Insper traz ao Brasil ensino inédito de engenharia; aulas já começaram
Nesta semana, um novo grupo de 90 estudantes vai passar a frequentar o prédio da instituição de ensino superior privada Insper, na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo: os alunos de engenharia.
Famoso por cursos de elite em economia e de administração, o Insper agora entrou com tudo na formação de engenheiros nas especialidades mecânica, mecatrônica e computação. A diferença em relação a outras escolas brasileiras, dizem os idealizadores da nova graduação, é que o foco da formação dos engenheiros do Insper não será técnico –traduzida em muitos números e cálculos. A ideia é formar engenheiros empreendedores.
“O objetivo é formar engenheiros capazes de inovar, de criar produtos e de empreender. Priorizamos o aprendizado de competências ligadas ao empreendedorismo, gestão de projetos e o trabalho em equipe”, explica Irineu Gianesi, diretor dos cursos de engenharia.
Por que essa iniciativa é interessante? Simples: porque é novidade no Brasil. Por aqui, a formação de engenheiros predominante ainda tem salas de aula com carteiras enfileiradas, lousas cheias de cálculos e muitas horas de aula expositiva.
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Para desenhar o novo curso de engenharia, o Insper foi beber na fonte de escolas de ponta dos EUA. Trouxe alguns conceitos, criou outros. O Abecedário visitou recentemente as instalações de engenharia do Insper e viu que lá, assim como nas melhores escolas de engenharia do mundo, não há carteiras individuais: todos os alunos trabalham em grupos. Isso, claro, muda toda a dinâmica de ensino. O professor –a ideia é que sejam dois por aula–acaba assumindo um papel de guia e orienta os exercícios, que são baseados em resolução de problemas.
PROFESSORES EMPREENDEDORES
E os professores estão acostumados com essa dinâmica menos expositiva? Não, claro que não. “Encontrar professores com um perfil mais empreendedor é um dos desafios do curso”, disse o engenheiro eletricista Vinicius Licks ao Abecedário. Ele foi o primeiro professor contratado para as engenharias do Insper, depois de um período que passou na Universidade Harvard, a melhor do mundo de acordo com rankings internacionais. Hoje, a escola tem cerca de 15 docentes; algumas aulas também serão comandadas por CEOs, por investidores e por empreendedores.
Licks é autor, por exemplo, de uma disciplina interessante chamada “grandes desafios da engenharia”. A ideia do curso é apresentar um problema social, discutir suas dimensões e levantar soluções de engenharia. Neste primeiro ano, a disciplina vai tratar de mobilidade urbana; no ano que vem o tema deve mudar. “A ideia é que os alunos sejam capazes de pensar em soluções e de apresentá-las, de comunicá-las”, diz. Os alunos serão avaliados pela sua capacidade de comunicação oral e escrita, pelo conhecimento do contexto e pelo trabalho em equipe.
Quem derrapar durante o curso será acompanhado de perto por mentores e por um coaching –outra novidade. Esses profissionais também vão ajudar os estudantes a desenhar individualmente a sua carreira.
Todas essas novidades, claro, têm um preço: são R$3.500 mensais que os alunos pagam pelo ensino em período integral –lembrando que as aulas ocupam uma parte do dia e, na outra, os estudantes se dividem em atividades em laboratórios e em espaços de inovação e de empreendedorismo. Dos 90 alunos aprovados em uma processo seletivo que teve até dinâmica de grupo, 12 são bolsistas.
POUCAS VAGAS
O Insper ainda não tem planos ambiciosos de expansão. Deve aumentar de 90 para 120 o número de alunos de engenharia no próximo ano. Para se ter uma ideia do que isso significa, a Poli-USP oferece, hoje, 750 vagas por ano.
Os novos engenheiros do Insper tampouco vão “resolver” a falta de engenheiros do país. O Brasil forma hoje cerca de 40 mil engenheiros anualmente –mais ou menos metade do que precisaria para se desenvolver minimamente. Mas isso não importa agora. Se a nova escola no Insper ajudar a estimular e a espalhar a ideia de ensino de empreendedorismo e de inovação entre aqueles que mais devem criar –os engenheiros– o ganho já será grande.
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