Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Empresas estrangeiras são as que mais têm pesquisa com USP, Unesp e Unicamp https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/empresas-estrangeiras-sao-as-que-mais-tem-pesquisa-com-usp-unesp-e-unicamp/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/empresas-estrangeiras-sao-as-que-mais-tem-pesquisa-com-usp-unesp-e-unicamp/#respond Thu, 09 Aug 2018 15:06:54 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/brito-cruz-320x213.jpg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3351 Na lista das dez empresas com mais artigos científicos publicados com as universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp), oito são estrangeiras. As exceções são a Petrobras, que lidera a quantidade de pesquisas em parceria com essas universidades, e a Embraer, que fica em 10° lugar.

O levantamento, inédito, é do diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz. Foi apresentado nesta quarta (8), no lançamento do livro “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais” [Com-Arte/Fapesp, 256 págs., R$ 50].

Brito Cruz analisou a quantidade de estudos científicos publicados pelas universidades públicas de São Paulo em co-autoria com empresas, de 2011 a 2017, na base de periódicos acadêmicos Web of Science. “Estamos falando de parceria científica de verdade”, disse. “São estudos feitos de maneira conjunta. Não se trata de a empresa colocar dinheiro para a universidade pintar a parede de um laboratório.”

Entre as empresas de fora com mais trabalhos acadêmicos com os cientistas paulistas no período analisado estão a Novartis (com 118 estudos), a Roche (73) e a Merck (59) — veja lista ao final do texto.

O ranking traz cenários interessantes. Por exemplo, uma pequena empresa nacional de Ribeirão Preto (340km da capital paulista), a Apis Flora, figura em 23° lugar com 26 estudos feitos com universidades. Eles trabalham com produtos para saúde derivados de mel e de própolis — e têm mais estudos acadêmicos com universidades paulistas do que companhias gigantes como a Sanofi (26° lugar, com 22 estudos) e a Microsoft (37° lugar, com 12 estudos).

A Apis Flora, como destacou Brito Cruz, já teve investimento da própria Fapesp para fazer pesquisa. A empresa ganhou, por exemplo, em 2008, um aporte de recursos por meio do programa Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas) para o desenvolvimento de biocurativos a partir de extrato de própolis para tratar queimaduras.

Os dados de Brito Cruz mostram, ainda, que a quantidade de estudos feitos com empresas no total de publicações das universidades de São Paulo vem aumentando em ritmo frenético e se compara a de países desenvolvidos. Na USP e na Unicamp, por exemplo, quase 3% de todos os estudos científicos publicados entre 2015 e 2017 tiveram parceria com alguma empresa. A taxa é um pouco maior do que a da Universidade da Califórnia em Davis, que fica no meio do Vale do Silício (EUA).

“Isso serve para desmontar um discurso recorrente de que universidades públicas não fazem pesquisa com indústria”, diz Brito Cruz. “Pelo menos no Estado de São Paulo isso não é verdade.”

DESEMPENHO

O livro “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais”, que traz o estudo de Brito Cruz, reúne trabalhos de 18 especialistas em ensino superior e avaliações de desempenho acadêmico das universidades [um dos estudos da obra, sobre os principais rankings internacionais de universidades que existem, é de minha autoria!]

A obra é coordenada por Jacques Marcovitch, professor e ex-reitor da USP, e faz parte de uma proposta da própria Fapesp de analisar formas de mensurar desempenho acadêmico e de refletir sobre as universidades paulistas. No ano passando, Marcovitch coordenou outra publicação, “Universidade em Movimento” [Com-Arte/Fapesp, 256 págs., R$ 40], na qual os autores trataram de gestão das universidades e da crise financeira instalada na USP.

Empresas com mais artigos científicos com universidades paulistas
(2011-2017)

  1. Petrobras (199 estudos)
  2. Novartis (118)
  3. Roche (73)
  4. Merck (59)
  5. Westat (53)
  6. AstraZeneca (52)
  7. Pfizer (51)
  8. GSK (50)
  9. Agilent (49)
  10. Embraer (47)

Fonte: Brito Cruz, Carlos Henrique (2018): “Indicadores sobre Interação Universidade-Empresa em Pesquisa em São Paulo” em “Repensar a Universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais” (p. 198)

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Por que precisamos de bolsas de pesquisa na graduação e na pós? https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/02/por-que-precisamos-de-bolsas-de-graduacao-e-de-pos-graduacao-no-brasil/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/08/02/por-que-precisamos-de-bolsas-de-graduacao-e-de-pos-graduacao-no-brasil/#respond Fri, 03 Aug 2018 01:33:58 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/capes-320x213.jpeg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3328 Podemos ficar sem bolsas de graduação e de pós-graduação no meio do ano que vem. A afirmação é de Abílio Baeta, presidente da Capes, agência federal de fomento à ciência ligada ao MEC, e veio à tona nesta quinta (2), em nota enviada pela entidade à pasta de educação.

O documento traz uma matemática assustadora: o teto de gastos que deve ser imposto à Capes em 2019 pode inviabilizar o pagamento de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado e outras formas de fomento a partir de agosto de 2019 — o que afeta quase meio milhão de pessoas. A questão é que a fatia do orçamento do MEC previsto para a Capes no ano que vem não dá conta de manter as bolsas vigentes.

Para se ter uma ideia, o valor aprovado para a Capes neste ano (R$3,94 bilhões) é cerca de metade do dinheiro empenhado em 2015 (R$7,77 bilhões) — e o montante ficaria ainda menor no ano que vem.

Qual é o problema disso?

A produção de conhecimento no Brasil é quase totalmente baseada no trabalho de pesquisadores de programas de pós-graduação, que recebem bolsas para se dedicarem exclusivamente às suas pesquisas. É como se fosse um salário pago pelo governo — só que sem nenhum benefício, como arrecadação de aposentadoria, de fundo de garantia ou férias.

Por exemplo: um aluno de doutorado de uma universidade brasileira que esteja trabalhando na compreensão de uma determinada doença recebe mensalmente R$2.200 da Capes para se dedicar exclusivamente à sua pesquisa. São pessoas na faixa dos 30 anos que, muitas vezes, têm família e filhos. Dependem desse dinheiro — e não podem ter outro trabalho remunerado.

O trabalho de um doutorando como esse pode levar a terapias para uma doença, melhor interpretação de exames, insumos para vacinas. E por aí vai.

Mesma coisa acontece com quem tem uma bolsa de mestrado (R$1.500 mensais). Supondo que esse mestrando seja da área de sociologia e que esteja trabalhando com um tema ligado, por exemplo, à violência urbana. Uma nova análise na área, novos dados e levantamentos podem levar a políticas públicas mais eficazes. Como o próprio presidente da Capes, que é sociólogo, diz: “Não tem como resolver problema urbano, violência e corrupção sem humanidades.”

Com esse modelo, o país tem produzido bastante conhecimento. Para se ter uma ideia, em 2017 o Brasil ficou entre os 15 países que mais produzem ciência no mundo, de acordo com o ranking do Scimago. Foram 73.697 estudos novos publicados ao longo do ano. Isso dá mais de 200 estudos por dia.

A comunidade acadêmica, claro, recebeu a nota da Capes enviada ao MEC como uma bomba. Isso porque o dinheiro está sendo cortado de todos os lados: o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, de onde sai o dinheiro de outra agência federal de fomento à ciência, o CNPq, já perdeu metade do seu orçamento desde 2014 (e ganhou a pasta de comunicações nesse período).

Como informa a Folha, o MEC atribuiu o corte de recursos ao Ministério do Planejamento, que disse, em nota, que os recursos para o MEC em para 2019 estão acima do limite constitucional.

De acordo com a biomédica Helena Nader, presidente emérita da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), a notícia surpreendeu a comunidade acadêmica. “Tínhamos uma sinalização positiva do governo em relação aos recursos para pesquisa”, diz. “Até para plantar soja precisamos de ciência.”

A expectativa da comunidade científica, diz Nader, no entanto, é que o cenário seja revertido. O presidente Temer tem de sancionar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), que define os recursos de cada pasta federal em 2019, nos próximos dias. “Estamos contando com o veto”, diz Nader.

 

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Impacto das universidades brasileiras é baixo mesmo na América Latina https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/20/impacto-das-universidades-brasileiras-e-baixo-mesmo-na-america-latina/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/20/impacto-das-universidades-brasileiras-e-baixo-mesmo-na-america-latina/#respond Fri, 20 Jul 2018 18:07:32 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/unicamp-320x213.jpeg https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3290 O Brasil tem as melhores universidades latino-americanas, de acordo com um ranking britânico divulgado na quarta (18) pelo THE – Times Higher Education. No entanto, quando olhamos especificamente para o impacto das instituições brasileiras, que é um dos critérios analisados pelo ranking THE, o Brasil perde para países como Peru, Equador e Colômbia.

O THE avalia as universidades especificamente da América Latina com base em cinco indicadores: ensino, pesquisa científica, impacto da pesquisa, internacionalização e relação com a indústria. O Brasil vai bem na maioria dos quesitos, mas derrapa no impacto de seus trabalhos acadêmicos.

Considerando os cinco compoentes da fórmula do THE, a Unicamp lidera a América Latina, seguida pela USP. Seis universidades brasileiras estão entre as dez primeiras da região — um número maior do que no ano passado, quando havia cinco (neste ano, as federais de Minas e do Rio Grande do Sul entraram para o topten, enquanto a UFRJ caiu para 12º lugar).

Quem tem mais impacto na região latino-americana, no entanto, é a Universidade Caytano Heredia, do Peru, seguida pela Diego Portales (Chile). A primeira brasileira na avaliação de impacto, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), aparece em 16º lugar depois de instituições da Colômbia, do Equador, da Argentina e do México. A Unicamp está em 28º lugar seguida da USP, em 29º.

O componente que avalia o impacto das universidades no ranking latino-americano do THE vale um 20% da nota recebida pela universidade (na listagem mundial, esse item vale ainda mais: 30% da nota). Para fazer o cálculo, o THE se debruça sobre a quantidade de trabalhos científicos de cada universidade mencionados em outros trabalhos publicados posteriormente.

O Brasil vai mal nessa análise porque os trabalhos brasileiros são menos citados mundialmente do que aqueles feitos em outros países da América Latina. O baixo impacto dos trabalhos acadêmicos por aqui é, aliás, o que mais tem derrubado as universidades brasileiras em comparações globais. Para se ter uma ideia, a USP, que já esteve em 158º lugar no ranking THE global (em 2012), hoje está na classificação 251-300 no mundo.

Por que isso acontece?

Há algumas explicações. Em primeiro lugar, o Brasil ainda publica boa parte de seus estudos científicos em português (estima-se que 70% dos mais de 300 periódicos científicos nacionais sejam em língua portuguesa). Isso impede que cientistas que não falem o nosso idioma consigam ler e citar os trabalhos brasileiros. Tem mais impacto as universidades que priorizam estudos publicados em inglês.

Há, ainda, quem diga que o problema esteja na qualidade dos trabalhos acadêmicos brasileiros mesmo. Se um estudo científico não trouxer uma descoberta relevante, então dificilmente será citado por trabalhos feitos posteriormente.

Mas atenção: isso não significa que a qualidade dos pesquisadores das universidades brasileiras seja ruim (a literatura sobre o assunto ressalta, inclusive, que indicador de impacto não serve para medir produção individual, mas sim a produção das instituições).

Acontece que para publicar um estudo que abale a comunidade acadêmica global é preciso ter recursos para infra-estrutura, para insumos de laboratório, para pagar alunos de pós-graduação. E, por aqui, para se ter uma ideia, os investimentos federais destinados à ciência já caíram pela metade desde 2014.

O corpo docente das universidades brasileiras, avaliado no THE no indicador de “ensino”, aliás, está entre os melhores da região. Nove dentre as dez universidades mais bem avaliadas nesse quesito são do Brasil — a exceção é a Universidade dos Andes, da Colômbia, em 10º lugar.

No lugar de comemorar a boa posição da Unicamp e da USP na avaliação geral das universidades latino-americanas do THE, vale a pena esmiuçar os indicadores e projetar cenários. Enquanto os investimentos em ciência não se normalizarem no Brasil, o impacto da ciência brasileira vai continuar caindo na América Latina e no mundo –e aí vamos caminhar em passos largos para o final da fila de qualquer ranking.

 

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Melhores universidades do mundo têm política clara sobre assédio sexual https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/30/melhores-universidades-do-mundo-tem-politica-clara-sobre-assedio-sexual/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/30/melhores-universidades-do-mundo-tem-politica-clara-sobre-assedio-sexual/#respond Wed, 30 May 2018 22:56:50 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/WhatsApp-Image-2018-05-30-at-16.05.55-320x213.jpeg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3237 A Folha publicou recentemente uma entrevista com a física Marcia Barbosa, da UFRGS, na qual tratou de um tema pouco abordado nos corredores acadêmicos: o assédio sexual nas universidades. Ao que parece, no entanto, ninguém quer muito falar sobre o assunto no Brasil. Nas redes sociais, cientistas torceram o nariz para a entrevista. “Agora tudo é assédio sexual”, disse um. “Essa conversa é muito chata”, disse outro. Resolvi, então, trazer a pauta para o blog.

Vamos lá.

Em primeiro lugar, nem “tudo” configura assédio. O assédio sexual, diz a Organização Mundial do Trabalho, pode ser definido como insinuações, contatos físicos forçados e convites impertinentes de uma parte hierarquicamente superior a um indivíduo que, por sua vez, se sente ameaçado, intimidado e com medo de perdas reais (como perda do emprego, de uma bolsa de doutorado, de autoria de um estudo científico).

Não é exclusivo, portanto, na relação hierárquica homem (chefe) e mulher (subordinada) — ainda que esse tipo de relação ainda seja mais comum no ambiente acadêmico e de trabalho.

Um exemplo real? Quando eu estava na universidade, uma colega da graduação precisava da assinatura do orientador no relatório de pesquisa. O professor pediu que ela fosse até a casa dele para que assinasse. Ela foi. Encontrou o professor de cueca. A estudante dependia do professor para entregar um relatório — e ele se aproveitou da situação.

O caso da minha colega não se trata, no entanto, de fato isolado. De acordo com um estudo do Instituto Avon feito em 2015 –um dos raros levantamentos sobre assédio sexual no Brasil– mais da metade das alunas de graduação e de pós relataram já ter sofrido assédio sexual de professores, estudantes e técnicos administrativos nas universidades do país. É muita gente!

SEM POLÍTICA

O problema é que as universidades brasileiras evitam falar sobre o assunto, no lugar de dizer claramente o que entendem por assédio sexual e o que alunos e alunas devem fazer se passarem por essa experiência. Isso vai na contramão do que fazem as melhores instituições de ensino do planeta.

Em Harvard (EUA), melhor universidade do mundo de acordo com o ranking de Shangai de 2017, há uma política clara sobre assédio sexual –inclusive com campanhas intensas que divulgam as definições de assédio e como pedir ajuda dentro da universidade. Abril, por exemplo, foi o mês contra o assédio sexual no campus.

A Universidade de Michigan (EUA) também tem uma política sobre assédio e outras formas de violência sexual. Quando estudei em Michigan, recebi o documento do meu orientador, que me convidou a acessar o site da universidade. Lá, há informações sobre o que fazer em casos de assédio e  estatísticas de casos reportados na universidade.

Agora imagine se, no Brasil, alguma universidade divulga dados sobre assédio sexual dentro dos seus muros — e conta como eles foram resolvidos?

Mais: quando eu e meu orientador nos reuníamos sozinhos para tratar do trabalho que eu estava fazendo na Universidade de Michigan, ele deixava a porta da sala aberta. “São as regras”, dizia.

Por aqui, como não existe nada institucionalizado, alguns professores tentam agir isoladamente. Caso do biólogo Carlos Hotta, que coordena o Laboratório de Fisiologia Molecular de Plantas do Instituto de Química da USP. “Eu tento mostrar que esse tipo de comportamento é inaceitável e tem que ser combatido. Que se ocorrer com eles, eles terão meu apoio total”, diz Hotta.

Falar sobre assédio sexual é chato mesmo, as redes sociais têm razão. Chato de verdade, no entanto, é o convívio calado com assédio nas universidades brasileiras.

 

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VOCÊ, UNIVERSITÁRIA OU UNIVERSITÁRIO, JÁ SOFREU ASSÉDIO SEXUAL DE PROFESSORES, ORIENTADORES OU ALGUÉM HIERARQUICAMENTE SUPERIOR? A FOLHA QUER SABER. AQUELES QUE QUISEREM DAR VOZ A SUAS HISTÓRIAS E/OU DENÚNCIAS PODEM ENTRAR EM CONTATO PELO EMAIL SAUDE@GRUPOFOLHA.COM.BR. ​OS RELATOS PODEM SER IDENTIFICADOS OU ANÔNIMOS.

 

 

 

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China lidera ranking universitário de países emergentes; Brasil perde posições https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/16/china-lidera-ranking-universitario-de-emergentes-brasil-perde-posicoes/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/05/16/china-lidera-ranking-universitario-de-emergentes-brasil-perde-posicoes/#respond Wed, 16 May 2018 12:00:56 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/pekin-university-320x213.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3159 Sete das dez melhores universidades dos países emergentes são chinesas, de acordo com o último ranking divulgado pelo THE (Times Higher Education). No topo também aparecem universidades da Rússia (3º lugar), da África do Sul (9º) e de Taiwan (10º). A primeira brasileira a figurar na lista, a USP, está em 14º lugar no mesmo ranking — caiu três posições desde a primeira avaliação de países emergentes do THE, publicada em 2014. Já a China, no mesmo período, aumentou em 43% a quantidade de universidades no “topten” do ranking de universidades de países emergentes.

O que está acontecendo com o ensino superior da China? E do Brasil?

Primeiro, vamos entender esse ranking de universidades. A lista do THE avalia e compara instituições de 42 países como China, Argentina, Brasil, Polônia e  África do Sul. Em tese, são países que têm certa semelhança econômica e que desenvolveram seu ensino superior recentemente (as universidades de países desenvolvidos são mais antigas — as melhores instituições dos EUA são dos século 17 e 18; na Europa Ocidental, há instituições de até mil anos).

Veja a classificação das universidades brasileiras no RUF

A diferença dos resultados da China e do Brasil no ranking evidencia que as políticas de ensino superior daqui e de lá têm andando bem diferentes.

A China tem investido pesadamente nas chamadas universidades de nível mundial (world-class), que são instituições grandes, com orçamento parrudo, intensivas em pesquisa e fortes internacionalmente. Desde o final da década de 1990, o governo chinês tem colocado recursos extras em nove instituições de ensino superior chinesas para literalmente bombá-las globalmente.

A Universidade de Pequim (foto), líder do ranking das emergentes do THE, está entre as nove escolas chinesas que tem recebido dinheiro extra do governo. Isso, claro, tem melhorado significativamente seus indicadores. Para se ter uma ideia, em outra avaliação de universidades, a ARWU, conhecida como “Ranking de Shangai”, a Universidade de Pequim passou da classificação no grupo 201-300 (em 2003) para 71º lugar (em 2017). Um salto gigante.

MENOS DINHEIRO

Já no Brasil, houve um ensaio de aportes extras de recursos em universidades de nível mundial no segundo mandato de Dilma Rousseff, que acabou não saindo do papel. Em sentido contrário, as universidades brasileiras estão perdendo dinheiro. Todas elas.

Nas universidades federais, há cortes de recursos de investimento e de custeio (manutenção). Nas estaduais, como a USP, o orçamento cai junto com a queda na arrecadação de ICMS. As particulares perderam recursos de financiamento estudantil.

Intensificar pesquisa científica, que vale metade das notas recebidas pelas universidades no ranking THE dos países emergentes, também está difícil por aqui. O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, de onde sai boa parte do fomento à ciência nacional, perdeu metade do seu orçamento desde 2014.  Mal dá para manter o ritmo da produção acadêmica.

Outros países emergentes estão seguindo o caminho da China. Como lembra Lara Thiengo, que acabou de defender uma tese de doutorado sobre universidades de nível mundial na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), a Rússia também tem investido mais dinheiro em um grupo de universidades. “Na Rússia, foi implantado, em 2015, o Projeto 5-100, que tem como objetivo promover a ‘educação russa de classe mundial’’, diz.  A ideia do governo, conta Lara, que é pesquisadora da rede de estudos de rankings Rankintacs, é que cinco universidades russas estejam entre as cem melhores do mundo até 2020, tendo como medida rankings como o THE.

Bom, parece que o projeto tem dado resultados. Hoje a Universidade Estadual Lomonosov de Moscou ocupa o 3º lugar no ranking THE de países emergentes –subiu seis posições desde a primeira listagem, de 2014. Há onze instituições russas entre as cem melhores dos países emergentes. Em 2014, havia apenas duas universidades da Rússia no mesmo grupo.

A questão é que rankings universitários são comparações entre instituições. Se universidades de países emergentes como Rússia e China recebem mais recursos, intensificam sua pesquisa e sobem de posições em listagens como o THE, outras instituições vão perder casas — e o Brasil tem ocupado esse papel.

No lugar de refletir sobre a queda de posição isolada de uma universidade como a USP, seria bacana a gente analisar o ensino superior do país todo como uma política nacional.

 

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Melhores universidades do mundo criam disciplinas seguindo demanda dos alunos https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/02/28/melhores-universidades-do-mundo-criam-disciplinas-seguindo-demanda-dos-alunos/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/02/28/melhores-universidades-do-mundo-criam-disciplinas-seguindo-demanda-dos-alunos/#respond Wed, 28 Feb 2018 14:21:24 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3107
O professor de ciência política da UnB Luis Felipe Miguel, que ministrará disciplina sobre o ‘golpe de 2016’ – Ruy Baron – 6.ago.2014 / Valor

Recentemente a universidade federal UnB causou um barulho nacional ao criar uma disciplina eletiva chamada “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”, oferecida pelo curso de graduação de ciência política daquela instituição. O ministro da Educação, Mendonça Filho, não gostou da proposta. Houve reação de todos os lados. Nesta semana, a Unicamp anunciou uma disciplina na mesma linha, optativa e oferecida por cerca de 30 docentes do IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da universidade. Segundo informações obtidas pelo Abecedário, a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) também vai ofertar uma disciplina sobre o golpe, optativa, ministrada por quatro docentes das ciências sociais.

Uma universidade pública brasileira pode oferecer um curso que claramente se opõe ao atual governo?

Para responder isso, vamos entender como funcionam as 195 universidades brasileiras –públicas e privadas. De acordo com a Constituição de 1988, “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial” (artigo 207). O principal marco legal da educação brasileira, a LDB, de 1996, também afirma que, no exercício de sua autonomia, as universidades são asseguradas de “criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior”(artigo 53).

Na prática, o que a Constituição e a LDB querem dizer é que as universidades devem seguir uma lógica própria, do ensino superior e da ciência, ao oferecer seus cursos. O governo não pode interferir, mesmo que os recursos para funcionamento da instituição venham do próprio governo. Isso leva o nome de autonomia didática.

Agora vamos ver como funciona fora do Brasil. Se você estudasse em Harvard, a melhor universidade do mundo de acordo com o ranking de universidades ARWU de 2017, você poderia fazer um curso de filosofia a partir de super heróis, poderia estudar a polarização das eleições americanas de 2016 ou ainda teria a possibilidade de fazer um curso de economia e política social sob a ótica libertária. Essas disciplinas optativas estão à disposição (em meio a outras milhares de opções) dos alunos daquela universidade que, antes de começar o ano letivo, selecionam de dois a quatro cursos por semestre.

SOB DEMANDA

Em universidades como Harvard, as disciplinas são mantidas se tiverem demanda. Um professor pode criar e ofertar um curso que considere fantástico, mas que, sem alunos, estará fadado a desaparecer. Ainda não há dados sobre a proposta da Unicamp, mas o curso da UnB está com lista de espera.

Mais: em boas universidades do mundo, os alunos tendem a fazer disciplinas fora da sua área e, inclusive, inscrevem-se em tópicos com os quais discordam. Nos primeiros dias de aula, os alunos de universidades de ponta como Harvard frequentam os cursos previamente selecionados para conhecer detalhes do programa e, também, para entender como pensam os professores. Se concordarem com o professor, alguns ficam. Se discordarem, outros também ficam justamente porque esses estudantes são treinados a ouvir os argumentos de quem pensa diferente deles. É assim que se dão os debates de qualidade.

Se a gente seguisse a mesma lógica no Brasil, a disciplina da UnB ou da Unicamp não seria questionada pela oposição, ao contrário: os alunos que discordam da ideia de um golpe, baseados em teses e autores distintos, fariam o curso para entender os argumentos dos docentes e para expor suas próprias ideias.

No dia seguinte ao da eleição dos EUA, a Universidade de Stanford, também entre as melhores do mundo, por exemplo, suspendeu as aulas e fez um dia de meditação para que os alunos refletissem sobre o que tinha acontecido. A Universidade de Michigan, que também está entre as melhores do mundo, promove com frequência debates entre especialistas contra e a favor do aborto, ou do Obamacare ou da deportação em massa de imigrantes estimulando os alunos a votarem em quem teve o melhor argumento. Proibir debates, ou cursos, está fora de cogitação.

Aqui no Brasil, Mendonça Filho (MEC) perguntou, no Twitter, se a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em nome da autonomia universitária, “defenderia a criação de uma disciplina intitulada ‘O PT, o petrolão e o colapso econômico do Brasil’?” E continuou:  “É inaceitável o uso de recursos humanos e materiais das universidades públicas para servir para a divulgação de teses malucas do PT, seus aliados ou qualquer partido político.”

No caso do curso da Unicamp, que acaba de ser anunciado, o professor do IFCH Armando Boito Júnior afirmou, em reportagem da Folha, que “cada professor vai dar aula sobre o tema que pesquisa”. “São pesquisadores e especialistas no assunto, ninguém vai lá para dar opinião”, diz.

Se os cursos propostos seguirem a lógica de ensino e de pesquisa instituída pela própria universidade, que é autônoma, e não em “teses malucas” como afirma o ministro, se forem optativos e se houver demanda, não me parece que o governo possa legalmente interferir e, tampouco, impedir, a oferta das disciplinas.

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Em tempos de vacas magras, Capes e CNPq lançam bolsas inéditas em pesquisa e inovação https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/24/em-tempos-de-vacas-magras-capes-e-cnpq-lancam-bolsas-ineditas-em-pesquisa-e-inovacao/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/24/em-tempos-de-vacas-magras-capes-e-cnpq-lancam-bolsas-ineditas-em-pesquisa-e-inovacao/#respond Wed, 24 Jan 2018 10:00:58 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3066

Boa notícia para quem trabalha com inovação: a Capes e o CNPq, agências federais que fomentam ciência no país, lançam nesta quinta (25) um edital inédito com 90 bolsas para as unidades credenciadas à Embrapii (Empresa Brasileira e Pesquisa e Inovação Industrial), conhecida como “Embrapa da inovação”. A informação foi obtida pelo Abecedário com exclusividade. O edital estará disponível no site da Capes.

Ao todo, serão 90 bolsas financiadas conjuntamente pela Capes e pelo CNPq com valores mensais entre R$ 4 mil e R$ 7 mil  –um aporte superior ao aplicado em bolsas de pesquisa acadêmicas no país. Para se ter uma ideia, um bolsista de pós-doutorado sênior com apoio do CNPq recebe hoje R$4.400 mensais. O investimento total do novo edital com bolsas de inovação será de R$5,5 milhões.

Na prática, vai funcionar assim: quem coordena um projeto de uma instituição como o CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), que é uma das 42 unidades vinculadas à Embrapii, poderá solicitar até três bolsas  –já indicando quem serão os bolsistas. De acordo com o edital,  a qualificação dos profissionais será levada em conta na seleção.

Os projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação estão a cargo das unidades vinculadas à Embrapii, como o CESAR, o IPT ou o Coppe-UFRJ, em parceria com a indústria. Hoje, são 280 empresas credenciadas na Embrapii, como Natura, Embraer e Whirpool.

FUGA DE CÉREBROS

De acordo com o diretor-presidente da Embrapii, Jorge Guimarães (ex-presidente da Capes por uma década), a expectativa é que as bolsas atraiam especialmente pós-docs –profissionais altamente capacitados que já terminaram o doutorado. “Queremos evitar que os jovens saiam do Brasil [no contexto da atual crise econômica]”, diz. O fenômeno é chamado fuga de cérebros.

“Depois da bolsa, esse jovem poderá criar uma startup ou uma pequena empresa, ou pode ser contratado pela indústria parceira”, diz Guimarães.

O chefe da Embrapii disse ainda que os R$5,5 milhões destinados ao novo edital não devem ser encarados de modo competitivo –como se tivessem sido “desviados” dos recursos das bolsas acadêmicas. “Não se trata de financiamento à ciência básica [pesquisa científica voltada, por exemplo, para a compreensão de fenômenos naturais], mas é financiamento à pesquisa e à formação de pessoas.”

A Embrapii foi criada em 2013, na gestão de Aloizio Mercadante, quando o assunto “inovação” passou a integrar oficialmente o então Ministério de Ciência e Tecnologia (hoje Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).

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Insper inaugura moradia inédita em escolas privadas para alunos bolsistas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/08/11/insper-inaugura-moradia-inedita-em-escolas-privadas-para-alunos-bolsistas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/08/11/insper-inaugura-moradia-inedita-em-escolas-privadas-para-alunos-bolsistas/#respond Fri, 11 Aug 2017 10:00:31 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2943
Matheus Siqueira, 23, aluno de administração do Insper e futuro morador do residencial da escola

 

Matheus Siqueira, 23, aluno de administração de empresas do Insper, está de mudança. Ele vai ser um dos moradores da nova residência estudantil da escola –a primeira em uma instituição de ensino privada do país.

O prédio fica a algumas quadras da sede do Insper, no Itaim Bibi (zona Sul de São Paulo), e vai abrigar 51 bolsistas. A inauguração acontece nessa sexta (11).

Hoje, alguns alunos com bolsas do Insper, como o Matheus, moram em apartamentos alugados pela própria escola. Outros vivem com suas famílias em áreas periféricas da cidade –e podem gastar algumas horas por dia no trânsito.

A ideia da escola é manter os alunos por perto para facilitar os estudos. É assim que funcionam as moradias estudantis de universidades públicas brasileiras. A maioria mantém prédios para os alunos dentro do próprio campus.

MODELO AMERICANO

A iniciativa é inédita em instituições de ensino superior privadas no país, como o Insper. É, no entanto, relativamente comum em universidades particulares em países como nos EUA. Lá, a residência estudantil costuma estar incluída no valor da anualidade. Sai de graça para quem não pode pagar.

Matheus, por exemplo, está entre quem não poderia pagar um aluguel e a mensalidade da escola (cerca de R$4,2 mil). Ele contou ao Abecedário que depois de perder a mãe, aos dez anos, foi morar com seus padrinhos –e teve de trabalhar desde os 15 anos para ajudar nas contas. Sempre estudou em escola pública.

“Se eu dissesse para qualquer pessoa naquela época que eu queria estudar em uma das melhores universidades do país, ninguém iria acreditar”, diz. “Eu tive sorte porque o Insper acreditou em mim muito antes de que eu conseguisse provar que valeria a pena investir na minha carreira.”

A moradia do Insper recebeu o nome de “Toca da Raposa”, em alusão ao mascote da escola.  O prédio é uma doação da Fundação Brava –que cedeu o espaço em comodato e bancou toda a reforma. Parte das bolsas aos alunos de baixa renda também vem de doações, inclusive de ex-alunos.

Universidades de elite como Insper e a FGV-SP têm incentivado a inclusão de alunos de baixa renda. Não é por acaso: a literatura mostra que escolas com turmas heterogêneas em termos de gênero, origem e renda formam alunos melhores. “A gente percebe na sala de aula o quanto que as diferenças de origem dos alunos faz diferença nas discussões.”

Hoje, Matheus diz que gasta praticamente todo o seu tempo estudando. Ele também trabalha como monitor da disciplina de estratégia competitiva basicamente “ajudando o professor”. E o que pretende fazer quando se formar? “Eu quero fazer a diferença.”

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Melhor da América Latina, Unicamp deve fechar ano com dívida de R$225 milhões https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/29/melhor-da-america-latina-unicamp-deve-fechar-ano-com-divida-de-r225-milhoes/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/29/melhor-da-america-latina-unicamp-deve-fechar-ano-com-divida-de-r225-milhoes/#respond Sat, 29 Jul 2017 10:00:21 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2928 A classificação recente da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) como a melhor da América Latina no ranking THE (Times Higher Education) não trouxe um respiro aliviado para a instituição. A Unicamp deve fechar 2017 com um déficit de R$225 milhões –isso considerando só os gastos com salários de docentes e de funcionários.

A informação é da própria reitoria da universidade que, desde abril, está sob o comando do físico Marcelo Knobel. Trata-se de uma projeção com base na arrecadação do ICSM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

Na última avaliação de universidades latino-americanas do THE, a Unicamp passou a USP, que liderava até o ano passado. No RUF de 2016, a Unicamp figura em 3ª posição depois da UFRJ e da USP, respectivamente. É a universidade mais produtiva do país em termos de artigos científicos –um dos componentes avaliados no indicador de “pesquisa” do RUF.

Juntas, as estaduais paulistas USP, Unesp e Unicamp ficam com quase 10% da arrecadação estadual do ICMS. O montante é transferido anualmente para as universidades depois de aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual). O problema é que, em tempos de crise, a arrecadação cai –mas a folha de pagamentos das universidades estaduais continua igual.

MAIS DINHEIRO

Em países como a China, universidades bem avaliadas (em rankings ou em outras formas de mensuração) recebem aportes extras de recursos. É um projeto governamental: no curto prazo, a China pretende ter um grupo de universidades entre as melhores do mundo no ranking global do THE.

Para Knobel, da Unicamp, é importante que a sociedade reconheça –e apoie– que as universidades de qualidade afetam diretamente o desenvolvimento do país. “As universidades públicas paulistas são um verdadeiro patrimônio do estado”, diz. “São fundamentais para o futuro do país.”

Falta, no entanto, dinheiro para manter esse “patrimônio”. Há alguns anos, USP, Unesp e Unicamp têm gastado praticamente tudo o que recebem do governo estadual só com salários. A recomendação legal é que esse dispêndio não ultrapasse 75% do orçamento para que o restante seja aplicado em custeio e manutenção –como pagar a conta de energia elétrica e fazer pequenas reformas.

Por causa da crise de recursos, a USP promoveu um (polêmico) programa de demissão voluntária de funcionários que conseguiu enxugar o orçamento anual da universidade em cerca de 4%. A iniciativa é tratada em livro recente de professores da própria universidade.

Essa alternativa não é cogitada pela Unicamp, de acordo com o reitor, que fala em “realizar medidas de gestão fundamentais, incluindo a revisão de contratos e a melhoria do processos.” Na prática, isso significa, por exemplo, não repor professores e funcionários que se aposentam.

Com dívidas e com dificuldade para renovar a mão-de-obra, os resultados da Unicamp em futuras avaliações internacionais como o ranking latino-americano THE podem ficar comprometidos. Em outras palavras: se nada a mudar, a universidade pode cair na listagem no futuro.

 

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Principal reunião anual de cientistas do país começa com clima de ‘fim de festa’ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/17/principal-reuniao-anual-de-cientistas-do-pais-comeca-com-clima-de-fim-de-festa/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/17/principal-reuniao-anual-de-cientistas-do-pais-comeca-com-clima-de-fim-de-festa/#respond Mon, 17 Jul 2017 16:01:50 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2912
A presidente da SBPC, Helena Nader, fala na abertura da reunião anual de cientistas (Pietro Sitchin/SBPC)

O principal encontro anual de cientistas do país, a reunião da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), começou com clima de desânimo neste domingo (16), em Belo Horizonte. Nas quase quatro horas de abertura do evento, que acontece na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a queda de recursos para pesquisa no país foi tema recorrente.

“Estou amarga mesmo. Estou triste”, disse a biomédica Helena Nader em seu discurso. À frente da instituição desde 2011, quando o então chefe da casa, Marco Anonio Raupp, virou ministro de Ciência, Nader enfatizou o corte de verba para ciência, tecnologia e inovação.

Presença constante em Brasília (no último dia 12,  ela estava na Câmara dos Deputados falando sobre cortes em ciência), Nader se emocionou em vários momentos da abertura do evento. No hino nacional, nas homenagens e no seu próprio discurso.

MENOS DA METADE

Para se ter uma ideia, hoje o orçamento federal para ciência, tecnologia, inovação e comunicações (a pasta de “comunicações” foi integrada à Ciência na gestão Temer) é menos da metade do que era em 2014. Isso desconsiderando a inflação no período.

O CNPq, agência federal que fomenta a pesquisa científica ligada à pasta de Ciência, por exemplo, fechou 2016 com orçamento de R$1,4 bilhão. Em 2016, o valor tinha sido exatamente o dobro: R$2,8 bilhões (desconsiderando a inflação).

Com o corte, quem mais sai perdendo são os bolsistas –principal motor da ciência no país. Na prática, quem entrar hoje em um curso de graduação ou de pós no país tem menos chances de conseguir uma bolsa de pesquisa. É uma espécie de “salário” para que o estudante se dedique integralmente à ciência.

O clima entre governo e cientistas anda tão hostil que o ministro da pasta, Gilberto Kassab (PSD), mandou um representante do ministério para a abertura da SPBC –que foi timidamente vaiado pela plateia.

A reunião anual da SBPC reúne há quase 70 anos cientistas de todo o país durante uma semana. Nesta edição, estão previstas 69 conferências e 82 mesas-redondas –fora os minicursos, pôsteres e exposições (veja a programação aqui).

Mais do que tratar de avanços da pesquisa nacional, a expectativa é que a falta de dinheiro para a pesquisa siga em pauta durante toda a reunião.

Um dos temas na agenda, por exemplo, é disseminar a campanha #ConhecimentoSemCortes, que teve início na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). A proposta é colher assinaturas em uma petição on-line para pressionar o governo federal a retomar o patamar de investimentos em ciência de 2014.

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