Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Grupos de mídia levam jornalistas para ensinar educação midiática em escolas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/03/grupos-de-midia-levam-jornalistas-para-ensinar-educacao-midiatica-em-escolas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/07/03/grupos-de-midia-levam-jornalistas-para-ensinar-educacao-midiatica-em-escolas/#respond Tue, 03 Jul 2018 10:00:18 +0000 https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Captura-de-tela-2018-07-01-16.01.08-320x213.png http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3275 Dois grandes jornais britânicos anunciaram na última quinta (28) que vão trabalhar juntos em um projeto de educação midiática nas escolas do Reino Unido. A proposta do The Times e The Sunday Times é levar seus jornalistas para escolas daquele país para que os alunos sejam expostos a histórias jornalísticas reais, pesquisa e apuração.

O que está por trás da iniciativa é uma preocupação crescente dos grupos de comunicação com a disseminação de notícias falsas (fake news). São os textos com cara de jornalismo que se disseminam especialmente por redes sociais. O problema é que pessoas podem tomar decisões baseadas em notícias falsas — como decidir em quem votar — sem saber que estão sendo enganadas.

A atuação de grupos de mídias em escolas não é novidade no Reino Unido. Desde 2006, a BBC — maior e mais antiga emissora do mundo — institucionalizou a necessidade de promover alfabetização midiática nas escolas daquele país. O grupo disponibiliza materiais on-line baseados no currículo escolar do Reino Unido para serem utilizados por estudantes e professores. Entre as iniciativas, há até um game — o iReporter — que simula o primeiro dia de trabalho de um jornalista de verdade apurando uma história.

Neste ano, a BBC também anunciou que levará seus jornalistas para as escolas britânicas para ajudar no projeto de educação midiática (é o “BBC journalists return to school”). A decisão do grupo surgiu depois de uma pesquisa nacional que mostrou que apenas 2% das crianças e dos adolescentes daquele país têm a capacidade de leitura crítica necessária para discernir uma notícia falsa de uma notícia verdadeira.

No Brasil, não há nenhuma pesquisa que identifique a capacidade de discernimento de notícias reais e falsas pelos estudantes brasileiros. Tampouco há iniciativas de grupos de mídia voltadas às escolas do país. Há, no entanto, uma série de pesquisas sendo conduzidas na área. Uma delas é a da jornalista Jéssica Santos, que está estudando iniciativas de alfabetização no acesso a notícias em um mestrado profissional na ESPM.

“Enquanto pesquisadores tentam compreender porque somos tão suscetíveis ao cenário complexo de desordem informacional, cabe às empresas jornalísticas participar ativamente de projetos que ajudem as pessoas a conhecer o processo de seleção, de produção e de financiamento das notícias”, diz Jéssica.

“Desordem informacional” é o nome dado pelos acadêmicos à disseminação de notícias falsas aliada à incapacidade de discernimento entre a informação real e a falsa.

Além dos grupos de mídia do Reino Unido, jornais norte-americanos também têm atuado em educação midiática em escolas. Caso do The Washington Post e do The New York Times — esse último, por exemplo, tem uma seção no seu próprio site que reúne material jornalístico que pode ser usado por professores nas escolas.

“São organizações que já enfrentam o desafio com iniciativas que comprovam a eficácia de equipar a sociedade para lidar com a sobrecarga de informações e a dificuldade em determinar a veracidade do que é propagado nas mídias.”

A ESPM, onde Jéssica faz pós-graduação, estabeleceu neste ano a chamada Cátedra Palavra Aberta ESPM — em parceria com uma ONG homônima que se dedica ao consumo midiático. A expectativa da cátedra é fomentar academicamente os trabalhos na área. 

 

 

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Lixo na praia mostra que precisamos muito mais do que educação https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/lixo-na-praia-mostra-que-precisamos-muito-mais-do-que-educacao/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/lixo-na-praia-mostra-que-precisamos-muito-mais-do-que-educacao/#respond Wed, 31 Jan 2018 20:39:13 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3083

Quem passou por alguma praia recentemente neste verão talvez tenha se deparado com um fenômeno comum, mesmo nas regiões mais remotas do litoral brasileiro: o lixo. Em uma caminhada de uns dez minutos que fiz no litoral de Santa Catarina no começo de janeiro, por exemplo, encontrei garrafas pet, latinhas de cerveja e de energéticos, canudinhos, plásticos de picolé. Fui recolhendo o que achei até que, sozinha, eu não tinha mais braços suficientes para tanto lixo acumulado.

O problema é que quando a maré sobe, ou quando chove, tudo aquilo que se acumula na areia vai para o mar –e causa um estrago danado. Já há, inclusive, estudos que mostram que até 2050 os Oceanos terão mais plásticos do que peixes.

Por que as pessoas jogam lixo na praia?

Fiz essa pergunta alto para quem estava lá comigo entre latinhas e pacotes de batata frita e tive como resposta o mesmo que você deve ter pensado: “as pessoas não têm educação”. Ok. Então vamos entender o que isso significa.

“Não ter educação” e, por causa disso, jogar lixo na praia, na rua e nos espaços públicos, pode ser entendido como falta de conhecimento. Não aprendi algo então tenho uma determinada atitude por desconhecimento dos impactos do que eu faço. As pessoas, em tese, não saberiam que aquele lixo plástico jogado na areia inevitavelmente vai parar no mar.  Tampouco saberiam que o peixe pode morrer ao ingerir esse plástico –ou, então, pode ingerir pedaços microscópicos de plástico e você, ao comer o peixe, acaba comendo o plástico. É a ideia de “cadeia alimentar”, que aparece na escola no ensino fundamental e pode ser tema até de vestibular.

CADEIA ALIMENTAR

Não me parece, no entanto, que o lixo naquela praia seja um caso de falta de conhecimento. Chuto dizer que a maioria das pessoas que estava lá em Santa Catarina –e que jogou latinha de cerveja por onde passou– tinha passado pelas aulas de biologia da escola. Aquelas pessoas provavelmente tinham diploma de ensino superior –ou até alguma pós-graduação. Cruzei com gente opinando sobre política e ostentando um português elegante –ou falando outras línguas, como espanhol e alemão.

Então qual é a questão?

O problema pode estar no formato da nossa educação. Aprendemos conceitos importantes de maneira muito teórica e temos aulas expositivas focadas em livros didáticos com pouca experimentação. Pode ser que aquelas pessoas da praia tenham conhecimento ambiental, sim, mas não internalizaram os conceitos aprendidos. Trocando em miúdos: quem joga uma sacola plástica na areia da praia pode até acertar uma questão do Enem sobre poluição ou cadeia alimentar, por exemplo, mas talvez não compreenda completamente que aquele seu próprio lixo interfere no ecossistema do qual faz parte.

Mais: pessoas altamente instruídas no Brasil podem ter baixíssima noção de cidadania, do que é ser cidadão, de regras de divisão de espaços públicos. Talvez porque estejam viciadas pelos hábitos de gerações anteriores, que jogavam lixo na praia, as pessoas seguem fazendo o mesmo. Ou então aquelas pessoas estão mais acostumadas a ambientes privados e controlados, e acreditam que sempre haverá alguém para limpar o rastro que se deixa por aí.

Aqui, vamos das aulas de ciências à sociologia. Será que estamos discutindo o suficiente, na escola, sobre a formação sociocultural brasileira, que é impregnada pela ideia de “ser servido”? E debatemos o quanto isso afeta, inclusive, o nosso próprio ecossistema?

Ao que tudo indica, “falta de educação” não explica o lixo encontrado na praia. Precisamos, primeiro, entender de qual educação estamos falando.

 

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Conheça o professor de escola que criou uma exposição de ciências que roda o país https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/07/conheca-o-professor-de-escola-que-criou-uma-exposicao-de-ciencias-que-roda-o-pais/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/07/conheca-o-professor-de-escola-que-criou-uma-exposicao-de-ciencias-que-roda-o-pais/#respond Fri, 07 Jul 2017 20:14:35 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2879

Quem passou pelo shopping Market Place (zona Sul de São Paulo) nas últimas semanas deve ter cruzado com uma exposição de ciências que ocupa o lugar de uma loja no piso superior. O que os visitantes não sabem é que a iniciativa –e toda a construção dos equipamentos— é de um professor de física do ensino médio do interior de São Paulo, Júlio Abdalla, 61.

A história começou há cerca de 20 anos, quando ele montou uma mostra de experimentos de física na escola em que dava aula. Em 2014, conta, ele refez a exposição e decidiu transformá-la em “uma mostra itinerante para viajar de norte a sul do Brasil”. Deu o nome de ExperCiência.

Museus devem incentivar perguntas

Os experimentos foram desenvolvidos pelo professor, com recursos próprios e com ajuda de marceneiros, serralheiros e outros profissionais. “Para sua elaboração, uso meu conhecimento em ciências e também pesquiso bastante.” Essa pesquisa inclui visitas a museus de ciências de ponta de países como EUA, Reino Unido e Alemanha.

Em uma das atividades da exposição (o chamado gerador de Van de Graaf) é possível experimentar um efeito da eletrostática. O equipamento, quando tocado, faz com que os cabelos do visitante fiquem literalmente em pé. É um dos preferidos das crianças.

Hoje, o acervo da ExperCiência tem cerca de 50 equipamentos. Parte deles já esteve, diz Abdalla, nos estados do Amazonas, Pará, Ceará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. De acordo com Abdalla, essa é a única exposição significativa de ciências que viaja pelo país.

Há também experimentos em dois grandes museus permanentes: o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, em Porto Alegre e o Catavento, em São Paulo. De acordo com Abdalla, mais de 200 mil pessoas já brincaram no ExperCiência. São quase três estádios do Maracanã lotados.

ATÉ SÁBADO

No Market Place, a exposição termina no sábado (8). A definição de um novo destino depende de parcerias –com shoppings, por exemplo. “O nosso desejo é expor em todos os cantos do país, mas como dependemos de parcerias, são elas que acabam influenciando os locais.”

Júlio Abdalla ainda dá aula de física, agora na escola Gabarito, que ele próprio criou há 15 anos, inicialmente com aulas de reforço de física, química e matemática para o vestibular.

Para ele, o ensino de ciências no país é muito ruim. “Faltam investimentos e interesse em levar conhecimento para a população”, diz. “Vejo algumas iniciativas de desenvolvimento de parques  de ciências em algumas cidades, que logo são abandonados ou  inutilizados.”

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Laboratório de Luz Síncrotron fará treinamento de cientistas para novo acelerador https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/laboratorio-de-luz-sincrotron-fara-treinamento-de-cientistas-para-usar-novo-acelerador/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/laboratorio-de-luz-sincrotron-fara-treinamento-de-cientistas-para-usar-novo-acelerador/#respond Sat, 01 Apr 2017 00:57:41 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2840
Anel de luz síncroton atual atende à metade da demanda do país e já é considerado obsoleto por cientistas

Quem pretende fazer pesquisa usando o novo acelerador de luz síncroton que está sendo construído em Campinas, interior de São Paulo, poderá fazer uma espécie de treinamento em julho no CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais).

A chamada “escola de síncrotron” vai abordar desde conceitos básicos da produção e das propriedades da luz síncrotron até a apresentação de técnicas e tecnologias específicas possíveis com o uso das fontes de luz.

A ideia é mostrar para cientistas de todo o país as potencialidades do novo anel de luz síncroton batizado de Sirius, que deve ficar pronto até 2018. Quanto mais gente usando o equipamento quando ele entrar em operação, melhor.

Diferentemente do acelerador de partículas do Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), famoso pela observação do bóson de Higgs em 2012, os aceleradores brasileiros -o que já existe em Campinas (foto acima) e o que está em construção- funcionam como fonte da chamada luz síncrotron. É uma ampla gama do espectro luminoso, com grande intensidade.

Essa radiação, gerada pela aceleração de elétrons que correm em órbita fechada num anel, é emitida em feixes de luz finos que podem gerar imagens em alta resolução, por exemplo, de materiais deteriorados ou de uma única molécula.

POR DENTRO DO OVO

Para se ter uma ideia de sua aplicação em estudos científicos, palenotólogos brasileiros poderão usar a luz síncrotron para gerar imagens em 3D do interior de um ovo fossilizado de dinossauro. Até hoje, é necessário quebrar um fóssil para analisar seu interior.

O anel de luz síncrotron atual foi inaugurado em 1998 e, hoje, é considerado obsoleto. O novo anel terá o dobro de energia de operação do atual e medirá cinco vezes mais que o de hoje. A obra, que começou em 2010, está estimada em cerca de U$200 milhões –e, por enquanto, conseguiu escapar dos cortes na área de ciência.

“Precisamos mostrar para os cientistas a capacidade do anel, senão ele corre o risco de ser subutilizado”, diz a física Ana Carolina Zeri, do CNPEM.

A “escola de síncrotron” acontece de 10 a 21 de julho de 2017 no CNPEM, com aulas teóricas e práticas. As inscrições vão até 3 de abril. O centro estuda ainda a possibilidade de promover treinamentos itinerantes pelo país.

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Se o governo ouvisse a ciência, aumentaria a carga de esportes na escola https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/#respond Thu, 27 Oct 2016 22:41:01 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2740 Os educadores podem não saber disso, mas estudos que envolvem neurociência têm mostrado evidências importantes que relacionam a prática de exercícios regularmente ao desempenho acadêmico. Trocando em miúdos: mais tempo na quadra de esportes pode significar melhores notas na escola.

Então não seria interessante que cientistas e educadores trabalhassem juntos para desenvolver estudos para guiar tomadas de decisão na área de educação? Pois é. Essa é a proposta da Rede Nacional de Ciência para Educação, que conecta educadores e cientistas com o objetivo de embasar decisões na área de educação.

A relação entre esportes e o desempenho acadêmico é um exemplo clássico desse trabalho “em rede”.

De acordo com o neurocientista Roberto Lent, que trabalha com plasticidade e evolução do cérebro na UFRJ, e que coordena a rede, uma série de estudos recentes mostram que exercícios físicos melhoram a memória e até a produção de novos neurônios no hipocampo –área do cérebro responsável pela aprendizagem (veja aqui um dos estudos).

Ele abordou o tema em um evento da rede promovido nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Ayrton Senna, em São Paulo.

Em experimentos com ratinhos, é possível “contar” os novos neurônios produzidos. Já em humanos, os resultados são observados a partir de imagens do cérebro.

“Baseado nisso, o governo não deveria tornar educação física uma disciplina opcional”, diz Lent. Vale lembrar: na proposta de reforma curricular do ensino médio, anunciada por meio de Medida Provisória em setembro, educação física e artes passam a ser disciplinas eletivas. A proposta tem sido criticada por especialistas, que receiam que algumas escolas simplesmente não tenham essa opção para os alunos.

MAIS DISPOSIÇÃO

Outros trabalhos mostram também que a endorfina, neurotransmissor produzido com a prática de exercícios, melhora a disposição de maneira geral –o que ajuda na concentração e nas aulas. Mais: exercícios físicos ajudam no sono, que, por sua vez, tem um papel importantíssimo na memória. Para a psicologia, os exercícios físicos ajudam a desenvolver o trabalho em grupo, a liderança e a disciplina.

A ideia da Rede Nacional de Ciência para Educação, criada em 2012, é justamente prover políticas públicas na área de educação de informações científicas que possam ajudar a tomada de decisão. Hoje, há educadores, cientistas, economistas, fonoaudiólogos e pesquisadores de várias áreas do conhecimento envolvidos no trabalho.

“Isso significa que se o governo tivesse ouvido os cientistas, aumentaria as horas de educação física”, diz Lent.

De acordo com com Daniele Botaro, pós-doutoranda do Instituto Ayrton Senna, que também integra a rede, uma das propostas é que os próprios professores tragam temas de pesquisa para a ciência.

“Um professor pode observar um fenômeno em sala de aula e traz uma pergunta para os cientistas responderem”, diz.  Isso é muito comum em países como nos Estados Unidos.

 

 

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Como explicar na escola ‘dois homens se beijando’? Aqui vão algumas dicas. https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/06/20/como-explicar-dois-homens-se-beijando-na-escola-aqui-vao-algumas-dicas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/06/20/como-explicar-dois-homens-se-beijando-na-escola-aqui-vao-algumas-dicas/#respond Mon, 20 Jun 2016 22:53:56 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2582 O recente atentado na boate gay Pulse, em Orlando (EUA), considerado o maior dos EUA desde o 11 de setembro, trouxe um debate nas redes sociais que vale ser trazido para este blog. Muita gente se manifestou contra a homossexualidade sob o argumento de que é “difícil explicá-la para as crianças”. O Abecedário reuniu, então, algumas dicas de como tratar o tema com os estudantes.

Há uma literatura infantil considerável que aborda  homossexualidade livre de preconceitos. Os títulos em inglês e em alemão (a Alemanha se preocupa há tempos com o tema!) são mais diversos e mais antigos, mas também é possível achar obras bacanas e recentes na nossa língua portuguesa.

Sobre relacionamento gay, duas boas sugestões em português são as obras infantis “Meus dois pais”, do autor conhecido por suas novelas Walcyr Carrasco (2010, ed. Ática), e “Olívia tem dois pais”, de Márcia Leite (2010, Cia das Letras) –esse último lindamente ilustrado.

Leia artigo de Julio Wiziack: Homofobia

Muita gente pode dizer que, ah, não quer falar sobre relacionamento gay com seus filhos ou com seus estudantes –especialmente em escolas confessionais. Ok, então vale conhecer a literatura infantil que trata de preconceito de maneira ampla. É o caso de “Meu amigo Jim”, de Kitty Crowther (Cosac Naif, 2007). O livro se debruça sobre as diferenças ao contar a história da amizade entre um pássaro todo preto e uma gaivota branquinha.

Vejam que interessante: a obra de Crowther pode servir como base para debater, em sala de aula ou em casa, o preconceito racial ou de gênero –que ainda fere e mata mundo afora.

Títulos em outros idiomas sobre o tema também podem ser usados de maneira multidisciplinar em sala de aula. O curso de inglês para crianças, por exemplo, pode trazer a leitura de obras como “The Princes and the Treasure” (“Os príncipes e o tesouro”, Handsome Prince Publishing, 2014), de Jeffrey Miles. Trata-se de um conto de fadas que termina com o casamento entre dois príncipes.

Outra dica adicional à leitura é a escrita. Pedir que os alunos produzam desenhos ou textos, dependendo do ano escolar, sobre homossexualidade e preconceito pode ser uma ótima forma de fazer com que reflitam e discutam o assunto em sala de aula. Produzir, aliás, é considerado por especialistas em educação o meio mais efetivo de reflexão na escola.

Falar sobre relacionamento gay e preconceito com nossas crianças e jovens é urgente. Não se trata de “incentivar” a homossexualidade, como alguns argumentam, mas de abordar o tema de maneira clara em um país em que o casamento gay é permitido por lei e que a definição de “família” foi alterada.  Mais: o Brasil é o país que mais mata homossexuais em todo o mundo, de acordo com o movimento LGBT internacional. Não podemos mais ignorar isso.

Se é difícil falar sobre homossexualidade com nossas crianças, mais difícil ainda –para não dizer impossível– será explicar a violência contra os gays.

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Bem localizado e bonito, Museu Língua Portuguesa era um dos mais visitados do país https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/bem-localizado-e-bonito-museu-lingua-portuguesa-era-um-dos-mais-visitados-do-pais/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2015/12/21/bem-localizado-e-bonito-museu-lingua-portuguesa-era-um-dos-mais-visitados-do-pais/#respond Mon, 21 Dec 2015 21:45:51 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2328 Quem trabalha com educação sabe que os espaços não formais de aprendizado, como museus, são essenciais para a cultura e o desenvolvimento de uma região. Pois bem. Na tarde desta segunda-feira (21) perdemos, pelo menos até segunda ordem, um dos principais espaços educativos do país, o Museu da Língua Portuguesa, na Luz, centro de São Paulo.

O museu foi tomado por um incêndio de grandes proporções. Ainda não se sabe o tamanho da tragédia, mas o terceiro andar do prédio –que é tombado pelo patrimônio histórico– está destruído. O espaço ficará fechado bem agora, no período de férias escolares.

Veja seu desempenho no Enem em app da Folha que ‘adianta’ nota

Museus e outros espaços não formais de educação andam de mãos dadas com o desenvolvimento cultural e educacional de uma sociedade. Eles instigam as pessoas. No caso do Museu da Língua Portuguesa, os visitantes passam a conhecer mais sobre a origem da nossa língua e sobre alguns autores específicos (a exposição temporária atual é sobre o etnógrafo potiguar Câmara Cascudo). Se tudo der certo, a pessoa sai do espaço com vontade de ler, de aprender, de estudar.

E, considerando que o Brasil tem péssimos indicadores de leitura, é exatamente de mais museus da língua portuguesa que precisamos! O país está em 55º lugar em leitura no ranking da avaliação internacional Pisa, que analisa a qualidade da educação em 65 países. Teve queda nos indicadores de 2012 em relação ao ano de 2009. Só estamos piorando.

O museu em chamas estava fazendo bem o seu papel. Conseguiu, logo nos três primeiros anos de operação, 1,6 milhão de visitantes. É um recorde para um espaço como esses aqui no Brasil. Os bons números de visitação o colocaram no topo do ranking de visitações de museus brasileiros e latino-americanos.

É bem localizado, na área central da cidade, bem próximo à estação de metrô Luz. Bonito, atraente e com parte da sua programação gratuita –inclusive leitura de histórias aos finais de semana. É moderno e acessível também para os que não sabem ou não podem ler. E agora?

A perda é grande porque o Brasil tem poucos espaços como o que pegou fogo. E, consequentemente, pouca gente frequenta museus. Para se ter uma ideia, uma pesquisa divulgada em 2011 pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação mostrou que só 4% da população nacional diz que visita espaços como museus de ciência, planetários, zoológicos ou jardins botânicos. Quem não frequenta alega falta de dinheiro, de tempo ou, simplesmente, falta de museus na sua região.

Na cidade de São Paulo, o índice de frequentadores de museus de ciências e de espaços correlatos sobe para 18% e chega perto da média de países desenvolvidos europeus (que é de 20%). Isso porque há mais museus em São Paulo do que na média nacional.

É difícil que a recuperação do Museu da Língua Portuguesa –se for possível– consiga espaço prioritário na agenda política e de recursos públicos, que estão cada vez mais escassos. O Museu do Ipiranga, outro clássico da cidade, foi fechado às pressas há dois anos e, sem incêndio nem nada, deve ser reaberto após reforma somente em, atenção, 2022. Agora imagine um museu que simplesmente pegou fogo? Pois é.

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