Abecedário https://abecedario.blogfolha.uol.com.br Universidades, escolas e rankings Mon, 10 Dec 2018 18:26:27 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Em tempos de vacas magras, Capes e CNPq lançam bolsas inéditas em pesquisa e inovação https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/24/em-tempos-de-vacas-magras-capes-e-cnpq-lancam-bolsas-ineditas-em-pesquisa-e-inovacao/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2018/01/24/em-tempos-de-vacas-magras-capes-e-cnpq-lancam-bolsas-ineditas-em-pesquisa-e-inovacao/#respond Wed, 24 Jan 2018 10:00:58 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=3066

Boa notícia para quem trabalha com inovação: a Capes e o CNPq, agências federais que fomentam ciência no país, lançam nesta quinta (25) um edital inédito com 90 bolsas para as unidades credenciadas à Embrapii (Empresa Brasileira e Pesquisa e Inovação Industrial), conhecida como “Embrapa da inovação”. A informação foi obtida pelo Abecedário com exclusividade. O edital estará disponível no site da Capes.

Ao todo, serão 90 bolsas financiadas conjuntamente pela Capes e pelo CNPq com valores mensais entre R$ 4 mil e R$ 7 mil  –um aporte superior ao aplicado em bolsas de pesquisa acadêmicas no país. Para se ter uma ideia, um bolsista de pós-doutorado sênior com apoio do CNPq recebe hoje R$4.400 mensais. O investimento total do novo edital com bolsas de inovação será de R$5,5 milhões.

Na prática, vai funcionar assim: quem coordena um projeto de uma instituição como o CESAR (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), que é uma das 42 unidades vinculadas à Embrapii, poderá solicitar até três bolsas  –já indicando quem serão os bolsistas. De acordo com o edital,  a qualificação dos profissionais será levada em conta na seleção.

Os projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação estão a cargo das unidades vinculadas à Embrapii, como o CESAR, o IPT ou o Coppe-UFRJ, em parceria com a indústria. Hoje, são 280 empresas credenciadas na Embrapii, como Natura, Embraer e Whirpool.

FUGA DE CÉREBROS

De acordo com o diretor-presidente da Embrapii, Jorge Guimarães (ex-presidente da Capes por uma década), a expectativa é que as bolsas atraiam especialmente pós-docs –profissionais altamente capacitados que já terminaram o doutorado. “Queremos evitar que os jovens saiam do Brasil [no contexto da atual crise econômica]”, diz. O fenômeno é chamado fuga de cérebros.

“Depois da bolsa, esse jovem poderá criar uma startup ou uma pequena empresa, ou pode ser contratado pela indústria parceira”, diz Guimarães.

O chefe da Embrapii disse ainda que os R$5,5 milhões destinados ao novo edital não devem ser encarados de modo competitivo –como se tivessem sido “desviados” dos recursos das bolsas acadêmicas. “Não se trata de financiamento à ciência básica [pesquisa científica voltada, por exemplo, para a compreensão de fenômenos naturais], mas é financiamento à pesquisa e à formação de pessoas.”

A Embrapii foi criada em 2013, na gestão de Aloizio Mercadante, quando o assunto “inovação” passou a integrar oficialmente o então Ministério de Ciência e Tecnologia (hoje Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações).

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Insper inaugura moradia inédita em escolas privadas para alunos bolsistas https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/08/11/insper-inaugura-moradia-inedita-em-escolas-privadas-para-alunos-bolsistas/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/08/11/insper-inaugura-moradia-inedita-em-escolas-privadas-para-alunos-bolsistas/#respond Fri, 11 Aug 2017 10:00:31 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2943
Matheus Siqueira, 23, aluno de administração do Insper e futuro morador do residencial da escola

 

Matheus Siqueira, 23, aluno de administração de empresas do Insper, está de mudança. Ele vai ser um dos moradores da nova residência estudantil da escola –a primeira em uma instituição de ensino privada do país.

O prédio fica a algumas quadras da sede do Insper, no Itaim Bibi (zona Sul de São Paulo), e vai abrigar 51 bolsistas. A inauguração acontece nessa sexta (11).

Hoje, alguns alunos com bolsas do Insper, como o Matheus, moram em apartamentos alugados pela própria escola. Outros vivem com suas famílias em áreas periféricas da cidade –e podem gastar algumas horas por dia no trânsito.

A ideia da escola é manter os alunos por perto para facilitar os estudos. É assim que funcionam as moradias estudantis de universidades públicas brasileiras. A maioria mantém prédios para os alunos dentro do próprio campus.

MODELO AMERICANO

A iniciativa é inédita em instituições de ensino superior privadas no país, como o Insper. É, no entanto, relativamente comum em universidades particulares em países como nos EUA. Lá, a residência estudantil costuma estar incluída no valor da anualidade. Sai de graça para quem não pode pagar.

Matheus, por exemplo, está entre quem não poderia pagar um aluguel e a mensalidade da escola (cerca de R$4,2 mil). Ele contou ao Abecedário que depois de perder a mãe, aos dez anos, foi morar com seus padrinhos –e teve de trabalhar desde os 15 anos para ajudar nas contas. Sempre estudou em escola pública.

“Se eu dissesse para qualquer pessoa naquela época que eu queria estudar em uma das melhores universidades do país, ninguém iria acreditar”, diz. “Eu tive sorte porque o Insper acreditou em mim muito antes de que eu conseguisse provar que valeria a pena investir na minha carreira.”

A moradia do Insper recebeu o nome de “Toca da Raposa”, em alusão ao mascote da escola.  O prédio é uma doação da Fundação Brava –que cedeu o espaço em comodato e bancou toda a reforma. Parte das bolsas aos alunos de baixa renda também vem de doações, inclusive de ex-alunos.

Universidades de elite como Insper e a FGV-SP têm incentivado a inclusão de alunos de baixa renda. Não é por acaso: a literatura mostra que escolas com turmas heterogêneas em termos de gênero, origem e renda formam alunos melhores. “A gente percebe na sala de aula o quanto que as diferenças de origem dos alunos faz diferença nas discussões.”

Hoje, Matheus diz que gasta praticamente todo o seu tempo estudando. Ele também trabalha como monitor da disciplina de estratégia competitiva basicamente “ajudando o professor”. E o que pretende fazer quando se formar? “Eu quero fazer a diferença.”

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Para diversificar perfil de aluno, FGV-SP lança curso noturno de administração https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/para-diversificar-perfil-de-aluno-fgv-sp-lanca-curso-noturno-de-administracao/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/12/para-diversificar-perfil-de-aluno-fgv-sp-lanca-curso-noturno-de-administracao/#respond Wed, 12 Jul 2017 23:46:26 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2888
Fachada da Escola de Administração da FGV-SP (no centro de São Paulo)

Conhecida por ser uma escola tradicional de administração no país, a FGV-SP acaba de dar um passo importante para diversificar o perfil dos seus alunos. A partir de 2018, 50 estudantes poderão fazer administração de empresas à noite.

Hoje, a escola oferece o curso exclusivamente diurno em período integral (é o melhor curso privado do país no RUF de 2016). Ou seja: os alunos têm de se dedicar apenas aos estudos nos anos iniciais –até começar a fase de estágios.

A ideia do curso noturno, de acordo com Nelson Lerner Barth, coordenador do curso de administração, é alcançar quem já trabalha.

Isso inclui quem não poderia deixar o emprego de lado por questões financeiras. Também estão no alvo os estudantes mais velhos, que já estão no mercado de trabalho em outra área e pretendem fazer uma segunda graduação.

Esse é um passo importante na diversificação do perfil dos alunos da escola –um processo que foi intensificado internamente há cerca de cinco anos.

A escola tem, por exemplo, um cursinho pré-vestibular para alunos que vieram de escola pública. É uma iniciativa coordenada pelos próprios alunos regulares da graduação. Estudantes de baixa renda que passam no processo seletivo da FGV-SP têm bolsa garantida (o curso todo sai por cerca de R$250 mil).

ESCOLA PÚBLICA

Em 2015, a escola recebeu os primeiros alunos moradores de favela de São Paulo.  Nesse ano, dois refugiados africanos ingressaram na escola.

A FGV-SP sabe que turmas heterogêneas –em termos de gênero, perfil social e idade– rendem aulas mais dinâmicas.

Funciona mais ou menos assim: se todos os alunos forem brancos, de famílias abastadas e egressos de escolas particulares, por exemplo, a visão de mundo do grupo será muito parecida. Quando se monta uma turma bem misturada, com diferentes perfis de estudantes, os debates ficam muito mais acalorados.

Justamente por isso, as melhores universidades do mundo –como as americanas Harvard e MIT– têm cerca de 25% de alunos estrangeiros e investem em turmas com diferentes perfis sociais (o que inclui até misturar ateus, islâmicos e budistas numa mesma classe).

No caso do curso noturno da FGV-SP, a expectativa é ter também alunos que trabalham por opção –caso de herdeiros de empresas.  “O curso noturno é também um facilitador para quem gosta de estudar à noite”, diz Barth.

As inscrições para o processo seletivo de administração de empresas diurno (200 vagas) e noturno (50 vagas) seguem até outubro. O processo seletivo foi modificado no ano passado: agora inclui carta de motivação e entrevista. É uma tentativa de mapear alunos que, além de demonstrar interesse no curso, também tenham boa capacidade de arguição (característica considerada hoje fundamental na formação de lideranças).

O curso noturno terá duração de cinco anos –um ano a mais do que a opção diurna. O valor total será o mesmo, mas as mensalidades do noturno saem um pouco mais em conta, já que o pagamento é diluído no curso que tem maior duração.

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Conheça o professor de escola que criou uma exposição de ciências que roda o país https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/07/conheca-o-professor-de-escola-que-criou-uma-exposicao-de-ciencias-que-roda-o-pais/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/07/07/conheca-o-professor-de-escola-que-criou-uma-exposicao-de-ciencias-que-roda-o-pais/#respond Fri, 07 Jul 2017 20:14:35 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2879

Quem passou pelo shopping Market Place (zona Sul de São Paulo) nas últimas semanas deve ter cruzado com uma exposição de ciências que ocupa o lugar de uma loja no piso superior. O que os visitantes não sabem é que a iniciativa –e toda a construção dos equipamentos— é de um professor de física do ensino médio do interior de São Paulo, Júlio Abdalla, 61.

A história começou há cerca de 20 anos, quando ele montou uma mostra de experimentos de física na escola em que dava aula. Em 2014, conta, ele refez a exposição e decidiu transformá-la em “uma mostra itinerante para viajar de norte a sul do Brasil”. Deu o nome de ExperCiência.

Museus devem incentivar perguntas

Os experimentos foram desenvolvidos pelo professor, com recursos próprios e com ajuda de marceneiros, serralheiros e outros profissionais. “Para sua elaboração, uso meu conhecimento em ciências e também pesquiso bastante.” Essa pesquisa inclui visitas a museus de ciências de ponta de países como EUA, Reino Unido e Alemanha.

Em uma das atividades da exposição (o chamado gerador de Van de Graaf) é possível experimentar um efeito da eletrostática. O equipamento, quando tocado, faz com que os cabelos do visitante fiquem literalmente em pé. É um dos preferidos das crianças.

Hoje, o acervo da ExperCiência tem cerca de 50 equipamentos. Parte deles já esteve, diz Abdalla, nos estados do Amazonas, Pará, Ceará, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. De acordo com Abdalla, essa é a única exposição significativa de ciências que viaja pelo país.

Há também experimentos em dois grandes museus permanentes: o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS, em Porto Alegre e o Catavento, em São Paulo. De acordo com Abdalla, mais de 200 mil pessoas já brincaram no ExperCiência. São quase três estádios do Maracanã lotados.

ATÉ SÁBADO

No Market Place, a exposição termina no sábado (8). A definição de um novo destino depende de parcerias –com shoppings, por exemplo. “O nosso desejo é expor em todos os cantos do país, mas como dependemos de parcerias, são elas que acabam influenciando os locais.”

Júlio Abdalla ainda dá aula de física, agora na escola Gabarito, que ele próprio criou há 15 anos, inicialmente com aulas de reforço de física, química e matemática para o vestibular.

Para ele, o ensino de ciências no país é muito ruim. “Faltam investimentos e interesse em levar conhecimento para a população”, diz. “Vejo algumas iniciativas de desenvolvimento de parques  de ciências em algumas cidades, que logo são abandonados ou  inutilizados.”

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Laboratório de Luz Síncrotron fará treinamento de cientistas para novo acelerador https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/laboratorio-de-luz-sincrotron-fara-treinamento-de-cientistas-para-usar-novo-acelerador/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/03/31/laboratorio-de-luz-sincrotron-fara-treinamento-de-cientistas-para-usar-novo-acelerador/#respond Sat, 01 Apr 2017 00:57:41 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2840
Anel de luz síncroton atual atende à metade da demanda do país e já é considerado obsoleto por cientistas

Quem pretende fazer pesquisa usando o novo acelerador de luz síncroton que está sendo construído em Campinas, interior de São Paulo, poderá fazer uma espécie de treinamento em julho no CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais).

A chamada “escola de síncrotron” vai abordar desde conceitos básicos da produção e das propriedades da luz síncrotron até a apresentação de técnicas e tecnologias específicas possíveis com o uso das fontes de luz.

A ideia é mostrar para cientistas de todo o país as potencialidades do novo anel de luz síncroton batizado de Sirius, que deve ficar pronto até 2018. Quanto mais gente usando o equipamento quando ele entrar em operação, melhor.

Diferentemente do acelerador de partículas do Cern (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear), famoso pela observação do bóson de Higgs em 2012, os aceleradores brasileiros -o que já existe em Campinas (foto acima) e o que está em construção- funcionam como fonte da chamada luz síncrotron. É uma ampla gama do espectro luminoso, com grande intensidade.

Essa radiação, gerada pela aceleração de elétrons que correm em órbita fechada num anel, é emitida em feixes de luz finos que podem gerar imagens em alta resolução, por exemplo, de materiais deteriorados ou de uma única molécula.

POR DENTRO DO OVO

Para se ter uma ideia de sua aplicação em estudos científicos, palenotólogos brasileiros poderão usar a luz síncrotron para gerar imagens em 3D do interior de um ovo fossilizado de dinossauro. Até hoje, é necessário quebrar um fóssil para analisar seu interior.

O anel de luz síncrotron atual foi inaugurado em 1998 e, hoje, é considerado obsoleto. O novo anel terá o dobro de energia de operação do atual e medirá cinco vezes mais que o de hoje. A obra, que começou em 2010, está estimada em cerca de U$200 milhões –e, por enquanto, conseguiu escapar dos cortes na área de ciência.

“Precisamos mostrar para os cientistas a capacidade do anel, senão ele corre o risco de ser subutilizado”, diz a física Ana Carolina Zeri, do CNPEM.

A “escola de síncrotron” acontece de 10 a 21 de julho de 2017 no CNPEM, com aulas teóricas e práticas. As inscrições vão até 3 de abril. O centro estuda ainda a possibilidade de promover treinamentos itinerantes pelo país.

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Se o governo ouvisse a ciência, aumentaria a carga de esportes na escola https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/10/27/se-governo-ouvisse-a-ciencia-aumentaria-a-carga-de-esportes-na-escola/#respond Thu, 27 Oct 2016 22:41:01 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2740 Os educadores podem não saber disso, mas estudos que envolvem neurociência têm mostrado evidências importantes que relacionam a prática de exercícios regularmente ao desempenho acadêmico. Trocando em miúdos: mais tempo na quadra de esportes pode significar melhores notas na escola.

Então não seria interessante que cientistas e educadores trabalhassem juntos para desenvolver estudos para guiar tomadas de decisão na área de educação? Pois é. Essa é a proposta da Rede Nacional de Ciência para Educação, que conecta educadores e cientistas com o objetivo de embasar decisões na área de educação.

A relação entre esportes e o desempenho acadêmico é um exemplo clássico desse trabalho “em rede”.

De acordo com o neurocientista Roberto Lent, que trabalha com plasticidade e evolução do cérebro na UFRJ, e que coordena a rede, uma série de estudos recentes mostram que exercícios físicos melhoram a memória e até a produção de novos neurônios no hipocampo –área do cérebro responsável pela aprendizagem (veja aqui um dos estudos).

Ele abordou o tema em um evento da rede promovido nesta quarta-feira (26) pelo Instituto Ayrton Senna, em São Paulo.

Em experimentos com ratinhos, é possível “contar” os novos neurônios produzidos. Já em humanos, os resultados são observados a partir de imagens do cérebro.

“Baseado nisso, o governo não deveria tornar educação física uma disciplina opcional”, diz Lent. Vale lembrar: na proposta de reforma curricular do ensino médio, anunciada por meio de Medida Provisória em setembro, educação física e artes passam a ser disciplinas eletivas. A proposta tem sido criticada por especialistas, que receiam que algumas escolas simplesmente não tenham essa opção para os alunos.

MAIS DISPOSIÇÃO

Outros trabalhos mostram também que a endorfina, neurotransmissor produzido com a prática de exercícios, melhora a disposição de maneira geral –o que ajuda na concentração e nas aulas. Mais: exercícios físicos ajudam no sono, que, por sua vez, tem um papel importantíssimo na memória. Para a psicologia, os exercícios físicos ajudam a desenvolver o trabalho em grupo, a liderança e a disciplina.

A ideia da Rede Nacional de Ciência para Educação, criada em 2012, é justamente prover políticas públicas na área de educação de informações científicas que possam ajudar a tomada de decisão. Hoje, há educadores, cientistas, economistas, fonoaudiólogos e pesquisadores de várias áreas do conhecimento envolvidos no trabalho.

“Isso significa que se o governo tivesse ouvido os cientistas, aumentaria as horas de educação física”, diz Lent.

De acordo com com Daniele Botaro, pós-doutoranda do Instituto Ayrton Senna, que também integra a rede, uma das propostas é que os próprios professores tragam temas de pesquisa para a ciência.

“Um professor pode observar um fenômeno em sala de aula e traz uma pergunta para os cientistas responderem”, diz.  Isso é muito comum em países como nos Estados Unidos.

 

 

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Universidade deve ter lógica produtivista de empresa? https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/07/16/universidade-deve-ter-logica-produtivista-de-empresa/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/07/16/universidade-deve-ter-logica-produtivista-de-empresa/#respond Sat, 16 Jul 2016 17:34:36 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2605 Para comemorar seus 70 anos, a UFBA (Universidade Federal da Bahia) decidiu fazer uma espécie de audiência pública gigante em um congresso de quatro dias que começou com o seguinte questionamento: universidade tem de produzir com a lógica de empresa? Para a filósofa da USP Marilena Chauí, que abriu o evento da UFBA, a resposta é negativa.

“Hoje, a universidade passou a ser encarada como uma organização social”, disse Chauí na abertura do congresso. “Como mostrou a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, a ideia de administração é inseparável do modo de produção capitalista como produção de equivalentes para o mercado” (leia o discurso dela na íntegra aqui).

“Fora Temer” marca abertura de evento de 70 anos da UFBA

Veja desempenho da UFBA no RUF – Ranking Universitário Folha

De fato, a universidade brasileira –assim como toda universidade do mundo– está sendo cada vez mais cobrada para produzir. É isso que Chauí chama de “modo de produção capitalista”.

Na pós-graduação brasileira, por exemplo, a quantidade de dinheiro que a universidade recebe do governo depende da nota recebida na avaliação feita pelo próprio governo. Funciona basicamente assim: quem publica mais artigos científicos –produz mais– tem mais dinheiro.

Essa lógica é controversa, claro, mas faz certo sentido. Ora, metade das universidades brasileiras são públicas, o que significa que sobrevivem com dinheiro meu, seu e de todo mundo que paga impostos. Parece racional que a sociedade cobre que essas instituições sejam produtivas, certo? Pois é.

O problema é que, dizem cientistas como Chauí, essa lógica produtivista faz com que as universidades passem a ter a produção como elemento central de sua existência. Assim, deixam de lado, por exemplo, a qualidade do ensino e as atividades de extensão.

É importante analisar o que acontece na universidade, inclusive para decidir o que será feito de agora em diante. A UFBA está justamente fazendo, agora, no seu aniversário de 70 anos, esse exercício que poucas universidades fazem: está olhando para si mesma.

Para se ter uma ideia, há, na programação do congresso de aniversário da universidade, mais de 2.000 trabalhos de docentes em todas as áreas do conhecimento. De acordo com a assessoria de imprensa da universidade, dois em cada três docentes da universidade submeteram trabalhos para serem apresentados no evento.  “É uma oportunidade única de a universidade buscar se conhecer e se reinventar”, diz, em nota, o reitor da UFBA João Carlos Salles.

Isso é muito legal porque não é muito comum. A universidade não gosta muito de ser colocada na berlinda, de ser questionada ou de ser avaliada. Seria bacana se esse exercício de autocrítica fosse mais rotineiro na universidade brasileira.

 

A jornalista SABINE RIGHETTI viajou a Salvador (BA) a convite da UFBA

 

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O que as melhores universidades do mundo podem ensinar ao nosso governo https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/06/01/o-que-as-melhores-universidades-do-mundo-podem-ensinar-ao-nosso-governo/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/06/01/o-que-as-melhores-universidades-do-mundo-podem-ensinar-ao-nosso-governo/#respond Wed, 01 Jun 2016 15:27:29 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2556 Os Estados Unidos concentram sete das dez melhores universidades do mundo, de acordo com avaliações internacionais como o THE (Times Higher Education). São escolas muito boas porque têm corpo docente de altíssimo nível, recursos e os melhores alunos do mundo, que criam soluções bastante criativas para os problemas de nossa sociedade.

Como essas universidades conseguem isso? Com diversidade. As universidades norte-americanas têm uma política fortíssima de diversidade étnica, racial, social e de gênero de seus alunos. A ideia é formar turmas mais heterogêneas possível –algo bem diferente do que o novo governo está fazendo.

Queda da USP em ranking mostra deterioração da imagem do Brasil

Explico. Uma universidade como Harvard (Boston, EUA) –6ª melhor do mundo no ranking de universidades THE e 1ª na listagem de Shangai– tem, em média, 20% de seus alunos vindos de outros países. São chineses, sul coreanos, sauditas, indianos, latinos.

Mais: Harvard, assim como as universidades de ponta no mundo, tem uma intensa política de prospecção de bons alunos, incluindo aqueles que não podem pagar pelo curso. A universidade visita escolas públicas, vai atrás de competições de empreendedorismo jovem, de olimpíadas internacionais de física e de matemática, busca os melhores estudantes em cursos on-line livres de plataformas como Coursera e EdX.

Se Harvard encontrar um bom estudante que não pode pagar pela taxa anual, que gira em torno de U$60 mil (cerca de R$200 mil), a universidade garante uma bolsa de estudos integral. O aluno tem direito às aulas, material escolar, moradia, alimentação e plano de saúde. É mais do que as nossas universidades públicas brasileiras oferecem por aqui.

Esse mix de boas cabeças diferentes, com diversos backgrounds, histórias de vida, culturas, religiões, orientação sexual e visões de mundo, forma turmas riquíssimas de alunos. Imagine uma sala de aula de um curso de medicina ou de economia que misture as melhores cabeças do mundo em diversas etnias, sexo e classe social? Pois é.

FACEBOOK

Os resultados são as melhores soluções para os problemas de nossa sociedade. É de universidades com foco em diversidade que saem ideias disruptivas como o Facebook, o LinkedIn, o Airbnb, o Uber e onde se formam os CEOs e líderes das principais instituições e empresas do mundo.

Por falar em empresas, muitas seguem a lógica das universidades norte-americanas ao formar seus quadros de liderança e conselhos. Há estudos que mostram que cúpulas heterogêneas deixam as empresas 25% mais produtivas do que aquelas formadas apenas por homens brancos –como tende a acontecer em cargos de liderança no setor produtivo mundo afora.

Agora vamos voltar ao Brasil. E vamos extrapolar. Se o novo governo fosse uma sala de aula de uma universidade, seria composta por alunos homens, brancos, com orientação política parecida e background bastante similar. São pessoas que enfrentaram os mesmos desafios e obstáculos, que fazem uma mesma leitura da vida. E que, consequentemente, têm pouca diversidade na solução de problemas. Basicamente, são pessoas que pensam igual.

A diversidade de pessoas em uma universidade, empresa ou governo é necessária não apenas para atender o movimento feminista, a demanda das minorias, a representação racial. Não é só isso. A diversidade é necessária para termos, afinal, diversidade na solução dos problemas, para aumentar a criatividade, a produtividade. E, parece-me, o Brasil está extremamente carente de boas, criativas e produtivas soluções.

 

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PUC-Rio está entre as universidades do mundo que mais recebem recursos privados para pesquisa https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/03/03/puc-rio-esta-entre-as-universidades-do-mundo-que-mais-recebem-recursos-privados-para-pesquisa/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/03/03/puc-rio-esta-entre-as-universidades-do-mundo-que-mais-recebem-recursos-privados-para-pesquisa/#respond Thu, 03 Mar 2016 23:38:28 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2438 A PUC-Rio, melhor universidade privada do país no último RUF, está entre as escolas do mundo que mais recebem recursos privados para pesquisa. A informação é de uma nova avaliação de universidades do THE (Times Higher Education).

A universidade carioca figura em 8º lugar no Funding for Innovation ranking (algo como “ranking universitário de fomento à inovação”), lançado nesta semana pelo THE.

De acordo com a listagem, a PUC carioca recebe, em média, U$204 da indústria por docente para fazer pesquisa e inovação. Isso acontece por meio de parcerias entre a escola e o setor privado brasileiro.

Para se ter uma ideia, a primeira colocada no ranking, a alemã LMU de Munique, recebe U$392 do setor privado por docente.

Essa é a primeira vez que o THE lança um ranking analisando especificamente a capacidade das universidades atraírem recursos privados. A consultoria listou 20 universidades de todo mundo –a PUC-Rio é a única escola latino-americana a aparecer no ranking.  Além da Alemanha e do Brasil, também há escolas de países como Turquia, Holanda, Coreia do Sul, China e África do Sul.

De acordo com o coordenador de rankings do THE, Phil Baty, “ter uma ligação forte com a indústria é essencial  para o sucesso de uma universidade”. Isso porque os recursos que vêm do setor privado reforçam a receita e “colocam a universidade no centro do desenvolvimento econômico”.

Além disso, para Baty, os recursos privados garantem uma certa independência do Estado –o que pode salvar a instituição em períodos de instabilidade e de cortes de recursos públicos.

BOM, MAS CALMA

Recursos privados sozinhos, no entanto, não são suficientes para garantir uma boa universidade.

Ao analisar aspectos mais amplos das escolas –como impacto da sua pesquisa científica, internacionalização e qualidade do corpo docente– a distância entre LMU de Munique e a PUC-Rio fica bem maior do que apenas sete casas.

De acordo com o último Ranking THE de Universidades, a LMU de Munique figura em 29º lugar entre as melhores do mundo. Já a PUC-Rio vai para o final da fila e fica entre 501-600º lugar.

As melhores universidades brasileiras no ranking geral de escolas do THE são USP e Unicamp, respectivamente. Ambas ocupam posições abaixo do 250º lugar na listagem mundial.

A PUC-Rio é a melhor universidade privada do país no RUF. A escola vai bem especialmente no indicador que avalia a “internacionalização” da universidade, um dos cinco quesitos analisados pelo RUF. Nesse indicador, está em 7º lugar no país.

Ainda de acordo com o último RUF, na análise específica de cursos, a PUC-Rio vai bem especialmente em computação, em economia, em matemática e em engenharia mecânica. Esses cursos estão entre os dez melhores do país em suas respectivas carreiras –considerando, aqui, escolas públicas e privadas.

 

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Sobre o ensino do assunto ‘morte’ na escola e a morte de minha mãe https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/02/16/sobre-o-ensino-do-assunto-morte-na-escola-e-a-morte-de-minha-mae-2/ https://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2016/02/16/sobre-o-ensino-do-assunto-morte-na-escola-e-a-morte-de-minha-mae-2/#respond Tue, 16 Feb 2016 19:56:25 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/?p=2401 Eu perdi minha mãe para um câncer há algumas semanas. Poucos meses antes de ela partir, enquanto ainda tentávamos alguns tratamentos, uma médica me chamou e disse que eu precisava me “preparar para sua morte.” É possível se preparar para a morte de alguém? Hoje, parece-me que sim e que esse processo pode passar pela escola.

Explico. Lidar com a morte de alguém que amamos é algo que envolve uma série de sentimentos bem complexos. Poderia listar um monte deles aqui, mas destaco alguns que têm me perseguido: frustração, sensação de impotência, raiva e tristeza são alguns deles.

Leia blog da Folha ‘Morte sem Tabu’

A literatura científica que tenho acompanhado sobre luto e perdas destaca que é assim mesmo, é normal sentir-se frustrado, impotente e triste. Tudo está dentro do esperado para enlutados. Dá para se preparar, então, para um processo que é, enfim, normal e inevitável?

Sim.

A capacidade de lidar com sentimentos como frustração tem a ver como o desenvolvimento de resiliência, que é a nossa “habilidade elástica”. É a nossa capacidade de superar uma situação difícil, esticar e voltar, claro, sem estourar.

Em alguns casos, como no luto, a resiliência inclui a capacidade de se adaptar a uma nova forma de vida. Quando a gente perde alguém, a vida nunca mais é a mesma. Tudo muda e você precisa se adaptar a uma nova história, uma nova forma de vida que vai sempre ter uma parte faltando.

A resiliência é uma habilidade chamada “não cognitiva”, que pode ser desenvolvida junto com outras, como capacidade de se comunicar, de resolver conflitos e de liderar situações.

Pois vejam que interessante: o desenvolvimento desse tipo de habilidade está sendo cada vez mais debatida por especialistas de educação. Quer ver? A avaliação internacional de educação Pisa, da OCDE, está estudando como avaliar aspectos não cognitivos dos alunos nos próximos anos. A prova vai medir o quanto os estudantes sabem de matemática, de ciências, de línguas e também a sua capacidade de resiliência, por exemplo.

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

Aqui no Brasil, já tem gente se preocupando com o desenvolvimento de habilidades não cognitivas –ou inteligência emocional– das crianças. Um dos projetos interessantes que encontrei é da ASEC (Associação pela Saúde Emocional de Crianças), uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve projetos que ajudam a desenvolver, na escola, habilidades como a resiliência.

Um dos projetos da ASEC, chamado Amigos do Zippy, trabalha com os alunos uma série de sentimentos como frustração e raiva por meio de uma história contada ao longo do ano letivo.

Zippy é um bichinho do personagem da história, um menininho. Juntos, menino e Zippy vão se deparando com um monte de situações e de sentimentos, que são discutidos pelos alunos na escola.

O menino sente ciúmes do tratamento que a mãe dá ao irmãozinho. Como lidar com isso? O menino se sente frustrado porque não pode levar o Zippy na escola. E agora? O menino está com raiva e briga com um amiguinho. Como resolver? Por aí vai.

As respostas para as questões do menino são trazidas pelos próprios alunos da escola. O pessoal da ASEC me contou, por exemplo, que em uma das escolas, os aluninhos sugeriram deixar duas carteiras em sala de aula para que os amiguinhos brigados possam se sentar para conversar e resolver o conflito. Não é sensacional?

PRECISAMOS FALAR SOBRE A MORTE

Bom, acontece que no final da história (atenção ao spoiler aqui!) o Zippy morre. É, ele morre. Muito triste. E, aí, nosso menininho personagem tem de aprender a lidar com a perda, com o luto e com tudo que vem junto com ele –justamente o que eu estou enfrentando agora.  No projeto, as crianças são convidadas a falar sobre a morte e, inclusive, a visitarem um cemitério. Vejam só!

Eu nunca falei sobre morte na minha escola (ou fora dela), nunca refleti sobre a capacidade de resiliência que precisamos ter para vencer um luto. Nunca sequer pensei sobre um luto e sobre os sentimentos que ele envolve.

Preparar-se para a morte, como me recomendava a médica lá atrás, é estar pronto para enfrentar uma perda e para superá-la. Dói, é difícil, mas é preciso ter instrumentos necessários para sobreviver. E isso, sim, pode e deve nos ser ensinado.

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