reforço: é papel do educador, também, avaliar a disponibilidade das meninas para atividades educativas.

(Já em relação à cólica menstrual, bom, ouso dizer que isso pode ser uma espécie de desculpa da aluna para não assumir a proibição do namorado às aulas de tênis de mesa.)

DESEMPENHO ACADÊMICO

Participar de projetos extracurriculares esportivos pode ser determinante na vida acadêmica. Estudos em áreas como a neurociência mostram que a prática de exercícios como o tênis de mesa de maneira regular está associada ao bom desempenho acadêmico. Mais tempo na quadra de esportes pode significar melhores notas na escola. Isso tem a ver com concentração e com desenvolvimento, por exemplo, de capacidade de liderança e de resiliência. Vamos estimular essas capacidades só nos meninos?

Alunos são diferentes e têm necessidades variadas, mas todos podem e devem se desenvolver da mesma maneira. No lugar de desistir das meninas, professor, sugiro que lute por elas.

 

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Você é professor e já passou por uma história parecida? Ou quer compartilhar uma experiência na educação? Mande-me um email! sabine.righetti@grupofolha.com.br

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