Na internet, PTistas e PSDBistas revelam incapacidade de debate
Tenho acompanhado com curiosidade as discussões acirradas entre PTistas e PSDBistas na internet, especialmente nas redes sociais. Boa parte dos comentários que leio abusa de adjetivos, desqualifica o adversário, mas pouco fala sobre proposições do candidato de sua preferência. Estamos passando longe de um debate de alto nível entre pessoas que pensam politicamente de maneira diferente.
Por que isso acontece? Simples: porque não somos treinados para debates.
Explico. Na formação escolar predominante no Brasil, de formato expositivo, o professor fala, o aluno ouve, decora e faz a prova. Ninguém é convidado a refletir sobre um assunto e a expor publicamente sua opinião. Mais: ninguém, na escola, é estimulado a expor os motivos pelos quais pensa diferente do colega.
Não há, na nossa escola, um ambiente que construa um debate saudável, com base em ideias e em argumentos. Sem saber como fazer isso, encontramos uma única saída: desqualificar o adversário. Essa “técnica”, aliás, tem sido uma prática recorrente dos próprios candidatos nos debates que acompanhei recentemente.
O debate tampouco é promovido no ensino universitário do Brasil. Eu nunca acompanhei nenhum. Aqui nos EUA, onde estou nesse momento, os debates fazem parte da rotina dos estudantes desde os primeiros anos –eles debatem entre si e acompanham debates sobre um mesmo tema entre docentes. Em alguns casos, a plateia de estudantes vota no professor vencedor do debate–ou seja, naquele que melhor construiu sua argumentação com base em dados, em fatos e em informações expostas de maneira clara. Depois, os dois professores saem juntos com os alunos e vão tomar um café ou uma cerveja, sem mágoas ou ressentimentos.
No Brasil, a coisa é bem diferente. Quem aí nunca se deparou com a seguinte sequência nas redes sociais: a pessoa xinga o candidato adversário e critica as suas propostas, mas não comenta as propostas do seu próprio candidato? Basta navegar um pouco na internet para encontrar esse fenômeno. Será que isso acontece porque as pessoas desconhecem as propostas dos candidatos?
Mas se desconhecem, como, então, foi feita a a escolha do voto?
Pois é. Os programas de governo de todos os candidatos estão disponíveis na internet. Alguém aí leu essas propostas antes de expor sua opinião publicamente na internet? Alguém sabe detalhar as conquistas do seu candidato em administrações anteriores? Volto à pergunta: como, então, foi feita a a escolha do voto?
NAZISTAS?
O que mais me intriga é o uso de algumas palavras específicas nesses “debates” na internet. A palavra “nazista”, por exemplo. Já vi muita gente chamar Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB) de “nazista”. O próprio ex-presidente Lula usou esse termo nesta semana e causou repúdio da Federação Israelita de São Paulo. Eu mesma, que nem sou candidata, já fui chamada de “nazista” por alguns leitores neste blog. Alguém aí sabe qual é o conceito por trás de “nazista”?
De acordo com Houaiss, “nazismo” é um movimento político e social alemão, fundado e liderado por Adolph Hitler (1889-1945), de cunho revolucionário e totalitário, fascista e antissemita. Qual é exatamente a ligação do PT ou do PSDB com o nazismo? Pois é: nenhuma.
Já vi também muita gente chamando Dilma de “lésbica” ou Aécio de “playboy”. Já vi gente criticando a aparência dos dois candidatos; Dilma muito carrancuda, Aécio muito irônico. Alguém me explica o que isso tem a ver com as propostas de governo e com sua capacidade de executá-las?
Em uma passagem rápida por uma rede social agora, enquanto escrevia esse post, encontrei palavras como “imbecil”, “idiota”, “ladrão”, entre outras que prefiro não escrever aqui. O que isso acrescenta ao debate?
ANALFABETISMO POLÍTICO
Há, ainda, outra característica comum nos debates em redes sociais: uma confusão generalizada dos papeis da prefeitura, do governo estadual e do governo federal. Se eu for PSDBista, por exemplo, vou dizer que tudo de ruim que acontece no meu estado é culpa do PT –mesmo que ele seja administrado pelo PSDB. Oi?
Sem saber o que cabe a cada gestor ou a cada partido, fica muito difícil cobrar resultados. E sem cobrar resultados, os políticos podem fazer o que eles quiserem. Precisamos todos colaborar para elevar o nível das discussões. Quanto mais entendermos de política, melhor será o debate e a escolha dos nossos representantes.
Esse post foi escrito de São Francisco, nos Estados Unidos, onde estou conduzindo uma pesquisa sobre educação, inovação e empreendedorismo com apoio de Eisenhower Fellowships.